Ouvidos atentos
na Palavra de Deus.
Panjika
mukwawande, kanda upanjila phitcha jila.
Ouve o dono da lavra, não ouça o possuidor do
caminho.
Presta atenção ao que diz o dono da lavra, e não o
que diz quem passa pelo caminho.
“Ide, pois, e ensinai a todas as nações;
batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19) é o que
diz o Dono da lavra. Nestes dois anos e nove meses de presença missionária em
África, mais propriamente Angola, na província do Moxico, município de Alto
Zambeze, na paróquia de Santo António de Nana Kandundo (comunas de Cavungo,
Caianda e Lóvua) e a quase um ano na paróquia missão de São Bento em Cazombo,
podemos contemplar a força da Palavra do “Dono da Lavra”, pois a missão é de
Deus... vivenciar este mandato missionário
além fronteiras exige estar em sintonia constante com a Palavra de Deus, Ela é
força para nossos pés e luz para o Caminho que é Jesus: Caminho, Verdade e
Vida. O peregrino que passa pelo
caminho pode ter boas palavras também, há muitos homens e mulheres que são
exemplos na caminhada de Fé, porém, olhamos os testemunhos que deram por
escutar o Dono da Lavra.
O enriquecimento espiritual do
missionário é uma consequência natural da vivência em outras culturas. As
graças colhidas na convivência com os povos Luvale e Lunda Ndembo e com o clero
da diocese de Lwena nos ajudam a contemplar os dons divinos que fluem com
gratuidade nos projetos-sonhos que vamos tecendo em nossa colcha de retalhos
cultural.
A Palavra de Deus, Dono da Lavra, está
sendo partilhada nos Grupos de Reflexão que aqui passamos a chamar de Equipas
de Reflexão Bíblica, cresce devagar, mas com a saúde dos bebes que são
alimentados no seio materno e como as raízes das melhores árvores, “Mwana
makula, umumwena ku kupara; mutondo muwalumuka lusumba, wumwena um xina”. (Criança
a crescer, ve-se ao mamar; árvore a tornar-se lusumba, ve-se na base do tronco
- É pelo mamar que se conhece se uma criança atingirá a maturidade, é a base da
árvore que se verifica quando ela dá boa madeira.)
Cultivamos a devoção mariana através
da oração do Rosário ao redor da fogueira, oportunidade pra cultivar as
sementes do Verbo que estão em cada família, em cada comunidade, quando estamos
presente é momento de catequese e partilha das alegrias e tristezas, as
esperanças e angústias que estão na alma destes nossos irmãos e irmãs.
Oportunidade de dar a voz a cada
pessoa, mesmo que seja para rezar uma Ave Maria, afirmando, assim, a
importância e a necessidade de cada pessoa na comunidade de fé, oportunidade de
ensinar a espiritualidade católica numa região de minoria cristã e marcadamente
protestante, umas vez que estão aqui a mais tempo que a Igreja Católica.
Oportunidade para contemplarmos no rosto das pessoas, em suas vozes, no brilho
dos olhares refletidos da fogueira, a Graça de Deus que cada pessoa é para o
missionário, que por vezes tem em seu olhar outro reflexo, o das próprias
lágrimas, que como Maria, guarda também em seu coração. “A Igreja não cresce
por proselitismo, mas pela atração da força do amor” (DA, 174).
A contemplação é uma entrada graciosa no
sagrado de Jesus, deixando Jesus entrar no nosso sagrado. Ver tudo em Deus, eis
o coração da contemplação. É uma relação profunda com a compaixão de Jesus que
o discípulo leva ao outro, como anuncio fundamental para o encontro com Jesus,
“Coragem, levanta-te, Jesus te chama” (Mc 10,47). Com a contemplação, sobra a
nossa ida e uma força e inspiração do Espírito “Javé me deu a capacidade de falar como discípulo, para que eu saiba
ajudar os desanimados com uma palavra de coragem. Toda manhã ele faz meus
ouvidos atentos para que eu possa ouvir como discípulo (Is 50,4).
Ao ouvir a voz do Dono da Lavra o
peregrino está pronto para deslocar-se, deixar a sua terra, seus parentes e a
casa de seus pais. Neste caminho de fé, o peregrino deve deixar todos os laços
e dependências - uma verdadeira libertação interior. É um caminho de uma
espiritualidade missionária que fortalece o novo chamado de Deus na sua vida. “Há um povo escondido
no coração do viajante” (Engenheiros do Hawai – Melhor assim - Tchau Radar). No coração, cada
pessoa decide o rumo de sua vida. O encontro com o Deus de Jesus no coração
abre o caminho para uma vida feliz e santa. Deus trabalha na transformação do coração
humano (Ez 36, 25-27; Jr 31,33). Contudo, não somos nós que produzimos o novo,
mas o novo não será jogado aos nossos pés sem nossa participação.
As celebrações Eucarísticas são de
grande simplicidade, muita alegria, danças...sensibilidade própria dos povos
africanos. Basicamente celebramos em português, pois, sentimos que nossa missão
pode ajudar no crescimento cultural e dar mais dignidade a estes povos, uma vez
que em outros lugares do pais, quem não sabe a língua oficial, o português, é
discriminado. Fazemos a inculturação durante a celebração, as leituras são
proclamadas em língua nacional (aqui Luvale ou Lunda Ndembo) e algumas orações
onde todos participam, também os cânticos são em língua nacional.
Peregrinar
nas estradas, florestas, rios, pontes é uma aventura, por vezes cansativa, mas
gratificante ao sentir o calor da acolhida a vibração do estar junto, acolher o
que de melhor cada comunidade pode oferecer (casa, cama, comida, água, um
tambwokeno mwane, shikeno mwane (seja bem vindo, em luvale e lunda, repetido
várias e várias vezes) é a Eucaristia Viva, hóstia santa e agradável a Deus que
revitaliza todo cansaço e fadigas das distâncias, dividimos assim a carga. Mukamba kexi ha kuhuka, welo ha kumulongeza. (A mandioca não
tem problema ao colher, o problema está em fazer a carga.)
Deus pode fazer grandes coisas em nós e
de dentro de nós, pois para Deus nada é impossível. Uma fé confiante nunca
coloca limites a Deus. Como Deus escolheu uma menina simples e comum de Nazaré
para fazer o impossível acontecer, assim, Ele nos escolhe na nossa fraqueza e
pequenez e apesar das nossas limitações, para fazer, por meio de nós, um mundo
melhor, salvo e feliz. Jesus quer tomar forma também em nós. Vamos eucaristizar
o mundo do jeito de Maria. Coragem!
Tumenu Mwata vakakuzata vamalunga namapwevo muwande
wenu.
Mwomo Wande wenu waunene vakakuzata vamalunga
namapwevo vavandende.
Envai Senhor trabalhadores, homens e mulheres para
sua Lavra.
Pois a Lavra é grande, e os Trabalhadores homens e
mulheres são poucos.
Pe. Renato Dutra Borges, SDN – Kapilishito Kahilo,
SDN
Paróquia Santo
António de Nana Kandundo
Angola, Alto
Zambeze - Cavungo