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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

sintese do livro VARIAÇÕES SOBRE O PRAZER - Rubem Alves


Variações sobre o prazer



                  
         Rubem Alves



Pois é isso que a poesia faz: ela nos convida a andar pelos caminhos de nossa verdade, os caminhos que mora o essencial. Se as pessoas soubessem ler poesia é certo que os terapeutas teriam menos trabalho e talvez suas terapias se transformassem em concertos de poesia.

O fato é que, sem que o saibamos, todos nos estamos enfermos de morte e é preciso viver a vida com sabedoria para que ela, a vida, nao seja retratada pela loucura que nos cerca.

Como tenho raiva de Saint-Exupéry _ "tornamos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos..." mas isto nao é terrível? Ser responsável por tanta gente? Cristo, por amar demais, terminou na Cruz. Embora nao saibamos, o amor também mata.

Então, abandonar o amor? Nao. Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge.

Nao há tempo para tudo.

Nao poderei escutar todas as musicas que desejo,

Nao poderei ler todos os livros que desejo,

Naompoderei abraçar todas as pessoas que desejo,

É necessário aprender as arte de abrir mão - para nos dedicarmos ao que é essencial.

Há coisas que que so poderei gozar na solidão. Ninguém é obrigado a gostar das musicas que amo. Entrando neste mundo, gozarei de abençoada solidão, lugar bom para se ouvir música assim e guiando carro sem ninguém para conversar.

Mas quero meus amigos, nao do jeito de Roberto Carlos, que queria um milhão de amigos. Nao é possível ter um milhão de amigos. Quero meus poucos amigos.

Amigos: pessoas em cuja presença nao ē pedido falar...

Somos dominados pelo fetchismo do livro. O que o livro diz tem quer melhor que aquilo que penso. Schopenhauer advertiu os leitores de que, "quando Lemos, outra pessoa pensa por nos: só repetimos seu processo mental. [...] dai se segue que aquele que lê muito ou quase o dia inteiro, e que nos intervalos se entretêm com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria. Esse é o caso de muitos eruditos: leram ate ficarem estúpidos."


Na busca do conhecimento a cada dia se soma algo
Na busca do caminho da Vida a cada dia se diminui algo
Tao-Te-Ching

Eu nao quero prazer eu quero alegria - a insustentável leve do ser Milan Kundera

O corpo nao se contenta com prazer.

A teologia de santo Agostinho se constrói sobre este vazio que se segue ao prazer. Depois de esgotado o prazer, existe na alma, a nostalgia por algo indefinível.
Que indefinível é este que se encontrado nos trará alegria?



Sobre o prazer

1 o prazer só acontece se o corpo tiver posse do seu objeto. O prazer do sorvete so existe se houver um sorvete a ser lambido. O prazer do suco de pitanga só existe se houver suco de pitanga a ser bebido. O prazer do beijo só existe se houver a pessoa amada a ser beijada.

2 o prazer se farta logo. Quantos sorvetes sou capaz de tomar antes que ele se torne de objeto de prazer em causa de sofrimento? Quantos copos de suco de Pitanga sou capa de tomar antes que o corpo diga: "Nao agüento mais!?" Quantos beijos se pode dar na pessoa amada antes de enjoar? O prazer tem Vida curta.

O evangelho do prazer reza: "Bem aventurados os que tem fome, porque serão fartos".


Sobre alegria
1 a alegria nao precisa de posse do objeto desejado para existir. Lembro-me do rosto de um amigo, ele já morreu mas me tras alegria, junto com uma pitada de tristeza. Sentimos alegria lendo uma obra de ficção, um objeto que nunca existiu pode nos trazer alegria... Que somos nos sem o socorro das coisas que nao existem? Que seres estranhos nos somos, capazes de nos alegrar comendo frutos inexistentes!
2 a alegria nunca se farta. A alegria pe mais alegria. Alegria é fome insaciável. Da alegria nunca se diz "Estou satisfeito!", "Chega! "
O evangelho da alegria é diferente da evangelho do prazer: "Bem aventurados os que tem fome, porque terão mais fome".
Mas vez por outra, a alegria e o prazer acontecem juntos. Quando isso acontece, o corpo experimenta uma efêmera epifania do paraiso: o divino se fez carne...

Vejo pessoas comendo frutas por razoes dietéticas racionais quando elas estao doentes... Coma que faz bem... Mas eu nunca comi um fruta em obediência ao imperativo categórico kantiano. Nunca comi uma fruto por motivos racionais. Nao como frutas por razoes dietéticas. Como frutas por razoes estéticas: por puro prazer. Cada fruta tem um prazer diferente. Erotica dos olhos, dos cheiros, do tato, do gosto

Sao gestos de sedução. O meu desejo é que você venha a gostar das mesmas coisas que meu corpo gosta. Toda escrita é uma tentativa de sedução.
Comer uma fruta é uma alegria. Nao foi por acidente que os escritores sagrados, profundos conhecedores da alam humana, escolheram uma fruta como lugar onde os deuses depositaram o seu saber. O saber dos deuses é comestível, saboroso, é sapientia.


Primeira variação - TEOLOGIA- Santo Agostinho
Na feira da fruição estão os objetos que dão prazer: sua posse nos torna felizes.

Como Sao estes objetos? Bons por si mesmos, sem mediações

Fluir uma coisa é amar esta coisa por causa de si mesma

Diligere propter se

Usar uma coisa é por outro lado, utliza-lá para se obter uma outra coisa

Diligere propter aliud

Quando uma coisa é usada para se obter outra, diz-se que ela é útil.

Tudo se justifica pela utilidade

Na feira da fruição moram os sábios, os degustadores, aqueles que transformam os objetos em partes do seu próprio corpo. Degusto: nao exercito poder sobre o objeto.

Abandono-me a ele. Entrego-me. Deixo que ele faça amor clom meu corpo. Saborear efetuaras o experiências amorosas. Nao desejo conhecer, ocular intelectualmente, um objeto distante do corpo, para assim exercer por sobre ele

Nada de poder, o máximo de sabor

Conhecer o objeto por aqui que ele faz em mim. Ele entra em mim

Deus nao se dá nos sentidos. O que ele da a nossos sentidos é o paraiso, o jardim.



Segunda variação - FILOSOFIA - Nietzche

Pensar é dançar com os pensamentos

As palavras fazem amor, elas perfaçam ao mundo do deleite, da fruição

Acredito num Deus que dança

Todo criador tem que ser um destruidor

" A semelhança das largaras que escondem nas folhas mais belas para nela botar seus ovos, escolhem as nossas alegrias mais belas para nelas botar suas maldições" Willian Blake - the portable Blake -

comigo é diferente quando toco minha flauta, os monstros se põe a rir.

Dentro de todos os íamos levo dentro. Mim o meu Sim abençoante.

Alegria é prova dos nove... Sempre que se encontra alegria pode-se saber que a beleza se mostrou.

É preciso estar na eminência de perder as coisas para tomar consciência delas. A possibilidade de perder aguça a capacidade de sentir o gosto.

Para se enfrentar o trágico é preciso que o corpo esteja possuído pela beleza.

A vida é uma fonte de alegria, mas ali, onde a plebe também bebe, todas as fontes ficam envenenadas.

A plebe estes últimos homens, eles dizem ter inventado a felicidade. Pensam que felicidade e ficar assentados num charco, onde os naufrágios Sao impossíveis. Pensam que felicidade é conforto. Sonham com a "terra da Cocanha", terra onde o vinho corre no leito dos rios, as paredes das casas sao feitos de bolo, e os leitões e aves assados correm para a boca dos preguiçosos. Engordam indolentes e estréies, só a sombra das arvores, incapazes de ficar grávidos e dar a luz. Jamais sobem as montanhas, jamais se arriscam pelos desertos, jamais navegam por mares desconhecidos... Minha felicidade é outra, ha uma felicidade que só se experimenta quando se vive. Viver perigosamente, construir casas debaixo do Vesúvio! Enviem seus navios aos mares desconhecidos!


Vivam em guerra com seus iguais e com vocês mesmos? Sejam ladroes e conquistadores...! Eu preciso de risos, de dança, de beleza. Por isso eu conto parábolas, faço aforismos, escrevo com sangue.



Terceira variação ECONOMIA - Marx

o dinheiro possui os atributos da divindade: ignora o tempo, é eterno.

Estudei a panela para ver o adegava acontecendo de errado com a comida.

A economia explica a riqueza das nações. Mas ela nao consegue dar explicação aceitável para a miséria e a pobreza dos homens.

Se o problema dos homens foi criado na historia, teria de ser nela que seriam resolvidos. Para desfazer o nó é preciso saber como ele foi produzido.

Tornei-me inimigo dos sonhadores ingênuos que pensam que bastaria que os homens mudassem suas idéias para que o mundo também mudasse. Moquecas nao se fazem só com odeias e intenções. Quem quer mudar o mundo tem que ser especialista no uso do fogo. Na historia, esse uso do fogo tem o nome de política...
Estudei porque queria desvendar os segredos da cozinha perversa onde os cozinheiros ficam sempre com fome.

Quanto menos você for, tanto mais você terá

O prazer dependera de uma qualidade espiritual minha, do meu ser, uma sensibilidade para a musica, que nao pode ser comprada com dinheiro. É preciso que os sentidos sejam educados! O prazer e a lastros crescem de uma relação Erotica com o objeto, isso que se chama amor. E essa relação nao pode ser comprada. Cresce de dentro.



Quarta variação - CULINÁRIA - Babette

Filmes- a festa de Babette e Como água para chocolate

O nutricionista ao preparar um Jantar, se pergunta sobre o equilíbrio cientifico dos variados componentes alimentastes que riso compor a refeição. Pondera as utilidades: vitaminas, proteínas, carboidratos. Cozinha para alimentar quem come. Deseja matar a fome de quem come.

Seu evangelho reza: "bem aventurados os que tem fome porque serão fartos"

A cabeça da cozinheira funciona ao contrário. Nao considera vitaminas, carboidratos e proteínas. Sua imaginacao esta cheia de sabores. Sonha com os efeitos que os sabores irao produzir no corpo de quem come. Nao quer matar a fome. O que ela deseja e fazer amor com quem come, atraves do sabores. Quando a fome esta satisfeita, o festival de amor chegou ao fim.

Seu evangelho seria:

"bem aventurados os que tem fome porque terão mais fome"

A cozinheira deseja que seu convidado morra de prazer!

"nao quero faca nem queijo. Quero é fome" Adelia Prado - Poesia reunida

O que cozinhar? Sua decisão exige um conhecimento que nao que nao se encontra em livros. Ela tem ser uma advinha: precisa conhecer o desejo de quem vai comer, a sua geografia Erotica, as curvas onde o seu prazer despias. Matar a fome é fácil. Qualquer angu com feijão faz isso. O que se pretende nao e matar a fome. É o contrário: provoca-lá. O que os amantes buscam, na erotizacao dos seus corpos, nao é o orgasmo e, com ele, a morte do desejo. O que eles desejam é a alegria de ver crescer a fome do outro.

Ao amor nao bastam os símbolos, ele que a coisa.

Para o corpo o sabor e a prova dos nove

A vontade só existe on existe vida, nao há vontade de vida, mas vontade de poder. Vontade de poder é aquela que traz alegria

O diabo é poder sem amor, Deus é amor sem poder.

A inteligencia, sempre que nao esta envolvida em algum caso amoroso, o que a torna em tudo a bela adormecida, que só acorda quando tocada pelo beijo do amor.

Inteligencia é uma serviçal que nao acorda com violencia. Gritos e barulho Sao incapazes de desperta-lá de seu sono. Basta que o amor a toque suavemente para que acorde de seu sono e se ponha a trabalhar furiosamente.

Quando o poder se torna gracioso e desce ate o visível, a essa descida eu dou o nome de beleza.

Pensar é estar doente dos olhos.

De vez em quando Deus me tira a poesia, olho pedra e vejo pedra mesmo. Adelia Prado

O que se percebe nao é nada comarado com o que se imagina. Barchelard

O fruto do paraiso é magia negra, o inicio do enfeiticamento do homem. O corpo e o sangue de Cristo sao magia branca, ritual culinário antropofágico que da inicio a salvação do homem.
A eucaristia é uma comida que se come para que os olhos se abram, prazer na boca que da prazer nos olhos: a beleza. No paraiso, o ver é igual ao comer.

Saudade é fazer comida para o filho que vai chegar... Ai que saudade boa! É prezeiroso preparar o prazer.

Ela se alimentava da alegria daqueles que iriam comer.
Aquele que ama e sonha nao deseja descansar. Cada minuto de descanso é um minuto a mais de separação. O soo desconhece os limites da canseira e do sofrimento. Movido pelo amor o corpo se dispõe a tudo! O sonhador apaixonado nao tece a preguiça.
Dos grandes prazeres nasce o trabalho e a disciplina porque eles só podem ser encontrados ao fim de um ardo camiho.
Preguiça - dar uma resposta, satisfazer a instituição, mas uma resposta lenta.

O desejo torna o comando desnecessário. O comando só e necessário quando o desejo esta ausente.



O homem verdadeiramente bom nada faz

E nada fica feito

O tolo faz coisas o tempo todo

E, entretanto, muito fica sem que seja feito.

Tao-Te-Ching

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