A FORÇA DA PALAVRA OUVIDA E ANUNCIADA
Não são palavras
que possam ser ouvidas, mas seu som ressoa e se espalha por toda terra... (Sl 19,5)
Quando
desejamos aprender procuramos lugares seguros para obter informação e formação
de confiança, instituições com qualidade comprovada, livros e enciclopédias
consagrados... todo este saber torna a pessoa especialista em determinados
assuntos.
O que aprendi na convivencia com alguns povos angolanos
estão em outra dimensão de conhecimento, vivemos sobre o poder da
racionalidade, outra compreeensao logica do tempo e do espaco, estar atento ao
“molho” cultural em que se esta inserido é fundamental para apreender valores e
refletir sobre a cultura que me formou ou formatou.
Com estes artigos pretendo partilhar vivencias
que acolhi na apredizagem com pessoas e situações para cultivar a proximidade
de Deus e das pessoas, pois partilhar a missao aquece o coração.
Ao
longo de 06 anos (2012 a 2017) pode conhecer e participar de momentos unicos de
aprendizagem oferecidas por estas situações dramaticas, engraçadas e
profundamante espirituais. Em cada convivio, em cada perscepção do olhar, em
cada palavra ouvida ou promunciada numa cultura que não é a nossa de origem,
acontece um novo, um maravilhar-se pela simplicidade e facilidade deste novo
aprendizado recebido ou transmitido
A
revolução cultural que arancou da tradição oral a primasia da transmissao do
conhecimento, gestou e pariu uma forma de aprendizagem “bancaria”, onde posso
depositar todo conhecimento em um acumulado de folhas de papel, pois esta
seguro e ninguem pode ensinar de forma diferente, pois já parte do presuposto
que pensar diferente do livro já é errado.
Na
transmissão do conhecimento da tradição oral percebe-se que o mais importante é
mesmo o individuo, a pessoa, sendo portador de uma mensagem decorada (decoração
– de coração) leva ao coração do outro, transmite mais que palavras presas no
papel , mas tem possibilidade de transmitir o imaterial, o sentimento e a
emoção da força que cada palavra tem e carega dentro dela mesma.
Instruir
uma pessoa nesta forma de transmissão demanda tempo e desejo. Inculcar
conhecimento, valores e tradições exige repetição, era o método de ensino das
culturas de tradição oral, uma repetição que inspirava a guardar as palavras
como um jogo, um delicado jogo da verdade e sensibilidade que estao além da
repetição mecanica de frases ordenadas.
Na
tradição angolana aparece a figura do “ngueji”, (mensageiro) o que trouxe a
mensagem ou foi enviado a mensagem. (Os missionários recebem também este nome,
pois são portadores da mensagem de Deus para este povo).
O
que é de grande importancia para o missionario é a capacidade de ser ouvido,
ter a palavra multiplicada e compreeendida pelos destinatários de sua missão.
Conseguimos muitos semeadores/multiplicadores destas palavras, pois onde temos
nossa missão, os meios “modernos” de comunicação ainda não chegaram, a
“mensagem” enviada como carta se transforma em documento, extensão da própria
pessoa que escreveu, com o poder de gerar proximidade e segurança atraves
daquelas palavras...
Por
muitas vezes recebi estes mensageiros na casa paroquial, vindos das nossas
comunidades, das mais perto cerca de 20 km
as mais distantes 150 km, trazendo mensagens escritas, (por não saber
falar portugues) ou mensagem falada. “Senhor padre, tenho uma mensagem para
vós”, esta é a expressao usada para aproximar, logo após se apresenta. Mensagem
entregue, o ngueji fica esperando a resposta para levar de volta a sua
comunidade ou a pessoa que o enviou.
Quando
ocorre um encontro entre duas pessoas que são portadoras desta cultura oral
acontece ao belo, a partilha de vida, dos fatos, das estruturas... o mujimbo,
notícia sobre o que ocorreu durante a ausencia de uma pessoa, a atualização se
faz de maneira pausada e com expressões de agradecimento por tais informações
partilhadas, quando aqueles dois seguem os caminhos que a história lhes
oferece, encontram outras pessoas e lhes oferecem o mujimbo acrescentado por
aquele encontro anterior, assim as informações e conhecimentos são transmitidos
com grande naturalidade e simplicidade.
Resgatar
a importancia da presença física das pessoas pela força da palavra dita e
ouvida é uma necessidade urgente para nosso tempo, tao recortado pela frieza
das telas dos smartfones, que só conhecem o calor da bateria, sem calor humano
iradiado desta fonte.
Influenciados
pelo tempo e por outras formas de interesse humano as mensagens verbais também
vão perdendo valor nestas culturas, pois a confiança na palavra da pessoa esta
prejudicada pela quantidade de informação ou de pessoas que desejam aparecer e
por isso aparecem as notícias falsas, fazendo desabar toda uma tradição
cultural milenar e saudável que fez tal cultura pernanecer até nossos
dias.
A
religião contribui muito para que está tradição da palavra dita e ouvida esteja
presente em nosso meio, grande fruto das Comunidades Eclesias de Base, é este
poder de dizer a própria palavra e ouvir
a palavra do outro para estabelecer compromissos comuns pela força da palavra
partilhada... resistir pela fé nos torna profetas da escuta e da fala, profetas
da presença, profetas da atenção a pessoa concreta, fazendo resoar a força da
Palavra com nossas atitudes.