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quarta-feira, 4 de abril de 2018


A FORÇA DA PALAVRA OUVIDA E ANUNCIADA

Não são palavras que possam ser ouvidas, mas seu som ressoa e se espalha por toda terra... (Sl 19,5)

Quando desejamos aprender procuramos lugares seguros para obter informação e formação de confiança, instituições com qualidade comprovada, livros e enciclopédias consagrados... todo este saber torna a pessoa especialista em determinados assuntos.
 O que aprendi na convivencia com alguns povos angolanos estão em outra dimensão de conhecimento, vivemos sobre o poder da racionalidade, outra compreeensao logica do tempo e do espaco, estar atento ao “molho” cultural em que se esta inserido é fundamental para apreender valores e refletir sobre a cultura que me formou ou formatou.
 Com estes artigos pretendo partilhar vivencias que acolhi na apredizagem com pessoas e situações para cultivar a proximidade de Deus e das pessoas, pois partilhar a missao aquece o coração.
Ao longo de 06 anos (2012 a 2017) pode conhecer e participar de momentos unicos de aprendizagem oferecidas por estas situações dramaticas, engraçadas e profundamante espirituais. Em cada convivio, em cada perscepção do olhar, em cada palavra ouvida ou promunciada numa cultura que não é a nossa de origem, acontece um novo, um maravilhar-se pela simplicidade e facilidade deste novo aprendizado recebido ou transmitido 
A revolução cultural que arancou da tradição oral a primasia da transmissao do conhecimento, gestou e pariu uma forma de aprendizagem “bancaria”, onde posso depositar todo conhecimento em um acumulado de folhas de papel, pois esta seguro e ninguem pode ensinar de forma diferente, pois já parte do presuposto que pensar diferente do livro já é errado.  
Na transmissão do conhecimento da tradição oral percebe-se que o mais importante é mesmo o individuo, a pessoa, sendo portador de uma mensagem decorada (decoração – de coração) leva ao coração do outro, transmite mais que palavras presas no papel , mas tem possibilidade de transmitir o imaterial, o sentimento e a emoção da força que cada palavra tem e carega dentro dela mesma.
Instruir uma pessoa nesta forma de transmissão demanda tempo e desejo. Inculcar conhecimento, valores e tradições exige repetição, era o método de ensino das culturas de tradição oral, uma repetição que inspirava a guardar as palavras como um jogo, um delicado jogo da verdade e sensibilidade que estao além da repetição mecanica de frases ordenadas.
Na tradição angolana aparece a figura do “ngueji”, (mensageiro) o que trouxe a mensagem ou foi enviado a mensagem. (Os missionários recebem também este nome, pois são portadores da mensagem de Deus para este povo).
O que é de grande importancia para o missionario é a capacidade de ser ouvido, ter a palavra multiplicada e compreeendida pelos destinatários de sua missão. Conseguimos muitos semeadores/multiplicadores destas palavras, pois onde temos nossa missão, os meios “modernos” de comunicação ainda não chegaram, a “mensagem” enviada como carta se transforma em documento, extensão da própria pessoa que escreveu, com o poder de gerar proximidade e segurança atraves daquelas palavras...
Por muitas vezes recebi estes mensageiros na casa paroquial, vindos das nossas comunidades, das mais perto cerca de 20 km  as mais distantes 150 km, trazendo mensagens escritas, (por não saber falar portugues) ou mensagem falada. “Senhor padre, tenho uma mensagem para vós”, esta é a expressao usada para aproximar, logo após se apresenta. Mensagem entregue, o ngueji fica esperando a resposta para levar de volta a sua comunidade ou a pessoa que o enviou.
Quando ocorre um encontro entre duas pessoas que são portadoras desta cultura oral acontece ao belo, a partilha de vida, dos fatos, das estruturas... o mujimbo, notícia sobre o que ocorreu durante a ausencia de uma pessoa, a atualização se faz de maneira pausada e com expressões de agradecimento por tais informações partilhadas, quando aqueles dois seguem os caminhos que a história lhes oferece, encontram outras pessoas e lhes oferecem o mujimbo acrescentado por aquele encontro anterior, assim as informações e conhecimentos são transmitidos com grande naturalidade e simplicidade.
Resgatar a importancia da presença física das pessoas pela força da palavra dita e ouvida é uma necessidade urgente para nosso tempo, tao recortado pela frieza das telas dos smartfones, que só conhecem o calor da bateria, sem calor humano iradiado desta fonte.
Influenciados pelo tempo e por outras formas de interesse humano as mensagens verbais também vão perdendo valor nestas culturas, pois a confiança na palavra da pessoa esta prejudicada pela quantidade de informação ou de pessoas que desejam aparecer e por isso aparecem as notícias falsas, fazendo desabar toda uma tradição cultural milenar e saudável que fez tal cultura pernanecer até nossos dias.
A religião contribui muito para que está tradição da palavra dita e ouvida esteja presente em nosso meio, grande fruto das Comunidades Eclesias de Base, é este poder de dizer a própria palavra  e ouvir a palavra do outro para estabelecer compromissos comuns pela força da palavra partilhada... resistir pela fé nos torna profetas da escuta e da fala, profetas da presença, profetas da atenção a pessoa concreta, fazendo resoar a força da Palavra com nossas atitudes.