História do medo no ocidente (1300 – 1800)
Jean Delumeau
Não temos história do amor, da morte, da piedade, da crueldade, da
alegria.” A queixa do historiador Lucien Febvre, em 1948, muito repetida desde
então, tornou-se quase um manifesto da disciplina que se convencionou chama a
“história das mentalidades”. Uma das lacunas que o fundador da escola dos
Annales deplorava foi preenchida pela História do Medo no Ocidente, obra de
1978 e já hoje um clássico.
Ao tornar objeto de
estudo o medo, Jean Delumeau parte da ideia de que não apenas os indivíduos mas
também as coletividades estão engajadas num dialogo permanente com a menos
heroica das paixões humanas. Revelando-nos os pesadelos mais íntimos da
civilização ocidental do século XIV ao XVIII – o mar, as trevas, a peste, a
fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e seus agentes – o grande pensador francês
realiza uma obra sem precedentes na historiografia do Ocidente.
Se não se
consegue afastar completamente o medo para fora de seus muros, ao menos
enfraquecê-lo o suficiente para que possa viver com ele.
Divide-se
em duas partes
Os
medos da maioria na primeira parte e a Cultura dirigente do edo numa segunda
parte.
A leitura torna-se agradável a partir
do primeiro capitulo e prossegue assim ate o seu final. O nível de literatura
não é denso e nem exigente demais, sendo que qualquer leigo pode ler sem
praticamente nenhum problema por ser de fácil compreensão e envolvimento com o
tema.
As civilizações estão
comprometidas num diálogo constante com o medo. Trata-se de colocar em seu
lugar um complexo de sentimentos que, considerando as latitudes e as épocas,
não pode deixar de desempenhar um papel capital na história das sociedades
humanas para nos próximas e familiares.
Três limites do trabalho
1 - Não se trata de construir a história a partir
do “exclusivo sentimento de medo”
2 - Fronteiras de tempo e espaço 1348 a 1800
3 - setor geográfico da humanidade do Ocidente
Por que o silêncio prolongado
sobre o papel do medo na história?
Sem duvida, por causa de uma confusão mental
amplamente difundida entre medo é covardia, coragem e temeridade.
A palavra medo está carregada de
tanta vergonha que a escondemos. Enterramos no mais profundo de nós o medo que
nos domina as entranhas.
“O medo é a prova de um nascimento
baixo” Virgílio, Eneida IV
“A pobreza do povo é a defesa da
monarquia... a indigência e a miséria eliminam toda coragem, embrutecem as
almas, acomodam-nas ao sofrimento e à escravidão e as oprimem a ponto de
tirar-lhes toda energia para sacudir o jugo”. Thomás More
O medo nasceu com o homem na mais
obscura das eras e acompanha-nos por toda nossa existência. Jakov Lind
Os homens usam amuletos, os animais não...
Quando nasci minha mãe deu luz gêmeos, meu irmão
gêmeo é o medo!
Quem quer que seja presa do medo
corre o risco de desagregar-se. Sua personalidade se desfaz, a impressão de
reconforto dada pela adesão ao mundo desaparece; o ser se torna separado,
outro, estranho. O tempo para, o espaço encolhe.
Os antigos viam no medo um poder
mais forte do que os homem, cujas graças podiam ser ganhas por meio de
oferendas apropriadas, desviando então para o inimigo sua ação aterrorizante.
O medo tem um objeto determinado
aniquilar se pode fazer frente. A angústia não o tem e é vivida numa espera
dolorosa diante de um perigo tanto mais terrível quanto menos claramente
identificado: é um sentimento global de insegurança. Desse modo, a angústia é
mais difícil de superar que o medo.
O ocidente venceu a angústia
“nomeado”, isto é, identificando, ou até fabricando medos particulares
Três formas de superação do medo no ocidente. Esquecimentos, remédios e audácias. Dos
paraísos aos fervores místicos, passando pela proteção dos anjos da guarda e
pela de São José, patrono da boa morte. Percorreremos ao final um universo
tranquilizador onde o homem se liberta do medo e se abre para alegria.
Pode parecer desanimador e ate mesmo
intimidador com as suas 700 paginas, discorrendo sobre um único tema, que é a
historia do medo. Mas observando-se o índice, podemos notar que contem uma
ampla diversidade de assuntos, cada qual abordado de forma apropriada e sem
perder o fio da meada.
Aborda muitos aspectos como a peste, a Idade Média, o comportamento dos
homens de antigamente, as personalidades e os seus retratos psicológicos, as
doenças, a morte, as guerras, os boatos e sedições, as revoltas, a fome, os
demônios, a Inquisição, os muçulmanos, a Conquista das Américas, a
cristianização dos povos, heresias, bruxarias, superstições, etc. Enfim,
podemos dizer que aborda uma ampla gama de assuntos, com vastas referencias
bibliográficas.
A leitura é altamente esclarecedora sobre vários eventos obscuros da Idade
Media, do qual não tínhamos conhecimento nenhum. Por exemplo, o medo do
Apocalipse e o Juízo Final que dominou a mentalidade europeia dos séculos XIV
até o XVII, que acabou influenciando a História em seu curso quando da Reforma
Protestante (e em certa medida podemos observar esses comportamentos ainda
hoje), ou então o medo excessivo de Satanás, que também acabou por influenciar
o curso da Conquista das Américas.
E também temos interessantes relatos de como surgiu o antissemitismo na
Europa, que era esparso e raro até o seculo XII, no qual passou a se
intensificar a partir do século XIV, em que esse antijudaismo se tornou
“unificado, teorizado, generalizado e clericalizado”. Podemos ver como se
originaram os guetos, o que foi feito contra os judeus, como surgiram as
desculpas para os massacres e progroms, as justificativas religiosas, quem
foram os perseguidores, etc. Dado relevante é o impulso antissemita na Europa
que foi dado pelos protestantes com as obras “Contra os judeus e suas mentiras”
e “Shem Hemephoras”, escritas por nada menos que o Martinho Lutero. E parte
dessas perseguições culminaram no Holocausto de nosso século XX.
Uma outra coisa que eu considero bastante útil é o tratamento dado às
mulheres que sofreram e muito nas mãos dos europeus durante os séculos XII a
XVIII.
A leitura é altamente recomendável para quem gosta de ler sobre Historia,
aprender mais sobre o nosso passado, a influencia desses tempos medievais na
construção da moderna sociedade atual e a formação do caráter da civilização
Ocidental
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