Amém é a palavra mais importante da Liturgia
Pe. Busch
Amém é a palavra mais importante que um batizado pronuncia. Importante, porque ela não é apenas um som, e na Liturgia não é feita apenas de letras. É uma palavra em hebraico, que no correr dos tempos, as diferentes línguas tentaram traduzir, mas nenhuma conseguiu. No português, por exemplo, é traduzida como "Assim seja!", como se disséssemos "Eu não gostaria, mas é o jeito.... Paciência! Então, que assim seja!..." A Liturgia, celebrada na sua plenitude, sempre conserva a original, porque ela é realmente dita como a melhor vasilha para receber o conteúdo próprio, que é a vida.
Santo Agostinho diz que o Amém é a palavra mais importante da Liturgia, pois ela é a nossa assinatura. Quando eu pronuncio o Amém na Liturgia, estou assinando, estou dizendo "Sim, sou eu que estou aí.... eu aceito... eu me envolvo.... eu me comprometo... eu entro nessa... eu me lanço inteiro - Amém!
AMÉM! Para alcançarmos isto, é preciso perceber que o conjunto da nossa Liturgia se desenvolve sob a forma de um grande ritual, composto de ritos menores, que se articulam e formam uma grande unidade. O que é que significa um ritual, um rito? Originariamente, esses termos designam uma ordem, uma seqüência ritmada - rito e ritual lembram muitas vezes um comportamento social repetitivo e esteriotipado. Entretanto, essa primeira noção precisa ser complementada, compreendida... Ou seja, um rito ou ritual necessita do seu conteúdo simbólico. Sem este, nenhum ritual faz sentido, tornando-se uma simples seqüência repetitiva, esteriotipada e vazia, perdendo sua razão de ser. Portanto, é o conteúdo simbólico que dá sentido ao rito.
Em se tratando da Liturgia Católica, podemos comparar o rito a uma vasilha com o seu conteúdo. Rito, ritual , na nossa Liturgia, não é vasilha vazia, mas plena de conteúdo. A VASILHA SIGNIFICA A PARTE EXTERNA DO RITO, AQUILO QUE A GENTE PODE VER, OUVIR, TOCAR... E O CONTEÙDO SIGNIFICA A PARTE INTERNA DO RITO, QUE È EXPRESSA NO SEU SIMBOLISMO. Assim, o rito, na Liturgia da Igreja, compõe-se de dois elementos: o externo e o interno.
O importante é a participação interior, que se exprime exteriormente, no rito. As vasilhas - parte externa; o conteúdo - parte interna. O elemento externo, o rito, funciona como uma vasilha, na qual se coloca o elemento interno. E qual é esse elemento na Liturgia da nossa Igreja? É feito da vida, das vidas, das pessoas participantes.... E quem são as pessoas participantes da Liturgia? Quem são os componentes dos ritos e do grande ritual? Em primeiro lugar, são as Pessoas Divinas, e depois, as pessoas humanas. Se não compreendermos isso, podemos ter a tentação de transformar a Liturgia em ato ritualista simplesmente. Os participantes dos ritos, do conteúdo que colocamos nas vasilhas, são a vida das Pessoas Divinas e das pessoas humanas que estão envolvidas no determinado rito. São elas as protagonistas do ato litúrgico. Em primeiro lugar, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e depois os seres humanos, a começar pelas pessoas incorporadas em Jesus Cristo pelo Batismo, até a totalidade dos redimidos pelo Filho de Deus. Nesta porção de pessoas humanas estamos nós, destacados pela presença física naquela Celebração; mas além de nós, são todas as pessoas do mundo inteiro, incorporadas em Jesus pelo batismo, e a totalidade dos redimidos pelo Filho de Deus, sem excluir ninguém.
Só existe rito litúrgico quando se encontram esses dois elementos: o externo e o interno, a vasilha e o conteúdo, a terrina e o que se coloca dentro, feito de VIDAS. A sua vida, entrelaçada com a nossa, e essas vidas na Liturgia são partilhadas e intercomunicadas. Quando achamos que a Celebração de cada semana é repetitiva, sempre do mesmo jeito, com as mesmas procissões, gestos, cantos, orações, tudo a mesma coisa, é porque não compreendemos o sentido profundo dos ritos. Na verdade, o que se repete é o elemento externo, a vasilha, mesmo porque os elementos externos são comparáveis a vasilhas preciosas, de raro valor.
Nossas preciosidades litúrgicas são conservadas com muito carinho, e isso é apenas o elemento externo do rito. Porque o elemento interno, o conteúdo que é feito de VIDAS DAS PESSOAS, não se repete... Pois a cada semana, ou até a cada dia em que vamos à Missa, o pedaço de vida que nós vivemos desde a última Missa até o presente, é novo, tão novo como cada dia da nossa vida. E é esta vida, com as suas marcas próprias que vai fazer parte do conteúdo interior de cada um. Cada dia Deus nos dá vida nova... novinha em folha. No fim da semana então, quando vamos celebrar o Dia do Senhor, quantos pedaços de vida temos para levar!... Jamais aconteceu de alguém acordar com Deus sentado à beira de sua cama a dizer-lhe: "Meu filho, minha filha, hoje não encontrei nada de novo para lhe oferecer... Viva o dia de ontem, hoje só tenho vida de "segunda mão" pra você... " Deus nos dá cada dia de vida, vida nova, única, irrepetível!.....
A Liturgia desdobra e ritualiza, através de diferentes ritos, todo aquele conteúdo aí concentrado; ela multiplica em ritos que vão explicitando as faces diversas daquele momento denso, que não conseguimos captar de uma única vez. Assim, os diversos ritos nos ajudam a alcançar e viver os vários aspectos do Mistério da Redenção, caminhando para o momento culminante, que é o Grande Ofertório da Celebração: o Corpo e o Sangue de Cristo erguidos na direção do céu. O sacerdote pronuncia as palavras que são a realização do próprio oferecimento que Jesus fez de si - da sua vida, do seu Corpo e Sangue... aquele momento tão solene : POR CRISTO, COM CRISTO, EM CRISTO... a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra, toda glória, agora e para sempre. A assembléia então pronuncia esta palavra, que Santo Agostinho dizia ser a mais importante da Missa- Amém! Nesse Amém, eu coloco a minha assinatura, é a minha vida, a vida dessa semana, a vida desse tempo, sobretudo esse pedaço de vida que eu ainda não tinha tido oportunidade de colocar aí dentro do oferecimento de Jesus ao Pai. E dela posso fazer o que quiser - posso jogá-la fora, no lixo... mas nós preferimos carregá-la até o altar, e no Dia do Senhor, uni-la ao ofertório de Jesus, e assim irmos oferecendo ao Pai, a cada pedaço de vida, sempre de novo: POR Cristo - porque não há outro jeito de chegar ao Pai, a não ser por Ele; COM Cristo - porque Ele se fez nosso companheiro e nós caminhamos com Ele nossos pedaços de vida; e EM Cristo - porque não chegamos ao Pai como uma multidão, e sim, como filhos no Filho, o Verbo de Deus Encarnado, que se fez um de nós... Só Nele temos a salvação que é o céu, Deus, a plenitude da vida. É só no Filho que nós, os filhos, temos lugar junto do Pai - em Jesus somos um só! Por isso: Por... com... em Cristo, a vós Deus Pai todo poderoso, toda honra, toda glória, agora e para sempre. E fazemos isso na unidade do Espírito Santo - é ele que nos faz um em Jesus, e então nós respondemos, de preferência cantando AMÉM! Agostinho dizia, na sua Catedral de Hipona, que quando o povo respondia este Amém, ele sentia que as colunas do templo se abalavam, tamanha a convicção daquela comunidade, ao colocar a sua assinatura... É mais do que simples assinatura: é colocar a vida, e nela, eu mesmo lacro o Amém. Isto nós vamos fazendo a cada semana, a cada Missa de que participamos. Porque Deus nos dá nossa vida no varejo, aos poucos, e não no atacado, de uma vez. Mas vai chegar um dia, que pela primeira vez, poderemos dizer a Deus Pai: - Eis a minha vida por inteiro, não mais por pedaços, mas toda ela está aqui presente, para sempre....
Ao Amém - Santo Agostinho diz - podemos acrescentar a outra palavra Aleluia! Porque no céu só haverá duas palavras a serem vividas plenamente: AMÉM! ALELUIA! Ao Amém acrescentamos o Aleluia da Páscoa, porque a nossa vida não é uma condenação à morte, à sepultura. AMÉM - a plenitude da vida,! ALELUIA - a Páscoa eterna!... Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário