"Por Deus, tenham um blog!" Papa Bento XVI


Coragem, Levanta-te! Jesus te Chama!


segunda-feira, 8 de outubro de 2012


Bom Pastor, Semeador e Pescador

 

Há três situações que se dirige a atividade missionária da Igreja: povos, grupos humanos, contextos sócioculturais onde Cristo e seu Evangelho não são conhecidos; o cuidado pastoral, que se dirige às comunidades cristã já constituídas; e a nova evangelização, que tem como destinatários os cristãos culturais, batizados que perderam o sentido da fé e vivem uma vida distante da Igreja (RMi 33).

Segundo o biblista canadense Marc Girard, estas três situações encontram inspiração em três metáforas evangélicas: o cuidado pastoral na imagem do Bom Pastor; a nova evangelização na imagem do Semeador; a missão ad gentes na imagem do Pescador. São missões que dizem respeito a uma progressão de espaços: o curral, o campo, o alto mar. Quanto maior o âmbito, maior a insegurança e o desafio. A primeira imagem é marcada pela proximidade pastoral. A segunda, pela gratuidade da ação do semeador, que semeia, mas não tem nenhum controle sobre a semente e seu crescimento (Mc 4,2629). A terceira, pela pura fé do pescador em lançar a rede num ambiente totalmente estranho e hostil, sem nenhuma certeza de apanhar alguma coisa.

Hoje uma Igreja local não pode perder de vista nenhuma das três situações. No entanto ainda temos uma visão de missão muito presa à pastoral. Os nossos bons pastores não saem para semear, menos ainda sabem lidar com o mar e com peixe. Muito menos são formados para isso. É preciso, portanto, ajudálos a elaborar projetos missionários a partir de uma visão global de missão e com uma tensão fecunda entre os vários aspectos, significa: agir concretamente, participar ativamente, ajudar transformar a realidade concreta de pessoas, de grupos, de sociedades, anunciando a Boa Nova, antes de tudo pelo testemunho.

Missão é resgatar as sementes do Verbo em cada cultura, em cada época, revelado na cultura de solidariedade em vista da utopia de um novo céu e uma nova terra. Missão é coerência, é testemunho, é vida que se faz Vida, é consumir a vida no meio do povo, atuando na realidade, ensinando a fazer o mesmo que fez Jesus, na realidade convocada pela universalidade da missão. Missão não é só poesia, não é ilusão, não é fantasia, não é somente sonho. Missão é se envolver nas rudezas da realidade que anseia pelo dia da libertação. Missão é ato redentor! Missão é preferir sujar as botas, percorrendo as ruas poeirentas ou lamacentas para estar com o povo.


É o anseio por estabelecer uma nova ordem sempre presente em cada cultura, cada época; é "o sonho de todos viverem a vida em paz, sem posse e, por isso, sem ganância ou fome. Nada pelo qual matar ou morrer. Uma irmandade de homens, dividindo todo o mundo" (J. Lenon- Imagine).

A missão de Jesus recebida do Pai esteve sempre presente nos anseios mais recônditos de cada ser humano, apesar de, na maioria das vezes, ser abafada pela cultura de consumo e de morte. Como Jesus que veio realizar a missão recebida do Pai de anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a remissão aos presos e aos cegos, a recuperação da vista, para restituir a liberdade dos oprimidos (Lc 4, 18-19), pregar e expulsar os demônios (Mc 3,15); assim o missionário, a missionária, hoje, assumem a luta que Jesus iniciou, contra os poderes do mal que empobrecem a vida do povo.

Identificando-se com Jesus, o missionário é convidado a ser pobre (Lc 14,33). Sonhar com status, poder, prosperidade, salários, carro último ano, conforto e bem-estar que a religião do consumo prega, choca profundamente com a insistência de Jesus para um trabalho gratuito, despojado, apoiado na providência de Deus (Lc 9,1-5). Se olharmos um pouco a questão da proveniência de uma maioria de nós chamados à vida consagrada e presbiteral, não nos esquecendo de nossas raízes, deveríamos manter uma postura popular e simples, sem encontrar dificuldade na nossa inserção à realidade do povo, encarnando-nos na cultura nossa, que é a cultura deles (1Cor 1,26-31). O esvaziar-se como Jesus, que assumiu a nossa condição humana (Fil 2,7), é o processo pelo qual todo missionário deve passar. Fazendo-se pobre, ele é enviado aos empobrecidos. Somente fazendo a experiência de pobreza junto aos pobres, é que o missionário vai sentir a dureza da pobreza, fruto da injustiça, podendo receber a iluminação e a força necessária para uma caminhada libertadora (Ex 3, 7-10).

O missionário, a missionária, é alguém, portanto, que se converteu como Zaqueu (Lc 19,1-10). Zaqueu vê Jesus e se converte, muda de vida, aderindo às suas exigências. É como a Samaritana (Jo 4,5-52) que, no diálogo com Jesus pede a água viva, e é introduzida no mistério da missão do Mestre e, envolvida pelo Espírito de Jesus, sai correndo, deixa os seus cântaros e vai anunciar o Messias que ela acabou de encontrar. É ainda, como Maria Madalena (Jo 20,17) que viu Jesus, e sai correndo para anunciar aos discípulos a ressurreição do Senhor.

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Missão é coerência, é testemunho, é vida que se faz Vida, é consumir a vida no meio do povo, atuando na realidade, ensinando a fazer o mesmo que fez Jesus, na realidade convocada pela universalidade da missão. Missão não é só poesia, não é ilusão, não é fantasia, não é somente sonho. Missão é se envolver nas rudezas da realidade que anseia pelo dia da libertação. Missão é ato redentor! Missão é preferir sujar as botas, percorrendo as ruas poeirentas ou lamacentas para estar com o povo.

Jamais foi possível sintonizar simultaneamente com os quatro cantos do mundo e nos sentirmos tão próximos. Tudo o que acontece, ou se faz, torna-se notícia num segundo, visualizado em todos os continentes. O mundo dos sons, das imagens, aperfeiçoando a sua tecnologia, se multiplicou e as distâncias se encurtaram, ultrapassando quaisquer fronteiras; as possibilidades se multiplicaram para fazer as pessoas saírem do isolamento e obterem todas as informações possíveis e imagináveis, num segundo. Ao mesmo tempo, o desafio da distância entre os privilegiados que são poucos e os excluídos que são a maioria continua aumentando cada vez mais.

Vivemos a era planetária. A universalidade não é mais um problema. Vivemos dentro dela. As fronteiras que nos separavam pelo subdesenvolvimento foram vencidas pela tecnologia. O modelo tradicional foi superado e a metodologia de um trabalho corpo a corpo vem substituído pelo sistema imperceptível, que não ocupa espaço e nem tempo. É transmissão direta, simultânea de sons, imagens e mensagens.
 
Boa Missão!

 


Mês missionário


A paixão pela missão é o coração da Igreja.

 

Uma vez, ao chegar próximo de uma árvore frutífera, avistei uma única fruta, bem no alto do pé. Fiquei planejando como poderia colher aquela fruta. Se tentar derrubar com pedras quebrá-la-ia e a estragaria. Se derrubasse com uma vara comprida ela poderia ficar no interior da árvore, presa entre os espinhos. Se tentasse subir para apanhá-la, poderia então me machucar. Entendi que precisava planejar a melhor estratégia para poder usufruir do sabor da fruta sem danificá-la e também sem me machucar.

Muitas vezes a nossa vontade é de quando chega o mês missionário nos embrenhar na missão, pois esta é a nossa paixão, justamente porque a primeira impressão é do que o mundo precisa e é o coração da Igreja. Mas o mundo é igual a uma árvore, ao mesmo tempo em que tem frutos, tem também espinhos. Se nos embrenharmos com muita pressa para chegar ao fruto vamos sem dúvida nos machucar e machucar a outros e nem perto do fruto vamos chegar.

Este mês, deve ser motivador, não somente de ação, mas de reflexão. Pois, para sermos missionários não precisamos percorrer grandes distâncias. Ser missionário é fazer a difícil viagem de sair de si, e ir ao encontro do outro, do novo, do diferente como em busca da fruta saborosa. É preciso pensar, planejar, ver a maneira de agir sem que os frutos sejam estragados ou que sejamos machucados pelos espinhos. E isso exige de nós uma abertura pessoal e comunitária para responder aos desafios de ser missionário.

Assumir os desafios e o compromisso de ser missionário é ter a missão não somente de levar algo, mas também de descobrir. Não somente de dar, mas receber. Não somente conquistar, mas partilhar e buscar juntos sempre a verdade em Cristo através de nossos gestos, atitudes e atos. A missão nos permite criar novos laços, novas relações, um novo jeito de olhar a vida, um novo jeito de ser igreja. "Ao irem pelo mundo, não discutam, nem teimem com palavras, nem façam juízo de outrem, mas sejam mansos, pacíficos, modestos, afáveis e humildes, tratando a todos honestamente, como convém” (S. Francisco).

Jesus disse ao enviar os apóstolos para anunciar o ano da graça: “Eis que vos enviou como carneiros em meio a lobos vorazes” (Mt. 10,16). E, quando, mal recebidos em uma cidade, João e Tiago pretendiam mandar o fogo dos céus sobre aquele povo, mas Jesus os repreendeu “Não sabeis de que espírito sois. (Lc. 9,55).

A primeira atitude do missionário deve ser a mansidão. O anúncio da Boa Nova é um anúncio de paz. O texto do profeta Isaias lido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc. 4,16-22) e a si próprio aplicado, diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, eis porque me ungiu e mandou-me evangelizar os pobres, sarar os de coração contrito, anunciar o ano da graça” (Is. 61, 1-4)

E, logo a seguir, no Sermão da Montanha, revirando todos os princípios e conceitos que o pecado instilara nos corações dos homens, da sociedade e da cultura, declara bem aventurados os mansos, os misericordiosos e os que promovem a paz (Mt. 5)

A violência e a agressividade afastam os corações. Não é a toa que Santa Terezinha foi declarada padroeira das missões, ela que jamais transpôs as grades de seu convento e, partindo deste mundo aos vinte quatro anos, podia prometer que dos céus enviaria uma chuva de rosas sobre a terra. São Francisco de Sales, igualmente ensinava que se apanham mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre.

Quanta paciência e compreensão mostraram os santos missionários de todos os tempos na inculturação da fé em corações duros e arraigados numa cultura pagã totalmente diversa dos caminhos cristãos. Davam tempo ao tempo, como o semeador aguarda com paciência o tempo da colheita.

O cristão que tem, pelo batismo, a vocação missionária, a missão de anunciar a Boa Nova, tem de ter, ele próprio, um coração semelhante ao de Cristo, manso e humilde, como se pede na jaculatória, “fazei nosso coração semelhante ao vosso”.

Paulo VI, na Evangelii nuntiandi exorta: “A obra da evangelização pressupõe um amor fraterno, sempre crescente, para com aqueles a quem ele (o missionário) evangeliza.” (nº 79) e cita São Paulo aos Tessalonicenses (2Ts. 8) como programa. Refere-se ainda, a outros sinais de afeição que o missionário tem de ter em relação ao evangelizando: o respeito pela situação religiosa e espiritual das pessoas a quem se evangeliza; a preocupação de se não ferir o outro, sobretudo se ele é débil em sua fé e um esforço para não transmitir dúvidas ou incertezas nascidas de uma erudição não assimiladas.

O missionário, ao levar a Boa Nova a um mundo angustiado e sem esperança ou cuja esperança se esgota com o último suspiro, não pode se apresentar triste e sem animo, impaciente ou ansioso, mas deve manifestar uma vida irradiante de fervor e da alegria de Cristo.

Nesse espírito o missionário, sem fraquejar sobre sua fé e sobre a mensagem, abra sua voz para “propor aos homens a verdade evangélica e a salvação em Cristo, com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que a consciência dos ouvintes fará” (E.N 80). Lembre-se não se abre uma rosa apertando-se o botão”.

Para reflexão e partilhaComo minha atitude missionária pode ser melhorada? Por que?