A paixão pela missão é o coração da Igreja.
Uma vez,
ao chegar próximo de uma árvore frutífera, avistei uma única fruta, bem no alto
do pé. Fiquei planejando como poderia colher aquela fruta. Se tentar derrubar
com pedras quebrá-la-ia e a estragaria. Se derrubasse com uma vara comprida ela
poderia ficar no interior da árvore, presa entre os espinhos. Se tentasse subir
para apanhá-la, poderia então me machucar. Entendi que precisava planejar a
melhor estratégia para poder usufruir do sabor da fruta sem danificá-la e
também sem me machucar.
Muitas
vezes a nossa vontade é de quando chega o mês missionário nos embrenhar na
missão, pois esta é a nossa paixão, justamente porque a primeira impressão é do
que o mundo precisa e é o coração da Igreja. Mas o mundo é igual a uma árvore,
ao mesmo tempo em que tem frutos, tem também espinhos. Se nos embrenharmos com
muita pressa para chegar ao fruto vamos sem dúvida nos machucar e machucar a
outros e nem perto do fruto vamos chegar.
Este mês,
deve ser motivador, não somente de ação, mas de reflexão. Pois, para sermos
missionários não precisamos percorrer grandes distâncias. Ser missionário é fazer a difícil viagem de sair de si, e ir ao
encontro do outro, do novo, do diferente como em busca da fruta saborosa. É
preciso pensar, planejar, ver a maneira de agir sem que os frutos sejam
estragados ou que sejamos machucados pelos espinhos. E isso exige de nós uma
abertura pessoal e comunitária para responder aos desafios de ser missionário.
Assumir
os desafios e o compromisso de ser missionário é ter a missão não somente de
levar algo, mas também de descobrir. Não somente de dar, mas receber. Não
somente conquistar, mas partilhar e buscar juntos sempre a verdade em Cristo
através de nossos gestos, atitudes e atos. A missão nos permite criar novos
laços, novas relações, um novo jeito de olhar a vida, um novo jeito de ser
igreja. "Ao irem pelo mundo, não discutam, nem teimem com palavras, nem
façam juízo de outrem, mas sejam mansos, pacíficos, modestos, afáveis e
humildes, tratando a todos honestamente, como convém” (S. Francisco).
Jesus disse ao enviar os
apóstolos para anunciar o ano da graça: “Eis que vos enviou
como carneiros em meio a lobos vorazes” (Mt. 10,16). E, quando, mal recebidos em uma
cidade, João e Tiago pretendiam mandar o fogo dos céus sobre aquele povo, mas
Jesus os repreendeu “Não sabeis de que espírito sois. (Lc.
9,55).
A primeira atitude do missionário
deve ser a mansidão. O anúncio da Boa Nova é um anúncio de paz. O texto do
profeta Isaias lido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc. 4,16-22) e a si
próprio aplicado, diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim,
eis porque me ungiu e mandou-me evangelizar os pobres, sarar os de coração
contrito, anunciar o ano da graça” (Is. 61, 1-4)
E, logo a seguir, no Sermão da Montanha,
revirando todos os princípios e conceitos que o pecado instilara nos corações
dos homens, da sociedade e da cultura, declara bem aventurados os mansos, os
misericordiosos e os que promovem a paz (Mt. 5)
A violência e a agressividade
afastam os corações. Não é a toa que Santa Terezinha foi declarada padroeira
das missões, ela que jamais transpôs as grades de seu convento e, partindo
deste mundo aos vinte quatro anos, podia prometer que dos céus enviaria uma
chuva de rosas sobre a terra. São Francisco de Sales, igualmente ensinava que
se apanham mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre.
Quanta paciência e compreensão
mostraram os santos missionários de todos os tempos na inculturação da fé em
corações duros e arraigados numa cultura pagã totalmente diversa dos caminhos
cristãos. Davam tempo ao tempo, como o semeador aguarda com paciência o tempo
da colheita.
O cristão que tem, pelo batismo,
a vocação missionária, a missão de anunciar a Boa Nova, tem de ter, ele
próprio, um coração semelhante ao de Cristo, manso e humilde, como se pede na
jaculatória, “fazei nosso coração semelhante ao vosso”.
Paulo VI, na Evangelii nuntiandi exorta: “A
obra da evangelização pressupõe um amor fraterno, sempre crescente, para com
aqueles a quem ele (o missionário) evangeliza.” (nº 79) e cita São Paulo aos
Tessalonicenses (2Ts. 8) como programa. Refere-se ainda, a outros sinais de
afeição que o missionário tem de ter em relação ao evangelizando: o respeito
pela situação religiosa e espiritual das pessoas a quem se evangeliza; a
preocupação de se não ferir o outro, sobretudo se ele é débil em sua fé e um
esforço para não transmitir dúvidas ou incertezas nascidas de uma erudição não
assimiladas.
O missionário, ao levar a Boa
Nova a um mundo angustiado e sem esperança ou cuja esperança se esgota com o
último suspiro, não pode se apresentar triste e sem animo, impaciente ou
ansioso, mas deve manifestar uma vida irradiante de fervor e da alegria de
Cristo.
Nesse espírito o missionário, sem
fraquejar sobre sua fé e sobre a mensagem, abra sua voz para “propor
aos homens a verdade evangélica e a salvação em Cristo, com absoluta clareza e
com todo o respeito pelas opções livres que a consciência dos ouvintes fará” (E.N 80).
Lembre-se “não se abre uma rosa apertando-se o botão”.
Para reflexão e partilha – Como minha atitude missionária pode ser melhorada? Por que?
Nenhum comentário:
Postar um comentário