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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Um ano de presença missionária


Comunidade Sacramentina Pe. Jesus Moreira de Resende.

Paróquia Santo António de Nana Candundo (Cavungo – Caianda – Lóvua)

Angola - Moxico

Um ano de presença missionária.

 

Este primeiro ano foi de conhecimento mútuo; parar, olhar e escutar. Assumimos como princípio de aproximação o método usado por Filipe ao aproximar do ministro de Candace (At 8, 26-40), este aproximar e acompanhar nos deu oportunidade de visibilizar os horizontes culturais em que estamos inseridos, perceber a paradoxalidade do tempo e assim assumir novos paradigmas.

Adotamos Pe. Jesus Moreira de Resende como patrono de nossa comunidade Sacramentina, em nossa percepção ele tinha a leveza da presença, o alegria espontânea, o olhar atento para descobrir lideranças, a capacidade de delegar e motivar as pessoas no trabalho e na vida da comunidade.

Conseguimos aproximar das pessoas e deixar que elas se aproximassem de nós, era nosso objetivo para este primeiro ano, pois muitos jovens nunca tinham visto um branco (chamados aqui de Cindele, pronuncia-se tindele) e quando chegávamos em algumas aldeias eles corriam, as crianças choravam até alguns adultos ficavam assustados; assim esta proximidade foi uma grande conquista, pois estamos nos sentido mais deles e eles um pouco mais de nós. (At 17, 23ss)

Continuamos o modelo eclesial que encontramos por avaliar que é o melhor na conjuntura que vivemos...

Visitamos todas as comunidades da paróquia, na comuna de Lóvua só conseguimos chegar de motocicleta, pois não existe ponte para atravessar o rio Zambeze. No período das chuvas novembro a abril, estamos com dificuldades de acompanhar as comunidades, pois as pontes de acesso se tornam muito perigosas e as estradas pouco transitáveis.

Despertarmos mais quatro comunidades de base; Cristo Rei, São Tiago, Nossa Senhora da Eucaristia e Santa Bakita, facilitando assim a participação das pessoas devido as grandes distâncias e o surgimento de novos catequistas. Temos ainda várias comunidades sem a presença de catequista, ficando de fora de nossas visitas, pretendemos realizar uma visita missionária a estas comunidades e despertar novas lideranças.

Motivamos o surgimento de mais turmas de alfabetização, que é um projeto da diocese com incentivo do governo, e com ajuda da congregação dos missionários Sacramentinos financiamos mais material escolar para os novos alunos e alfabetizadores.

Na dimensão humana, aprofundamos nossa humildade, só assim podemos penetrar mais nesta cultura, pois a cabeça do missionário deve estar onde estão os seus pés. A expressão “ser presença missionária” deixa de ser uma teoria e passou a ser para nós uma vivência radical desta forma de evangelização, pois nem sempre somos entendidos no que falamos, assim, só o fato do padre estar presente faz a diferença. Há uma expressão muito própria do povo aqui que reflete esta realidade: “estamos juntos senhor padre”. Também cresceu em nós a capacidade de confiar na providência divina, pois nossa capacidade intelectual ou financeira não consegue responder a todas as demandas. O corpo fala, aos poucos nosso corpo também se adaptou a realidade em que estamos, perdemos um pouco da “gordurinha” acumulada, algumas crises de acido úrico, gripes, malária... mas já recuperados sem grandes complicações, nada comparados aos sofrimentos de Paulo (2 Cor 11, 23ss).

Os meios de comunicação, principalmente o “facebook”, se tornaram uma ferramenta de partilha e animação missionária além de favorecer o cultivo da saudade de parentes e amigos. O acesso a estes meios foi facilitado com a chegada de muitos brasileiros que trabalham na empresa Queiroz Galvão (estão construindo estrada de Lual a Cavungo 200 km, Cavungo a Cazombo 60 km e Cazombo a Lumbala Kakengue 115 km) que nos acolheram como irmãos entre eles, mais que uma estrada eles estão construindo “caminhos”.

A vida de estrangeiro tem complicações das mais variadas, estar presente sem ser turista demanda mais cuidado. A renovação de visto de permanência, a aquisição de permissão para dirigir...mesmo circular pelo país. Agradecemos nossas irmãs Sacramentinas que estão em Luanda por nos ajudar neste processo de renovação de nosso visto de permanência. (Ef 2,19)

Nossa convivência com as irmãs do Sagrado Coração de Maria em Cazombo ( Ir. Suzana Ilustrissimo – Filipinas, Ir. Mary Rabu – Papua Nova Guiné, Ir. Maria José – Brasil e Ir. Berta May  - Indonésia que voltou para seu país por complicações com a saúde) e os Pe. Lopes e Pe. Manecas da diocese de Lwena é oportunidade de cultivar a Vida Religiosa na fraternidade e sororidade.

A dimensão econômico-financeira foi e é tratada com muita atenção, pois sabemos dos desafios para manter esta missão além fronteiras com os recursos próprios da Congregação. Muitas pessoas se sensibilizaram ao ponto de oferecer ajuda financeira para missão, o que faz transparecer a comunhão e a corresponsabilidade missionária. Agradecemos aos nossos irmãos Sacramentinos e aos paroquianos que colaboraram para manutenção de nossa região missionária. Há um comercial vinculado na TPA (Televisão Pública de Angola) que tem uma canção cujo refrão diz: “tudo que eu preciso esta em África”. Não temos a qualidade de vida que tínhamos quando vivenciávamos nossa missão no Brasil, mas estamos felizes por assumir na nossa “carne” o que falta a cruz de Cristo (1 Cor 1,5)

A missão tem formas e características próprias em cada lugar, não significa que seja fácil ou difícil. Vivenciar o evangelho em outra cultura é uma grande riqueza para o próprio evangelizador, pois ele também é evangelizado. (Rm 1,16)

O maior desafio é mesmo a questão cultural, a língua, inclusive o português, pois o do Brasil e o de português de Portugal tem formas próprias de comunicar. As línguas nacionais, luvale e lunda são desafiantes, estamos dando mais ênfase a língua luvale, já assimilamos muito, mas somos como crianças que estão aprendendo a escutar e falar. Ainda na questão cultural a alimentação é um desafio grande, mas estamos nos adaptando.(1 Cor 10, 33)

Grande desafio também é a evangelização propriamente, pois poucas pessoas sabem ler, dificuldade de aceso a matérias de evangelização. Ainda é muito influente a religiosidade tradicional com suas crenças em feitiços, amuletos e outras crendices. O evangelho ainda esta como verniz, somente uma capa, que não atingiu o cerne das pessoas.(Gl 3,1ss)

A dimensão familiar também é desafiante, pois o sacramento do matrimônio não é muito valorizado, ter filhos é uma questão cultural as vezes não importando quem seja o pai, pois a herança dinástica é passada pela mãe dentro da cultural matriarcal, assim o importante para toda família é que haja muitos filhos, de preferência filhas, pois quando estas são desposadas deve ser entregue o “alambamento” espécie de dote para a família da noiva. Além disto a poligamia é uma prática comum na cultura. (1 Ts 4, 1-5)

O novo sempre tem possibilidade de aparecer, nesta realidade que vivemos de pouca maturidade na fé cristã, é difícil descentralizar o “poder”. Nossa paróquia abrange três comunas (Cavungo, Caianda e Lóvua) são divididas em setores, Já redividimos alguns setores para facilitar o acompanhamento do catequista responsável pelo setor, haja vista que se faz este intercambio de bicicleta e as distâncias são desafiantes. Bom lembrar que as bicicletas entregues aos catequistas são doação da diocese com recurso de projetos de ajuda estrangeira, mesmo assim existem comunidades dentro do mesmo setor com ate 60 km de distância. Quem mantem a unidade destes setores são os catequistas (que não tem somente a função de cuidar de turmas de catecúmenos) mas de orientar a comunidade na formação bíblica, liturgia e muitos deles de alfabetizadores. Pois cada comunidade possui um conselho da comunidade nos moldes de nossas comunidades de base em que trabalhamos no Brasil.

Nossos objetivos para este ano de 2013. Oferecer formação para os catequistas e outras lideranças nos setores, diminuindo as distâncias e facilitando a participação de novas lideranças, pois há grande dificuldade de locomoção, só de bicicleta ou a pé.

Aproximar das aldeias que não tem presença de catequista para despertar novas comunidades. Continuar incentivando a alfabetização de adultos.

Iniciar de forma embrionária os grupos de reflexão da bíblia e da realidade familiar, facilitando a compra de Bíblias e produzindo subsídios para reflexão bíblica e litúrgica.

Aprofundar na compreensão das línguas nacionais para aumentar nossa proximidade cultural e humana com este povo de Deus.

Que Nossa Senhora da Eucaristia nos ajude a assumir com mais radicalidade o caminho missionário de Jesus Cristo para sermos presença de sua Boa Nova.

 

 

Pe. Renato Dutra Borges, SDN

Pe. João Lúcio Gomes Benfica, SDN

5 comentários:

  1. Salve!! Que emoção pela escolha do nome para a comunidade...Pe.Jésus tenho uma lembrança e um carinho muito especial pela memória desse amigo tão querido aqui na terra.Parabéns pela escolha e obrigada por prestarem essa homenagem!!!abraços!!

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  2. "Adotamos Pe. Jesus Moreira de Resende como patrono de nossa comunidade Sacramentina, em nossa percepção ele tinha a leveza da presença, o alegria espontânea, o olhar atento para descobrir lideranças, a capacidade de delegar e motivar as pessoas no trabalho e na vida da comunidade."descreveram muito bem o que pe jésus era pra nós.

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  3. Padre Renato, fico tão emocionada acompanhando a missão do senhor e do padre João Lúcio!
    Olhando as fotos, penso em um povo simples, tão diferente e ao mesmo tempo tão igual: carentes de afeto, de saber, de Deus...

    Deus os abençoe cada dia.
    E que o manto de Nossa Senhora esteja sempre sobre vocês.
    Meu abraço fraterno e minha admiração.

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    1. Obrigado pelo comentario, partilhar a missão aquece o coração... Este povo tem mesmo muito a nos ensinar... Grande abraço

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  4. acompanhar a partilha da missão de voces na áfrica, foi muito proveitosa, ontem estava participando em caratinga de mais um módulo do curso de terapia corporal. E em um determinado momento foi solicitado pela professora de arte terapia que fizessemos uma apresentação em forma de teatro, uma cena onde representaríamos uma familia de moradores de uma aldeia africana.E tive oportunidade de repassar um pouco do jeito de vivencia daí atraves do que tem nos repassado, com textos fotos das postagens que tem colocado no face aqui e no blog, valeu muito. obrigada!

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