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terça-feira, 27 de maio de 2014

A missão cresce na direção da pessoa e do mundo


A missão cresce na direção da pessoa e do mundo.

“Kumona njamba, kuenda, hukulwonoko”

(Para ver elefantes é preciso viajar, não basta ter idade avançada.)

 

“Jesus andou pelo mundo fazendo o bem a todas as pessoas...” (At 10,18)

 

Deus percebe a necessidade da humanidade e suscita pessoas para oferecer a resposta esperada ou reconduzir as pessoas ao “caminho” dos mandamentos divinos, cabe ao ser humano ouvir o chamado e responder afirmativamente, saindo de si e doando-se ao outro em qualquer lugar do mundo para anunciar as maravilhas que Deus realiza na sua própria existência. (At 2, 5-13)

Toda missão é itinerante e colhe frutos na perseverança, necessita presença, assumir um “lugar” histórico e um contexto cultural (At 17, 22-31). A referência é o Evangelho de Jesus Cristo. A missão é maior, não está limitada a determinados destinatários ou realidades culturais. A messe é grande e fica maior a cada pessoa que acolhemos no Batismo e a cada comunidade que fundamos, pois a missão cresce na direção da pessoa e do mundo!

O povo angolano é sábio quando afirma: “Husulila tchifulchi tunamonoho, hasulila uthu kutwamwenho” (Onde a terra acaba vemos, onde acabam as pessoas não o vemos)

Os limites da terra nós sabemos, mesmo assim devemos avançar para os confins do mundo, os limites do ser humano ainda são desconhecidos... o Evangelho deve então penetrar as estruturas e culturas onde vive o ser humano, motivando para o crescimento em comum (Mc 16,15).

Aprofundar o mistério da fé e a doutrina cristã a todo batizado, encantá-lo com a vivência do Reino de Deus e ainda provocar o efeito multiplicador é nosso desafio, pois devemos dar condições para que todo batizado persevere na sua missão com alegria e itinerância. (At 8, 26-40)

Não podemos nos acomodar com os batismos que celebramos, com as comunidades que fundamos; devemos proclamar e construir o Reino de Deus, a itinerância não é só percorrer caminhos, mas buscar formas, métodos, dinâmicas para aproximar as pessoas do Evangelho e o Evangelho das pessoas (1Cor 11, 17-26). Sustentar nesta convicção de que se realiza algo bom e necessário com as pessoas que convive e no lugar onde está é o que alimenta a perseverança.

Vivemos numa pequena comunidade com cerca de 30 mil habitantes, região da paróquia Santo António (comunas de Cavungo, Lóvua e Caianda) numa área de aproximadamente 22 mil km2 dando uma média de 1,36 pessoas por Km2... área vasta e pouco habitada, o cristianismo ainda é nascente, pois ainda não penetrou no cerne da cultura, por isso minoritário. Batizamos 798 pessoas e fundamos 08 comunidades de um total de 29 comunidades. Orientar as pessoas na sabedoria que está na Palavra de Deus e na tradição cristã tem sido nosso trabalho. Usamos o método de reunir as pessoas para estudar a Bíblia nos grupos de reflexão e ainda motivar as famílias para que a tarde, quando estão em volta da fogueira, rezarem o rosário.

A necessidade do Povo de Deus é gritante. Com espírito de amor e sacrifício assumimos em comunhão com nossa congregação outra área missionária vastíssima, a paróquia de São Bento, compondo assim todo município do Alto Zambeze, cerca de 48 mil km2.

Neste ano de 2014, acolhemos duas missionárias, Ir. Dorinha e Ir. Vininha, Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo. É a providência Divina, pois a missão acontece mesmo na direção das pessoas e do mundo.

Do lugar onde estamos contemplamos a dimensão do Reino de Deus que anunciamos e a comunhão do Povo de Deus que promovemos. Encantar as pessoas para o seguimento de Jesus Cristo é desafiante.  A itinerância pode se tornar uma fuga pela incapacidade de perseverar nestes desafios, é a tentação na missão, seja local, além fronteiras ou ad gentes. Superar esta tentação exige vivência fraterna, paciência histórica e clareza na percepção da missão que se realiza entre as pessoas e no mundo (Mc 4, 3-9).

Vivemos um tempo de graça na diocese de Lwena, pois nosso bispo Dom Jesus Tirso Blanco, convocou toda diocese para reflexão através do sínodo diocesano, oportunidade de testemunhar a unidade e a corresponsabilidade da Igreja Povo de Deus. Este sínodo é uma necessidade, pois, nas palavras de nosso bispo:  “A nossa Diocese, depois de um período inicial de grande expansão, viveu um tempo caracterizado não só pela destruição ou grave deteriorização de mais de sessenta das suas estruturas, mas também pela dispersão de inúmeras comunidades por causa das guerras de independência e sobretudo pela guerra fratricida que assolou o país todo e muito particularmente a nossa província. Nessa altura, houve uma diminuição drástica de missionários e uma dispersão notável de muitos fiéis. Foi um período amargo da nossa história, mas também temos que reconhecer e agradecer pastores e fiéis, principalmente os catequistas, que mantiveram viva a chama da fé do nosso povo.

Com o advento da paz foi possível a reinstalação das populações nos locais de origem e a abertura de muitas missões; trabalho feito com muito sacrifício e heroísmo. Actualmente, após mais de dez anos de paz, vivemos um tempo privilegiado: há liberdade religiosa, que nem sempre existiu no passado, e, mesmo com as dificuldades inerentes ao estado dos caminhos, é possível chegar até aos locais mais recônditos da nossa extensa Diocese.

Apesar destes sinais positivos, não nos podemos iludir: Angola tem 522 anos de evangelização e Moxico apenas 80, boa parte deles vividos em conflitos armados, com a consequente carência de missionários e de condições propícias para a tarefa da evangelização.  Por isso não é de admirar que o nosso território tenha uma das percentagens mais baixas de católicos a nível nacional.”

Que a exemplo de Jesus que tendo amado os seus que estavam no mundo amo-os até o fim (Jo 13,1) e que a atitude apressada de Maria indo ao encontro de Isabel para comunicar e celebrar as maravilhas de Deus (Lc 1, 39-40), motive cada batizado a dar passos largos e decididos na direção da pessoa e do mundo, evitando o risco de ficar a vangloriar-se da idade avançada sem nunca ter visto um “elefante”.

 
Pe. Renato Dutra Borges, SDN