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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Kwoko kutemo, kwoko ku njimbu, ami tchihase kulima

Para que dê sementes ao semeador. Is 55,10

Kwoko kutemo, kwoko ku njimbu, ami tchihase kulima.
(Mão na enxada, mão no machado, não posso trabalhar.)

O trabalho missionário é um constante semear, como dizia um grande missionário sacramentino, Pe. Geraldo Silva de Araújo SDN: “Colega, temos que semear, semear e semear.” Com esta motivação estamos a 4 anos semeando a riqueza da fé cristã e a comunhão com a Igreja nesta parcela do povo de Deus que está na diocese de Lwena, em Angola. 
No trabalho devemos fazer opções: o que plantar, como plantar, e onde plantar, pois não podemos lançar as sementes ao vento, deixando ao acaso a tarefa de produzir alimento e sementes ao semeador e nem ter as duas mãos ocupadas pelo ativismo, mas ser presença ativa e orante... contemplativos na ação. Ao estabelecer o método de trabalho devemos nos concentrar nas ferramentas para realizar a missão, saber usar as ferramentas é sinal de compreender a necessidade do trabalho e a melhor forma de realizá-lo. Cultivar a paciência ao evangelizar, para não ter gestos vãos e palavras insignificantes, “Os missionários podem e devem dar pelo menos o testemunho da caridade e da beneficência de Cristo”. (AD 6). 
O princípio fundamental da evangelização é anunciar a vida e a ressureição de Jesus, formando discípulos missionários, multiplicadores das sementes que receberam. “Entre a proximidade e a distância de Deus, medeia a sua Palavra, que desce do céu para realizar e revelar a salvação. É como chuva: benção primária, dom ativo que desata atividade, rega, fecunda e faz gerar. Seu ritmo não é o dá eficiência, mas o da fecundidade. A chuva põe em movimento um ciclo: alimento hoje, semente para a colheita amanhã.” (Bíblia do Peregrino)
Nossa opção em semear a Palavra de Deus através dos grupos de reflexão e da formação de lideranças tem nos ajudado a perceber a força de Deus entre os simples, mesmo não compreendendo perfeitamente a língua portuguesa, surge a oportunidade de conversão e seguimento a Jesus Cristo, deixando de lado algumas práticas culturais que não estão em acordo com a vivência cristã. Ajudamos a pessoa perceber que sua vida tem a ver com Deus e que Deus tem a ver com a sua vida; diminuindo a distância entre as pessoas e Deus através da Bíblia e dos sacramentos da Igreja, em especial a Eucaristia.
O “senso da eucaristia”, no dizer do Pe. Júlio Maria, equivale àquela disposição interior dos primeiros cristãos em celebrar o mistério pascal, comungar e viver a radicalidade do seguimento a Jesus Cristo. Ter “senso da eucaristia” significa, no pensamento julimariano, saber a importância, o valor e a necessidade da eucaristia na vida do cristão. É saber que a eucaristia é mistério central da vida cristã, sua finalidade é alimentar, nutrir e formar aqueles que deste mistério se aproximam. Por outro lado, aquele que participa do corpo e sangue de Cristo é convidado a assimilar, se identificar com aquilo de que se alimentou. O “senso eucarístico” evita certos abusos, a saber: fazer da eucaristia uma devoção entre tantas, fazer da eucaristia um amuleto de sorte ou ficar “catando” missas durante o dia para “assistir” e “comungar” sem uma devida preparação. O Pe. Júlio Maria percebendo estes desvios, afirma o seguinte: “Não basta comungar, é preciso comungar bem”. “Não é o número de comunhões que vale; é a aplicação para fazê-las bem, que agrada a Deus”.
 “A evangelização é uma diligência complexa, em que há variados elementos: renovação da humanidade, testemunho, anúncio explicito, adesão do coração, entrada na comunidade, aceitação dos sinais e iniciativas de apostolado. Estes elementos podem afigurar-se contrastantes. Na realidade, porém, eles são complementares e reciprocamente enriquecedores uns dos outros. É necessário encarar sempre cada um deles na sua integração com os demais” EN 17
A evangelização deve voltar as suas raízes profundas na “alegria do Evangelho” o júbilo de acreditar em Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. Ela compromete-nos a avaliar sempre os nossos recursos estruturais e espirituais, primeiro dos quais é um “saber crer cristão”, capaz de esclarecer a própria questão do homem e de pôr em evidência que o gesto de crer e constitutivo da experiência humana de viver juntos. (Mc 8, 1-10)
A Igreja é grande pela tradição e pela experiência duradoura no tempo, é capaz de congregar homens e mulheres de todos os continentes, de todas as culturas e de todos os ambientes, levando a coexistir no seu seio as sensibilidades espirituais mais diversas. É grandiosa na sua vontade de se aproximar dos distantes, daqueles que a sociedade afasta ou que não foram devidamente evangelizados.
Cada cultura acolhe a Boa Notícia de Jesus que a Igreja comunica de uma forma e com intensidade diferente. A Igreja tem a missão fundamental de evangelizar, a forma de realizar esta missão deve estar em constante renovação para que os destinatários em qualquer tempo e lugar recebam com gratuidade está Boa Nova. A evangelização é tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Não podemos nos limitar a evangelizar de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, segundo a fórmula sugerida por Paulo VI. Não podemos nosso contentar com uma limpeza de fachada nem com um marketing missionário. A nossa identidade de crentes cristãos é conferida pela relação com o Deus da vida e da história. Não depende daquilo que possuímos, do que sabemos, e nem sequer daquilo que fazemos. Nasce da justificação pela fé como dom gratuito de Deus em Jesus Cristo. 
O testemunho da caridade, o serviço gratuito à humanidade, o compromisso a favor dos pobres, a cooperação para viver todos unidos constituem o testemunho que os cristãos devem dar do evangelho de Jesus Cristo e do seu poder libertador. O Papa Francisco recorda-nos “Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor amando”. (Carta Apostólica do Ano da Vida Consagrada 04)
A urgência do evangelizador é a pregação como resposta ao mandato de Cristo: ide e evangelizai... não podemos nos deixar intimidar pelas dificuldades estruturais e humanas, a missão é de Deus. Na Igreja todos nós somos um povo, todos nós somos responsáveis pela missão. A missão é algo que não separamos do nosso ser (1 Cor 9,16). “Eu sou uma missão nesta terra, e para isto estou neste mundo. É preciso considerarmo-nos como que marcados pelo fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (EG 273).
O Evangelho é para todos os tempos, mas cada tempo tem suas próprias urgências. Cada época precisa de um estilo de evangelização, de um tipo de evangelizador. A missão evangelizadora é jubilosa, produz alegria. A evangelização é uma questão de amor, de paixão por Jesus Cristo é pelo próximo. O amor apostólico consiste não apenas em tomar a iniciativa e em dar, mas inclusive em deixar-se surpreender e em receber. Os destinatários da missão são também sujeitos ativos. (Mc 2,13-17)
Não é suficiente propor a fé, trata-se de gerar crentes. (Mt 28,19-20) Gerar sementes para o semeador, gerar não significa transmitir uma mensagem, mas sim suscitar a vida, a vida em todas as dimensões. Sinal distintivos dos cristãos é estar presente nos lugares onde a vida é precária e ameaçada, nos lugares de resistência a tudo aquilo que degrada o ser humano, nos lugares onde possa testemunhar a fé cristã com uma força vital, de vida interior, assim como de convivência e de solidariedade. Somente gerando crentes, a Igreja poderá gerar-se a si mesma. Só permitindo que outras pessoas façam a experiência de um Deus que “se dirige aos homens como amigos”; que Igreja reconhecerá a si própria como fruto de Deus, entendendo a si mesma como uma Igreja de geração, chamada a nascer juntamente com aqueles dos quais se aproxima em nome de Jesus Cristo.
Os frutos que desejamos gerar, colher, alimentar e deixar sementes são: amor pela Palavra de Deus, senso da Eucaristia, formação e multiplicação das lideranças, visitadores missionários, auto sustentabilidade, gerar outras comunidades, formação liturgia, melhorias estruturais...
Grande oportunidade para nosso estilo de evangelização é a motivação da CEAST (Conferência episcopal de Angola São Tomé) que neste ano propõe a temática: a paróquia como centro da evangelização, tivemos oportunidade de elaborar subsídios para estudo bíblico sobre os temas mais relevantes para este ano, oportunidade de multiplicar o amor pela Palavra de Deus.
Em comunhão com a missão das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo de promover alfabetização e reforço escolar, práticas domésticas e culinárias entre a juventude; queremos recuperar e melhorar a autoestima de nossos irmãos e irmãs.
Não podemos visualizar o comportamento alheio livre de sua própria predisposição cultural, nem o conseguiriam aqueles que estão a observar o nosso comportamento. Podemos nos adaptar com sucesso ao ambiente cultural desconhecido, ao observar, ouvir, exercitar um pouco de paciência e tolerância e, silenciosamente, modular nosso próprio comportamento. Enquanto isso, procuraremos discernir a dádiva de Deus nesta vida enredada, muitas vezes confusa, e seguir Cristo, que “abre passagens onde a humanidade se torna complicada”. Pela misericórdia de Deus poderemos ouvir o que Isabel disse a Maria: “feliz és tu que creste, porque se cumprirá o que o Senhor te anunciou” (Lc1, 45). Abrir passagens não é a mesma coisa que encontrar soluções. Abrir passagens com Cristo, no coração da nossa vida enredada, tem algo a ver com a salvação.

Pe. Renato Dutra Borges, SDN
Pe. Odésio Magno da Silva, SDN