Para que dê sementes ao semeador. Is 55,10
Kwoko kutemo, kwoko ku njimbu, ami tchihase kulima.
(Mão na enxada, mão no machado, não posso trabalhar.)
O trabalho missionário é um constante semear, como dizia um grande missionário sacramentino, Pe. Geraldo Silva de Araújo SDN: “Colega, temos que semear, semear e semear.” Com esta motivação estamos a 4 anos semeando a riqueza da fé cristã e a comunhão com a Igreja nesta parcela do povo de Deus que está na diocese de Lwena, em Angola.
No trabalho devemos fazer opções: o que plantar, como plantar, e onde plantar, pois não podemos lançar as sementes ao vento, deixando ao acaso a tarefa de produzir alimento e sementes ao semeador e nem ter as duas mãos ocupadas pelo ativismo, mas ser presença ativa e orante... contemplativos na ação. Ao estabelecer o método de trabalho devemos nos concentrar nas ferramentas para realizar a missão, saber usar as ferramentas é sinal de compreender a necessidade do trabalho e a melhor forma de realizá-lo. Cultivar a paciência ao evangelizar, para não ter gestos vãos e palavras insignificantes, “Os missionários podem e devem dar pelo menos o testemunho da caridade e da beneficência de Cristo”. (AD 6).
O princípio fundamental da evangelização é anunciar a vida e a ressureição de Jesus, formando discípulos missionários, multiplicadores das sementes que receberam. “Entre a proximidade e a distância de Deus, medeia a sua Palavra, que desce do céu para realizar e revelar a salvação. É como chuva: benção primária, dom ativo que desata atividade, rega, fecunda e faz gerar. Seu ritmo não é o dá eficiência, mas o da fecundidade. A chuva põe em movimento um ciclo: alimento hoje, semente para a colheita amanhã.” (Bíblia do Peregrino)
Nossa opção em semear a Palavra de Deus através dos grupos de reflexão e da formação de lideranças tem nos ajudado a perceber a força de Deus entre os simples, mesmo não compreendendo perfeitamente a língua portuguesa, surge a oportunidade de conversão e seguimento a Jesus Cristo, deixando de lado algumas práticas culturais que não estão em acordo com a vivência cristã. Ajudamos a pessoa perceber que sua vida tem a ver com Deus e que Deus tem a ver com a sua vida; diminuindo a distância entre as pessoas e Deus através da Bíblia e dos sacramentos da Igreja, em especial a Eucaristia.
O “senso da eucaristia”, no dizer do Pe. Júlio Maria, equivale àquela disposição interior dos primeiros cristãos em celebrar o mistério pascal, comungar e viver a radicalidade do seguimento a Jesus Cristo. Ter “senso da eucaristia” significa, no pensamento julimariano, saber a importância, o valor e a necessidade da eucaristia na vida do cristão. É saber que a eucaristia é mistério central da vida cristã, sua finalidade é alimentar, nutrir e formar aqueles que deste mistério se aproximam. Por outro lado, aquele que participa do corpo e sangue de Cristo é convidado a assimilar, se identificar com aquilo de que se alimentou. O “senso eucarístico” evita certos abusos, a saber: fazer da eucaristia uma devoção entre tantas, fazer da eucaristia um amuleto de sorte ou ficar “catando” missas durante o dia para “assistir” e “comungar” sem uma devida preparação. O Pe. Júlio Maria percebendo estes desvios, afirma o seguinte: “Não basta comungar, é preciso comungar bem”. “Não é o número de comunhões que vale; é a aplicação para fazê-las bem, que agrada a Deus”.
“A evangelização é uma diligência complexa, em que há variados elementos: renovação da humanidade, testemunho, anúncio explicito, adesão do coração, entrada na comunidade, aceitação dos sinais e iniciativas de apostolado. Estes elementos podem afigurar-se contrastantes. Na realidade, porém, eles são complementares e reciprocamente enriquecedores uns dos outros. É necessário encarar sempre cada um deles na sua integração com os demais” EN 17
A evangelização deve voltar as suas raízes profundas na “alegria do Evangelho” o júbilo de acreditar em Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. Ela compromete-nos a avaliar sempre os nossos recursos estruturais e espirituais, primeiro dos quais é um “saber crer cristão”, capaz de esclarecer a própria questão do homem e de pôr em evidência que o gesto de crer e constitutivo da experiência humana de viver juntos. (Mc 8, 1-10)
A Igreja é grande pela tradição e pela experiência duradoura no tempo, é capaz de congregar homens e mulheres de todos os continentes, de todas as culturas e de todos os ambientes, levando a coexistir no seu seio as sensibilidades espirituais mais diversas. É grandiosa na sua vontade de se aproximar dos distantes, daqueles que a sociedade afasta ou que não foram devidamente evangelizados.
Cada cultura acolhe a Boa Notícia de Jesus que a Igreja comunica de uma forma e com intensidade diferente. A Igreja tem a missão fundamental de evangelizar, a forma de realizar esta missão deve estar em constante renovação para que os destinatários em qualquer tempo e lugar recebam com gratuidade está Boa Nova. A evangelização é tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Não podemos nos limitar a evangelizar de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, segundo a fórmula sugerida por Paulo VI. Não podemos nosso contentar com uma limpeza de fachada nem com um marketing missionário. A nossa identidade de crentes cristãos é conferida pela relação com o Deus da vida e da história. Não depende daquilo que possuímos, do que sabemos, e nem sequer daquilo que fazemos. Nasce da justificação pela fé como dom gratuito de Deus em Jesus Cristo.
O testemunho da caridade, o serviço gratuito à humanidade, o compromisso a favor dos pobres, a cooperação para viver todos unidos constituem o testemunho que os cristãos devem dar do evangelho de Jesus Cristo e do seu poder libertador. O Papa Francisco recorda-nos “Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor amando”. (Carta Apostólica do Ano da Vida Consagrada 04)
A urgência do evangelizador é a pregação como resposta ao mandato de Cristo: ide e evangelizai... não podemos nos deixar intimidar pelas dificuldades estruturais e humanas, a missão é de Deus. Na Igreja todos nós somos um povo, todos nós somos responsáveis pela missão. A missão é algo que não separamos do nosso ser (1 Cor 9,16). “Eu sou uma missão nesta terra, e para isto estou neste mundo. É preciso considerarmo-nos como que marcados pelo fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” (EG 273).
O Evangelho é para todos os tempos, mas cada tempo tem suas próprias urgências. Cada época precisa de um estilo de evangelização, de um tipo de evangelizador. A missão evangelizadora é jubilosa, produz alegria. A evangelização é uma questão de amor, de paixão por Jesus Cristo é pelo próximo. O amor apostólico consiste não apenas em tomar a iniciativa e em dar, mas inclusive em deixar-se surpreender e em receber. Os destinatários da missão são também sujeitos ativos. (Mc 2,13-17)
Não é suficiente propor a fé, trata-se de gerar crentes. (Mt 28,19-20) Gerar sementes para o semeador, gerar não significa transmitir uma mensagem, mas sim suscitar a vida, a vida em todas as dimensões. Sinal distintivos dos cristãos é estar presente nos lugares onde a vida é precária e ameaçada, nos lugares de resistência a tudo aquilo que degrada o ser humano, nos lugares onde possa testemunhar a fé cristã com uma força vital, de vida interior, assim como de convivência e de solidariedade. Somente gerando crentes, a Igreja poderá gerar-se a si mesma. Só permitindo que outras pessoas façam a experiência de um Deus que “se dirige aos homens como amigos”; que Igreja reconhecerá a si própria como fruto de Deus, entendendo a si mesma como uma Igreja de geração, chamada a nascer juntamente com aqueles dos quais se aproxima em nome de Jesus Cristo.
Os frutos que desejamos gerar, colher, alimentar e deixar sementes são: amor pela Palavra de Deus, senso da Eucaristia, formação e multiplicação das lideranças, visitadores missionários, auto sustentabilidade, gerar outras comunidades, formação liturgia, melhorias estruturais...
Grande oportunidade para nosso estilo de evangelização é a motivação da CEAST (Conferência episcopal de Angola São Tomé) que neste ano propõe a temática: a paróquia como centro da evangelização, tivemos oportunidade de elaborar subsídios para estudo bíblico sobre os temas mais relevantes para este ano, oportunidade de multiplicar o amor pela Palavra de Deus.
Em comunhão com a missão das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo de promover alfabetização e reforço escolar, práticas domésticas e culinárias entre a juventude; queremos recuperar e melhorar a autoestima de nossos irmãos e irmãs.
Não podemos visualizar o comportamento alheio livre de sua própria predisposição cultural, nem o conseguiriam aqueles que estão a observar o nosso comportamento. Podemos nos adaptar com sucesso ao ambiente cultural desconhecido, ao observar, ouvir, exercitar um pouco de paciência e tolerância e, silenciosamente, modular nosso próprio comportamento. Enquanto isso, procuraremos discernir a dádiva de Deus nesta vida enredada, muitas vezes confusa, e seguir Cristo, que “abre passagens onde a humanidade se torna complicada”. Pela misericórdia de Deus poderemos ouvir o que Isabel disse a Maria: “feliz és tu que creste, porque se cumprirá o que o Senhor te anunciou” (Lc1, 45). Abrir passagens não é a mesma coisa que encontrar soluções. Abrir passagens com Cristo, no coração da nossa vida enredada, tem algo a ver com a salvação.
Pe. Renato Dutra Borges, SDN
Pe. Odésio Magno da Silva, SDN
Normalmente nós cristão somos muito tarefeiros, enquanto corremos, deixamos espaços vazios, que deveriam ser melhor aproveitados. Ou seja preparar a terra, esperar o tempo certo de semear, cuidar para florescer...
ResponderExcluir"Abrir passagem nao e o mesmo que encontrar soluçao." Exige uma reflexao mais profunda, quantas vezes so encontramos soluçao, ou seja apagamos fogo e nada se transforma nada, nem dentro ou fora de nos!!
ResponderExcluir