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sábado, 13 de outubro de 2018



História do medo no ocidente (1300 – 1800)
Jean Delumeau

Não temos história do amor, da morte, da piedade, da crueldade, da alegria.” A queixa do historiador Lucien Febvre, em 1948, muito repetida desde então, tornou-se quase um manifesto da disciplina que se convencionou chama a “história das mentalidades”. Uma das lacunas que o fundador da escola dos Annales deplorava foi preenchida pela História do Medo no Ocidente, obra de 1978 e já hoje um clássico.

Ao tornar objeto de estudo o medo, Jean Delumeau parte da ideia de que não apenas os indivíduos mas também as coletividades estão engajadas num dialogo permanente com a menos heroica das paixões humanas. Revelando-nos os pesadelos mais íntimos da civilização ocidental do século XIV ao XVIII – o mar, as trevas, a peste, a fome, a bruxaria, o Apocalipse, Satã e seus agentes – o grande pensador francês realiza uma obra sem precedentes na historiografia do Ocidente.

Se não se consegue afastar completamente o medo para fora de seus muros, ao menos enfraquecê-lo o suficiente para que possa viver com ele.

            Divide-se em duas partes
            Os medos da maioria na primeira parte e a Cultura dirigente do edo numa segunda parte.

A leitura torna-se agradável a partir do primeiro capitulo e prossegue assim ate o seu final. O nível de literatura não é denso e nem exigente demais, sendo que qualquer leigo pode ler sem praticamente nenhum problema por ser de fácil compreensão e envolvimento com o tema.

As civilizações estão comprometidas num diálogo constante com o medo. Trata-se de colocar em seu lugar um complexo de sentimentos que, considerando as latitudes e as épocas, não pode deixar de desempenhar um papel capital na história das sociedades humanas para nos próximas e familiares.

Três limites do trabalho
1 - Não se trata de construir a história a partir do “exclusivo sentimento de medo”
2 - Fronteiras de tempo e espaço 1348 a 1800
3 - setor geográfico da humanidade do Ocidente

Por que o silêncio prolongado sobre o papel do medo na história?
Sem duvida, por causa de uma confusão mental amplamente difundida entre medo é covardia, coragem e temeridade.

A palavra medo está carregada de tanta vergonha que a escondemos. Enterramos no mais profundo de nós o medo que nos domina as entranhas.
“O medo é a prova de um nascimento baixo” Virgílio, Eneida IV
“A pobreza do povo é a defesa da monarquia... a indigência e a miséria eliminam toda coragem, embrutecem as almas, acomodam-nas ao sofrimento e à escravidão e as oprimem a ponto de tirar-lhes toda energia para sacudir o jugo”. Thomás More
O medo nasceu com o homem na mais obscura das eras e acompanha-nos por toda nossa existência. Jakov Lind
Os homens usam amuletos, os animais não...
Quando nasci minha mãe deu luz gêmeos, meu irmão gêmeo é o medo!

Quem quer que seja presa do medo corre o risco de desagregar-se. Sua personalidade se desfaz, a impressão de reconforto dada pela adesão ao mundo desaparece; o ser se torna separado, outro, estranho. O tempo para, o espaço encolhe.

Os antigos viam no medo um poder mais forte do que os homem, cujas graças podiam ser ganhas por meio de oferendas apropriadas, desviando então para o inimigo sua ação aterrorizante.

O medo tem um objeto determinado aniquilar se pode fazer frente. A angústia não o tem e é vivida numa espera dolorosa diante de um perigo tanto mais terrível quanto menos claramente identificado: é um sentimento global de insegurança. Desse modo, a angústia é mais difícil de superar que o medo.

O ocidente venceu a angústia “nomeado”, isto é, identificando, ou até fabricando medos particulares
Três formas de superação do medo no ocidente. Esquecimentos, remédios e audácias. Dos paraísos aos fervores místicos, passando pela proteção dos anjos da guarda e pela de São José, patrono da boa morte. Percorreremos ao final um universo tranquilizador onde o homem se liberta do medo e se abre para alegria.

Pode parecer desanimador e ate mesmo intimidador com as suas 700 paginas, discorrendo sobre um único tema, que é a historia do medo. Mas observando-se o índice, podemos notar que contem uma ampla diversidade de assuntos, cada qual abordado de forma apropriada e sem perder o fio da meada.

Aborda muitos aspectos como a peste, a Idade Média, o comportamento dos homens de antigamente, as personalidades e os seus retratos psicológicos, as doenças, a morte, as guerras, os boatos e sedições, as revoltas, a fome, os demônios, a Inquisição, os muçulmanos, a Conquista das Américas, a cristianização dos povos, heresias, bruxarias, superstições, etc. Enfim, podemos dizer que aborda uma ampla gama de assuntos, com vastas referencias bibliográficas.

A leitura é altamente esclarecedora sobre vários eventos obscuros da Idade Media, do qual não tínhamos conhecimento nenhum. Por exemplo, o medo do Apocalipse e o Juízo Final que dominou a mentalidade europeia dos séculos XIV até o XVII, que acabou influenciando a História em seu curso quando da Reforma Protestante (e em certa medida podemos observar esses comportamentos ainda hoje), ou então o medo excessivo de Satanás, que também acabou por influenciar o curso da Conquista das Américas.

E também temos interessantes relatos de como surgiu o antissemitismo na Europa, que era esparso e raro até o seculo XII, no qual passou a se intensificar a partir do século XIV, em que esse antijudaismo se tornou “unificado, teorizado, generalizado e clericalizado”. Podemos ver como se originaram os guetos, o que foi feito contra os judeus, como surgiram as desculpas para os massacres e progroms, as justificativas religiosas, quem foram os perseguidores, etc. Dado relevante é o impulso antissemita na Europa que foi dado pelos protestantes com as obras “Contra os judeus e suas mentiras” e “Shem Hemephoras”, escritas por nada menos que o Martinho Lutero. E parte dessas perseguições culminaram no Holocausto de nosso século XX.

Uma outra coisa que eu considero bastante útil é o tratamento dado às mulheres que sofreram e muito nas mãos dos europeus durante os séculos XII a XVIII.

A leitura é altamente recomendável para quem gosta de ler sobre Historia, aprender mais sobre o nosso passado, a influencia desses tempos medievais na construção da moderna sociedade atual e a formação do caráter da civilização Ocidental

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quarta-feira, 10 de outubro de 2018


O pavilhão dos padres – Dachau 1938-1945
Guillaume Zeller

Introdução
 “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles.” (Hebreus 13, 3)

Pawel, Alois e Boleslaw Prabucki são irmãos. Nascidos em Iwiczno, na Polónia, em 1893, 1896 e 1902, optam os três por consagrar as suas vidas a Deus tornando-se padres da diocese de Chelmno.
Nesta região, durante muito tempo disputada pela Alemanha e a Polónia, o primeiro torna-se pároco de Gostkowo, o segundo pároco de Gronowo e o terceiro vigário de Mokre.
No outono de 1939, pouco após a derrota da Polónia diante dos exércitos do 3.º Reich, são detidos pelos nazis, motivados pela vontade de decapitar as elites polacas.
Os três irmãos são enviados para o campo de concentração de Oranienburg-Sachsenhausen, a norte de Berlim. A 14 de dezembro de 1940 são transderidos para Dachau, o campo-protótipo do sistema SS, implantado no coração da Baviera.
Pawel, Alois e Boleslaw são desde então os presos 22661, 22686 e 22685. Depois de meses de sofrimentos intensos, esfomeado, esgotado, Alois é o primeiro a morrer a 17 de outubro de 1942 e a desaparecer nas entranhas do crematório.
Menos de um mês mais tarde, a 14 de agosto, Boleslaw foi selecionado para ser gazeado no castelo de Hartheim, o enorme centro de eutanásia instalado na Áustria.
No momento da partida, Pawel, abatido, traça o sinal da cruz sobre a fronte do seu irmão, pede-lhe para abraçar os seus pais e Alois no céu, e assegura-lhe sua chegada próxima entre eles. Boleslaw desaparece. Dezasseis dias depois, a 30 de agosto, Pawel cumpre a promessa e morre em Dachau.
Os irmãos Prabucki são três dos 2579 padres, religiosos e seminaristas católicos, vindos da Europa ocupada, encarcerados no campo de Dachau pelos nazis entre 1938 e 1945. A história destes homens é mal conhecida, oculta no processo concentracionário global.
Por outro lado, eles são eclipsados por duas grandes figuras mártires católicos, assassinadas em Auschwitz: o franciscano Miximiliano Kolbe, morto a 14 de agosto de 1941 com uma injeção de fenol, depois de ter sido deixado dias à fome, e a carmelita Teresa-Benedita da Cruz, nascida Edith Stein, judia convertida, antiga assistente de Edmund Husserl, gaseada em Birkenau no dia 9 de agosto de 1942. Ambos foram canonizados.
Quem sabe, todavia, que em Dachau duas a três barracas em trinta são ocupadas em permanência por eclesiásticos de 1940 a 1945? Elites polacas, opositores políticos alemães, austríacos ou checoslovacos, resistentes belgas, holandeses, franceses, luxemburgueses, italianos... De todas as nações e de todas as idades, padres são reagrupados atrás do arame farpado de Dachau, aplicando um acordo arrancado pela diplomacia do Vaticano ao Reich.
Durante oito anos, as tragédias e os gestos magníficos pontuam o itinerário do clero de Dachau, da tenebrosa marcha forçada da "semana santa" de 1942 ao heroico enclausuramento voluntário de padres nas barracas dos moribundos de tifo, passando pela comovedora ordenação clandestina de um jovem diácono alemão tuberculoso por um bispo francês, visto como marechalista [próximo do marechal Pétain, que governou a França unido ao regime nazi e que depois da guerra foi condenado por traição], honrado depois como "Justo Entre as Nações" no memorial de Yad Vashem, em Israel.
Nunca, ao longo da história, mesmo nas piores horas do terror francês ou da perseguição comunista, tantos padres, religiosos e seminaristas foram assassinados num espaço tão restrito: 1034 deixaram lá a vida.
Além dos itinerários pessoais de que é composta, a história dos padres de Dachau - aos quais se acrescentam 141 religiosos de outras confissões, protestantes e ortodoxas na sua larga maioria - permite uma luz nova sobre o sistema concentracionário hitleriano, sobre o anticristianismo intrínseco do nazismo, e, para lá do estrito campo histórico, sobre a fé e o compromisso espiritual.
Em que é que a experiência dos padres detidos em Dachau se junta à dos seus camaradas laicos? Quais foram os seus privilégios e quais foram os seus sofrimentos específicos. As perseguições empreendidas pelos nazis contra o clero procedem de convicções ideológicas ou políticas? A fé e o compromisso religioso dos padres armaram-nos ou desarmaram-nos face à desumanização seguida nos campos? As suas convicções morais, forjadas pelo Evangelho e a tradição da Igreja, resistiram à perversão dos valores impostos pelas SS? A experiência sofrida pelos padres de Dachau levou frutos ao seio da instituição eclesial, mas também ao exterior, às periferias da Igreja? Retraçar esta história singular, fragmento do drama concentracionário, permite esboçar respostas a estas diferentes questões.

Reagrupados em “blocos” específicos – que conservam para a história o nome de “o pavilhão dos padres”, 1034 deixaram lá a vida. Polacos, belgas, alemães, italianos, checos, iugoslavos: por trás do arame farpado de Dachau, a «universidade da Igreja» é palpável.
Estes homens que, numa Europa ainda cristianizada, eram detentores de um estatuto respeitável, por vezes eminente, viram-se na situação oposta, no meio da fome, frio, doenças, trabalho esgotante, golpes das forças de segurança e experiências médicas.
Alguns cederam ao desespero, outros – a maioria – não se curvaram, talvez apoiados pela sua fé. Partilhando a sorte comum dos deportados, os padres de Dachau esforçaram-se por manter intacta a sua vida espiritual e sacerdotal. Uma capela, a única autorizada em todo o sistema de campos de concentração, proporcionou-lhes uma ajuda considerável.
Esta experiência única na história da Igreja oferece uma nova luz às relações entre o nazismo e o cristianismo. Mais de 70 anos após a sua libertação, o campo de concentração de Dachau continua a ser o maior cemitério de padres católicos do mundo.

Crítica
Frederic Le Moal (lelitteraire.com)
É raro que um livro de história suscite emoções. É todavia o caso do estudo original de Guillaume Zeller sobre o calvário sofrido pelos padres católicos no campo de concentração de Dachau, o primeiro dos campos criados pelos nazis e o último libertado.
O conteúdo propriamente histórico da obra reside nas informações preciosas sobre as perseguições nazis contra a Igreja católica e os seus padres. A força do ódio anticristão, consubstancial ao anti-semitismo, a par da resistência espiritual mas também política do clero, impelem os dirigentes nazis a multiplicar as prisões de sacerdotes. Num primeiro tempo, a repressão abate-se sobretudo nos territórios ocupados, depois, a partir da guerra, sobre a Alemanha. Ao início disseminados em vários campos, os padres são reunidos, sob pressão do Vaticano, em Dachau. Aqui será o seu Gólgota.
É neste campo que os padres conhecerão o martírio dos outros deportados: a fome, a violência, as experiências médicas atrozes, mas também humilhações ligadas ao seu estatuto de homens de Deus e servidores da Igreja católica. Em páginas muito fortes, Guillaume Zeller descreve o sadismo das SS e dos seus sequazes, as torturas, a banalização da morte, a devastação do tifo. Nada faltou.
Mas as páginas sem dúvida mais emocionantes situam-se na última parte do livro. O autor dedica vários capítulos à intensidade da vida religiosa em torno da capela criada no interior do campo. Os padres, acompanhados por um bispo francês deportado por factos relacionados com a Resistência, conseguem celebrar missas e, sobretudo, distribuir a Comunhão aos prisioneiros, mantendo acesa uma vida sacramental que não se suporia. Um jovem chegou mesmo a ser ordenado padre.
Aqueles que duvidam dos benefícios da liturgia anterior ao Concílio Vaticano II, ficarão talvez convencidos pela união forjada pelo latim. Como escreve um sobrevivente, o fato de o padre dizer as mesmas palavras latinas que todos os seus irmãos no sacerdócio, à mesma hora, repetidas no mundo inteiro, faz-lhe esquecer o inferno do campo de concentração. E que dizer do poder da hóstia escondida nas vestes e do conforto da oração?
Este livro supera a primeira impressão que poderia dar (uma soma de testemunhos). Ele fará descobrir a numerosos leitores que os padres católicos foram também engolidos no sistema concentracionário nazi, e sobretudo que nunca estas vítimas duvidaram da presença de Deus, mesmo naquele inferno sobre a terra.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018


Vinde benditos do meu Pai.

“Omu mwacilingilile umwe wakuli ava vambumbwani, cipwe ava vavandende cikuma, mukiko vene mwacilingile kuli ami” (Mt 25,40)

Graças, grato, gratíssimo... Ter oportunidade de vivenciar o Evangelho em outra cultura foi oportunidade de reconhecer a Providencia Divina que acompanha todo missionário, pois nossa capacidade intelectual ou financeira não consegue responder a muitas demandas. Somos levados a aprofundar nossa humildade se desejarmos ajudar ou penetrar mais na cultura que nos recebe. Celebrar e cuidar da esperança dos mais sofridos é “missão de todos nós”, mais ainda para nós missionários sacramentinos, pois “somos devedores do Evangelho a todas as pessoas, especialmente aos mais pobres que somos enviados a evangelizar” (Constituições SDN 79)
Fazer parte de uma nova história para muitas pessoas gera uma alegria missionária sem medidas; perceber o ministério sacerdotal como fonte de integração e esperança. Alegria também de crescer como pessoa, pois viver em uma cultura diferente nos tira de nossa zona de conforto e nos dá novas interpretações sobre nós mesmos e as relações que estabelecemos com a sociedade... a vida ficou mais simples depois de viver estes 6 anos em Angola. Alegria também de saber que não estamos sozinhos nesta missão, que encanta, desafia e estimula muitas pessoas, alegria de perceber o quanto esta missão é mais que dos Missionários Sacramentinos.
A missão em África para nos Sacramentinos é muito significativa, pois estamos nos abrindo ao clamor da Igreja que vem desde os tempos dos Apostólicos: "ide por o mundo e pregai o evangelho..."
“Vinde benditos de meu Pai.” Ser acolhido com esta frase é o grande objetivo do cristão, ter colocado em prática os ensinamentos de Jesus no dia a dia, na obra missionária, garantir a vida em plenitude para todos. A gratuidade da missão, a alegria de servir, o amor ao próximo são nosso passaporte para entrar no Reinado de Deus.
Um grande passo missionário está sendo realizado este ano em nossa congregação, a continuidade da missão em Angola foi uma das prioridades do XVI capítulo geral da congregação, que decidiu fortalecer nossa presença missionária, serão três missionários sacramentinos nesta missão, Pe. Odésio Magno da Silva, que está a 4 anos, Pe. Geraldo Magela de Lima Mayrink e Pe. Valdecir Paulo Martins. Onde há um sacramentino toda congregação se faz presente. Nosso desejo é sermos testemunhos do amor de Deus revelado por Jesus Cristo na construção do Reino de Deus. Quanto mais Sacramentinos se deixarem encharcar numa outra cultura, sendo hóspedes na casa do outro, mais eficaz será nosso caminho missionário. A vivência da fé, da partilha, da solidariedade, da comunhão que vivemos enquanto missionários sacramentinos é o que desejamos oferecer a toda cultura que nos recebe.
Nosso desejo também é oferecer a todos os leigos e leigas que conosco partilham a missão de eucaristizar a mundo do jeito de Maria a oportunidade de ter um caminho novo e desafiante para nosso testemunho de discípulos-missionários de Jesus Cristo. Por isso desejamos contar com vossas orações, por estes irmãos que estão nesta frente missionária em Angola.
Vivemos na Igreja Latino-americana o clamor da missionariedade no contexto da conferência de Aparecida, no impulso missionário de uma Igreja em saída, para atrair as pessoas através de nosso amor a Cristo e a Igreja estimulado pelos escritos do Papa Francisco. Queremos oferecer a Igreja em Angola, precisamente a Diocese de Lwena, nosso jeito de viver a fé em Jesus Cristo, sermos testemunhas do Reino de Deus e aprofundar o sentido missionário de nossa congregação.
A missão além fronteiras tem seu preço, fazer esta passagem para outra realidade sócio-politica-cultural tem muitas exigências. Sim, existe o temor, os familiares dos missionários vivem uma certa “angustia”, pois não estão perto dos que amam e inseguros por não ter muitas informações sobre as condições de vida em que estão inseridos. O medo faz parte da condição humana, ele nos faz mais atentos a realidade em que estamos mergulhados, nos torna mais criativos diante das crises que vivemos, nos torna mais orantes, confiante na Graça e na providencia divina; diferente do pânico ou terror que paralisa a pessoa.
Assumir outra cultura é assumi-lá como um todo; as conquistas sociais, as políticas publicas que a sociedade brasileira possui São frutos de nossa construção histórica. Ao ir para outra cultura devemos ter a consciência de “perder”, deixar estes direitos adquiridos. O medo de ficar doente, do poder político, das crises econômicas, da falta de estruturas sociais...
O missionário se prepara para enfrentar com criatividade os temores. O tempo de Deus é de Deus e o nosso tempo é o nosso, procurar viver como bons hospedes na "casa" de nossos anfitriões, com tudo que eles tem de virtudes e de limites, pois as mesmas alegrias e esperanças, as tristezas e angustias desde povo também serão as do missionário. Toda vez que fizestes isto a um deste meus irmãos mais pequeninos foi a mim que fizestes. (Mt 25,40).
            Que Maria, Nossa Senhora da Eucaristia, Mãe de Jesus, nossa Mãe e Mãe da Igreja, seja e estimulo para nossa ação missionária deste lada do oceano atlântico ou do outro lado em Angola. Que o Servo de Deus Pe. Julio Maria de Lombarde seja nosso exemplo de missionariedade.
Tumenu Mwata vakakuzata vamalunga namapwevo muwande wenu.
Mwomo Wande wenu waunene vakakuzata vamalunga namapwevo vavandende.
Envia Senhor trabalhadores, homens e mulheres para vossa lavra.
Pois a lavra é grande, os trabalhadores homens e mulheres são poucos.

quarta-feira, 4 de abril de 2018


A FORÇA DA PALAVRA OUVIDA E ANUNCIADA

Não são palavras que possam ser ouvidas, mas seu som ressoa e se espalha por toda terra... (Sl 19,5)

Quando desejamos aprender procuramos lugares seguros para obter informação e formação de confiança, instituições com qualidade comprovada, livros e enciclopédias consagrados... todo este saber torna a pessoa especialista em determinados assuntos.
 O que aprendi na convivencia com alguns povos angolanos estão em outra dimensão de conhecimento, vivemos sobre o poder da racionalidade, outra compreeensao logica do tempo e do espaco, estar atento ao “molho” cultural em que se esta inserido é fundamental para apreender valores e refletir sobre a cultura que me formou ou formatou.
 Com estes artigos pretendo partilhar vivencias que acolhi na apredizagem com pessoas e situações para cultivar a proximidade de Deus e das pessoas, pois partilhar a missao aquece o coração.
Ao longo de 06 anos (2012 a 2017) pode conhecer e participar de momentos unicos de aprendizagem oferecidas por estas situações dramaticas, engraçadas e profundamante espirituais. Em cada convivio, em cada perscepção do olhar, em cada palavra ouvida ou promunciada numa cultura que não é a nossa de origem, acontece um novo, um maravilhar-se pela simplicidade e facilidade deste novo aprendizado recebido ou transmitido 
A revolução cultural que arancou da tradição oral a primasia da transmissao do conhecimento, gestou e pariu uma forma de aprendizagem “bancaria”, onde posso depositar todo conhecimento em um acumulado de folhas de papel, pois esta seguro e ninguem pode ensinar de forma diferente, pois já parte do presuposto que pensar diferente do livro já é errado.  
Na transmissão do conhecimento da tradição oral percebe-se que o mais importante é mesmo o individuo, a pessoa, sendo portador de uma mensagem decorada (decoração – de coração) leva ao coração do outro, transmite mais que palavras presas no papel , mas tem possibilidade de transmitir o imaterial, o sentimento e a emoção da força que cada palavra tem e carega dentro dela mesma.
Instruir uma pessoa nesta forma de transmissão demanda tempo e desejo. Inculcar conhecimento, valores e tradições exige repetição, era o método de ensino das culturas de tradição oral, uma repetição que inspirava a guardar as palavras como um jogo, um delicado jogo da verdade e sensibilidade que estao além da repetição mecanica de frases ordenadas.
Na tradição angolana aparece a figura do “ngueji”, (mensageiro) o que trouxe a mensagem ou foi enviado a mensagem. (Os missionários recebem também este nome, pois são portadores da mensagem de Deus para este povo).
O que é de grande importancia para o missionario é a capacidade de ser ouvido, ter a palavra multiplicada e compreeendida pelos destinatários de sua missão. Conseguimos muitos semeadores/multiplicadores destas palavras, pois onde temos nossa missão, os meios “modernos” de comunicação ainda não chegaram, a “mensagem” enviada como carta se transforma em documento, extensão da própria pessoa que escreveu, com o poder de gerar proximidade e segurança atraves daquelas palavras...
Por muitas vezes recebi estes mensageiros na casa paroquial, vindos das nossas comunidades, das mais perto cerca de 20 km  as mais distantes 150 km, trazendo mensagens escritas, (por não saber falar portugues) ou mensagem falada. “Senhor padre, tenho uma mensagem para vós”, esta é a expressao usada para aproximar, logo após se apresenta. Mensagem entregue, o ngueji fica esperando a resposta para levar de volta a sua comunidade ou a pessoa que o enviou.
Quando ocorre um encontro entre duas pessoas que são portadoras desta cultura oral acontece ao belo, a partilha de vida, dos fatos, das estruturas... o mujimbo, notícia sobre o que ocorreu durante a ausencia de uma pessoa, a atualização se faz de maneira pausada e com expressões de agradecimento por tais informações partilhadas, quando aqueles dois seguem os caminhos que a história lhes oferece, encontram outras pessoas e lhes oferecem o mujimbo acrescentado por aquele encontro anterior, assim as informações e conhecimentos são transmitidos com grande naturalidade e simplicidade.
Resgatar a importancia da presença física das pessoas pela força da palavra dita e ouvida é uma necessidade urgente para nosso tempo, tao recortado pela frieza das telas dos smartfones, que só conhecem o calor da bateria, sem calor humano iradiado desta fonte.
Influenciados pelo tempo e por outras formas de interesse humano as mensagens verbais também vão perdendo valor nestas culturas, pois a confiança na palavra da pessoa esta prejudicada pela quantidade de informação ou de pessoas que desejam aparecer e por isso aparecem as notícias falsas, fazendo desabar toda uma tradição cultural milenar e saudável que fez tal cultura pernanecer até nossos dias.
A religião contribui muito para que está tradição da palavra dita e ouvida esteja presente em nosso meio, grande fruto das Comunidades Eclesias de Base, é este poder de dizer a própria palavra  e ouvir a palavra do outro para estabelecer compromissos comuns pela força da palavra partilhada... resistir pela fé nos torna profetas da escuta e da fala, profetas da presença, profetas da atenção a pessoa concreta, fazendo resoar a força da Palavra com nossas atitudes.