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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Escatologia Paulina


Tensão entre o Presente e o Vindouro


A esperança é um dos bens da existência humana. Paulo percebeu claramente tal fenômeno, sua mensagem de salvação é dirigida ao SH concreto, ameaçado, desperançado. “O ser humano é um ser insatisfeito. Finitude consciente e ânsia de existência perdurável, ser imperfeito e aberto a um constante aperfeiçoamento, o ser humano existe e tem que existir projetando-se” Neste projetar-se o ser humano (SH) demonstra sua abertura ao futuro, ao desconhecido, à aquilo que só se pode pensar.

         Paulo descreve a vida cristã como tensão, como vigília extremamente ativa e dinâmica, em função do encontro com Cristo Ressuscitado, e define como o SH deseja a vinda de seu Senhor. Por isso Paulo olha a morte como contingência: um fato que afeta o SH, mas que já não pode ser obstáculo à sua esperança nem construir, por outra parte, um condicionamento dela. Por isso também, considera o Céu, antes de tudo, como dialogo, afloração perpetua da amizade, quando o cristão estiver ‘para sempre com o Senhor”(I Tess 4,17), participando de sua glória e seu triunfo.

         Na Bíblia encontra-se a riqueza muito grande desta busca de esperança e sua concretização. O Primeiro Testamento (IT) sublinha o caráter efêmero da existência humana, especialmente a debilidade e carência da criatura que não pode valorizar-se, completar-se, em uma palavra, transcender-se, sem receber de Deus os bens que não possui por si mesma. Para a Bíblia o tempo é dimensão necessária à condição humana. Não é nem circular, nem helicoidal, nem simbólico, como nas concepções pagãs. É retilíneo e irreversível, um tempo vetorial. Parte de um ponto e caminha em uma direção. Cada segmento tem seu significado e posição própria. Nele se dá a realização de um designo, de uma “economia “divina. Por isso Abraão, que parte para não voltar e aceita “aventura” do tempo, é o modelo do israelita, sempre a caminho, e cuja atitude religiosa é a expectação, a espera.

         O IT tem sua continuidade no Segundo Testamento (IIT). Há, porém, uma mudança de perspectivas, na qual insiste Paulo: ‘Para o judaísmo, o ponto central do tempo está situado no futuro: o mundo novo ficará inaugurado com a vinda do messias, nos tempos vindouros. O cristianismo—sem perder de vista a meta final—coloca o ponto central no passado: o momento decisivo é aquele em que Cristo apareceu sobre a terra, dividindo em duas partes a historia humana.” Esse é para Paulo, o momento-cume, o grande ‘agora”, a plenitude dos tempos (Gal 4,4). Começaram ao dias salutares, o tempo favorável, e cada um pode, escutando a palavra de salvação, empreender o caminho que conduz à sua posse plena.

         Pode-se dizer, que, segundo a Bíblia, a existência humana é contingente, precariedade, finitude; mas é tudo isso enquanto é caminho, projeção, transcendência, para aquele que é sua princípio e fim e no qual encontra todo o seu cumprimento e plenitude. Eis por que a versão escatológica de Paulo como em todo IIT, é um fato fundamental. Trata-se de que toda vida cristã, inclusive a vida presente, está sob a luz escatológica. E os traços essenciais da teologia paulina não podem compreender sem essa visão. Para Paulo o cristão é peregrino, SH sempre em marcha. Os verbos de movimento: na primeira carta aos Coríntios o processo da luta, da ascese cristã, está em paralelo com a corrida dos atletas, metáfora que contem a exortação a correr de maneira a alcançar a meta. Aos Gálatas escreve: “Correis bem”. De si mesmo afirma “Prossigo em direção do alvo’. E já próximo da morte, resume toda sua vida de apostolo nesta expressão: “Terminei minha carreira” (2Tm 4,7).

         Se o cristão deve estar sempre em marcha, é porque não tem aqui na terra morada permanente; é membro da Jerusalém celeste (Gal 4,26) cidadão do Céu (Fl 3,20); pertence ao século futuro, ao mesmo tempo que vive no presente. Tem , pois, uma meta bem definida e sabe para onde vai; embora caminhe não na visão, mas na noite da fé. Com relação a essa meta do peregrinar cristão, o pensamento de Paulo, ainda sem perder a orientação ultima da glorificação escatológica, apresenta matizes, que vem a ser aspectos complementares da mesma realidade. Por isso Paulo exorta aos Efésios (4,1) “a caminhar de um modo digno de sua vocação” cujos frutos são bondade, justiça e verdade, concretizando nesses três termos a imagem do cristão perfeito. A maturidade cristã, da perfeição da vida espiritual, como meta ardentemente desejada, fala Paulo aos Filipenses, descrevendo sua própria experiência. A passagem se reveste de humilde confissão: Não que eu já tenha alcançado o premio ou que já seja perfeito, mas prossigo minha carreira para ver se de algum modo o poderei alcançar, visto que eu fui apreendido por Cristo Jesus (Fl 3,20).

         Paulo, que descreve a vida cristão como caminho, assinala também as atitudes fundamentais dessa vida: na fé, na esperança e na caridade, o cristão tende, por meio de Cristo e no Espírito Santo, ao Pai. Desse modo, vai progressivamente aprofundando no mistério de comunhão que é a vida cristã, até que seja admitido na plena comunhão da glória. A afirmação teologal de Paulo sobre a fé, esperança e caridade, aparecem mais dez vezes (Rm 12,6.9.12.; Ef 4,2-5; 2Ts 1,3-4; 1 Tm 1,14-16; 2Tm 3,10; At 6,10-12; 10,22-24; Cl 1, 4-5; 1 Cor 11-13).

         Na primeira carta aos Tessolonices, caracteriza-se a atitude dos cristãos, diante daqueles que não são, servindo-se de uma alegoria da vida militar e exortando-os a revestir-se da “couraça da fé e da caridade , e do elmo da esperança da salvação”. Do mesmo modo, a fé em Cristo Jesus, que confessam os Colossenses e sua caridade para com os santos, em vista da esperança que lhes está reservada na outra vida é para ele motivo de alegria e de incessantes ações de graças. Aos Gálatas recorda que “o Espírito nos move a esperar os bens da justiça” e que em Cristo Jesus só tem validez a fé que opera pela caridade.

         As relações entre a Fé e a Esperança vem expressas na epistola aos Hebreus ‘A fé é a firme segurança do que esperamos, a convicção do que não vemos’. Isto é, a fé é a base e o suporte da esperança, já que esta tem por objeto bens futuros e invisíveis e que devem ser, portanto, previamente, objeto da fé. A Esperança não ficará, porque o amor de Deus se derramou em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm5,5).

         Paulo mostra a face autentica da esperança: ninguém mais livre nem ativo que o SH de esperança, o verdadeiro cristão.A perspectiva escatológica, que define sua vida, reclama do cristão o Maximo de atenção e de lucidez. Não se trata de estar próximo e alerta, mas se lhe pede também uma atitude dinâmica, capaz de determinar um estilo de vida.

         A vida cristã é tensão, é vigília extremamente ativa e dinâmica, Por isso Paulo olha a morte como contingência. Vida e morte são duas noções complementares para Paulo; a primeira tem toda plenitude, não só a existência do composto humano, mas sobretudo, a vida de graça e a vida da gloria: a participação na justiça d e Cristo, a Bem-aventurança celestial. Paralelamente, a morte designa, nos escritos paulinos, ora a separação física da alma e do corpo, ora a privação da graça santificante; ora a condenação eterna, que no evangelho de João é chamada de segunda morte; outras vezes significa todas essas juntas, unidas por um laço de intima dependência.

         Na carta aos Romanos, todos os efeitos do pecado são compreendidos sob o nome de morte e todos os efeitos da graça como vida. Ao horror diante da morte, Paulo expressa aos Coríntios quando lhes diz que a passagem para a vida, sem ter que atravessar o difícil transe da morte, é um reverti-se que se espera com ardor para qual o mortal seja absorvido pela vida (2 Cor 15,21). A segunda parte da Carta aos Romanos constitui uma argumentação comprovada da segurança da esperança, fundamentada no amor de Deus ao SH.

         Paulo ainda acentua o aspecto de nossa participação na morte de Cristo, servido-se do simbolismo do Batismo. A participação na morte de Cristo, começada no Batismo, é fortalecida, em cada sacramento, no âmbito da mistério, e faz-se perceptível à nossa experiência nas dores e padecimentos da vida para atingir sua plenitude na morte corporal. Tal morte vem a ser, assim, a ultima e suprema possibilidade de participação na morte de Cristo. É nisso precisamente que se revela sua face autentica, não só o ponto final, causal ou naturalmente sucedido da vida que declina, senão o supremo desenvolvimento e maturação daquilo que foi fundamento no batismo.

         A razão ultima do cristão diante da morte está em que ela é fruto do pecado; é, portanto, em ultima analise, a angustia ante o afastamento de Deus. Porque não há duvida de que o sentido mais profundo da morte consiste em ser um encontro do SH com Deus, um processo entre Deus e a pessoa humana, algo que acontece entre a solidão do Tu divino e do eu humano. Por outra parte, quanto mais Deus se aproxima dele, tanto mais claramente vê o SH sua oposição a Deus, tanto mais aprende a medir-se sua insuficiência e impureza com a medida de Deus, a sentir-se pecador. Está é a angústia do SH diante  da morte.

         Há nos cristãos muitas atitudes falsas, em relação a essa outra vida, que chamamos céu. As mais freqüentes consistem em imaginar o céu como compensação das fraquezas, às ignorâncias e misérias da terra; como solução às injustiças sociais de nosso mundo; como desculpa do não compromisso nas tarefas terrestres, ou uma espécie de espetáculo para espectadores passivos e fechados em si mesmos. A noção paulina de céu difere completamente de tudo isso. Para conhecer o que é céu, na mente de Paulo, há uma expressão chave em seus escritos “ estar com Cristo”. Paulo fala também do céu como experiência inefável, como visão face a face (1 Cor 12,2-4). Não há duvida, porém, de que, para Paulo, o ceu se centraliza, antes de tudo, em uma pessoa –Jesus Cristo— e que “estar com Cristo” resume tudo. O conteúdo desta frase permite-nos afirmar portanto, que se para Paulo a vida é tensão, e a morte contingência, o céu é, antes de tudo, diálogo, plena floração da amizade, amizade com Cristo. Esse dialogo, começado sobre a terra, na união germinal e imperfeita da graça, pode desenvolver-se e culmina na perfeita união escatológica.

         Paulo sabe que a plenitude do ‘estar com Cristo’ só se conquistará na Parusia, quando o Cristo glorioso vier do céu para transformar nosso corpo e torna-lo semelhante ao seu (Fl 3,20-21).Por isso vive totalmente orientado para a parusia. A volta de Cristo está continuamente no horizonte de seus pensamentos.Nada exerce sobre ele influencia tão poderosos como essa espera. Com ela consola e reconforta o coração dos crente nas tribulações (1Cor 7,26; 16,22; Tm 1,12). Nela se apóia para pedir-lhes Constancia e fidelidade. Os textos escatológicos, mais extensos de toda a literatura neotestamentaria, encontram-se em suas cartas

         O cristão (ã) sensível aos sinais dos tempos, não pode colocar-se fora desta realidade histórica: vivemos a hora da esperança, pois ela venceu o medo. Na ordem das esperanças humanas, as pessoas e os grupos sociais estão sedentos de vida plena e de vida livre, digna do SH, que coloque a seu serviço as imensas possibilidades que lhes oferece a cultura atual. Na ordem da esperança supraterrena, o SH sente-se limitado em seus desejos e chamado a uma vida superior. A inquietação, a expectativa formam desse modo a trama de sua existência e dão a Tonica à conjuntura histórica presente. Daí, a grande atualidade da doutrina paulina, com sua teologia da esperança.

         Paulo traz à luz, em muitas passagens, a dialética da esperança e ensina aos cristãos(ãs) que lhes foi dada a existência celestial, mas só em germe; que estão santificados, mas só na raiz; são filhos de Deus, mas ainda não se revelaram como tais; caminham para a meta não chegaram ainda; a figura deste mundo está passando, contudo, ainda não terminou. A situação de posse e de espera é, pois, a que define a condição cristã na terra: peregrina, caminhante na fé e esperança. Semelhante tensão entre o presente e o vindouro é, por outra parte,uma tensão humana. O SH leva em seu próprio ser um impulso indefectível para o futuro. É e VEM A SER, num processo continuo de fazer-se, de realizar-se; é esta tensão que o define como ser histórico.

 

BIBLIOGRAFIA

Freitas, Maria Carmelita; Dialética e dinamismo da esperança cristã; Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1968.

Mackenzie, John L.; Dicionário bíblico 4aedição, Paulus, São Paulo, SP, 1984.

Junges, José Roque; Evento Cristo e Ação humana, Ed.Unisinos, São Leopoldo RS, 2001

Misterium Salutis; V/3, A escatologia, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ; 1985

Lepargneur, Hubert, Esperança e escatologia, Ed. Paulinas, São Paulo, SP; 1974.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Tradição Magistério Escritura


Tradição + Magistério + Escritura.

O que é a Bíblia?

Digamos à guisa de definição, que a Bíblia é um conjunto de 73 livros com vários títulos ou denominações: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Evangelhos, várias epístolas etc., os quais podem ser localizados pelo índice geral dela. Divide-se em duas partes bem destacáveis: o Antigo Testamento e o Novo Testamento.

Testamento é o nome que se dá à Aliança "contraída" com Abraão e "cumprida" em Jesus Cristo. Enquanto projeção  de Abraão designou-se por Antigo Testamento aos acontecimentos a ela correlatos;  quando afins à Nova Aliança em Jesus Cristo, tomou o nome de Novo Testamento. É que um testamento "traz" disposições que devem ser "cumpridas" após a morte de um dos testadores, no caso, Abraão no Antigo e Jesus no Novo, "trazendo", para a Homem "cumprir", "disposições de última vontade", e "uma herança".

A Bíblia vem geralmente dividida em capítulos e versículos. Os capítulos são especificados por números maiores colocados num começo de narrativa parcial e os versículos por algarismos menores colocados antes das frases que compõem o capítulo. Costuma-se dar títulos aos vários capítulos, ou a trechos deles, também conhecidos por "perícopes", que foram ai incorporados pretendendo facilitar a compreensão e a localização por assuntos, mas não fazem parte integrante e indestacável do contexto.

 

POR QUÊ A BÍBLIA É IMPORTANTE?

Só há uma razão pela qual se pode dizer que a Bíblia é importante, tal como São Paulo diz: "E não somos como Moisés, que punha um véu sobre o rosto, para que os filhos de Israel não vissem o final da glória que se desvanecia; e assim o entendimento deles ficou obscurecido. Pois até o dia de hoje, à leitura do velho testamento, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo é ele abolido; sim, até o dia de hoje, quando Moisés é lido, um véu está posto sobre o coração deles. Contudo, convertendo-se ao Senhor, é-lhe tirado o véu" (2 Co 3,13-16).

A Bíblia é importante por causa de: Jesus Cristo

Sem Jesus Cristo, a Bíblia não passa de um dos livros ultrapassados que por ai existem nos museus ou em uso nos mitos e superstições ou fossilizados. Pode-se pretender que ela seja a Palavra de Deus. E é, mas a Palavra de Deus plenamente revelada por Jesus Cristo. Ele é a Revelação por excelência, a única Revelação do Pai;

Jesus é a Palavra do Pai

Diz-se que Jesus é a PALAVRA porque manifesta ou revela o Pai, tal como Ele mesmo o diz: "Jesus lhe disse: "Filipe, há tanto tempo estou convosco e não me conheces? Quem me tem visto, tem visto o Pai. Como podes dizer: mostra-nos o Pai?"  (Jo 14,9). Também Paulo e João o dizem: "Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura..." (Col 1,15) “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus"  (...) "Ninguém jamais viu a Deus. o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, é quem o deu a conhecer."  (Jo 1,1.18).

É essa a função da PALAVRA: tornar conhecido o que ela significa. Caso um professor permaneça em silêncio perante um grupo de alunos, eles nada saberão de seu saber íntimo, pois, sem a palavra nada se sabe. Quando ele começar a falar, a fazer o uso "da palavra", passará a ser entendido e os alunos apreenderão o que ensina, por aquilo que ele "revelar" com a sua palavra. Ora, Jesus "revelou" o Pai; logo, JESUS é a PALAVRA DO PAI.

 

Revelação

Já ficou claro pelo acima exposto que Cristo é a Revelação única e definitiva, e que somente aquilo que transmitiu aos Apóstolos, que nos vem pela Tradição e o Magistério da Igreja, pode-se dizer "revelado". É que, com a morte do último Apóstolo, terminou a transmissão oral da Revelação, o que se conhece por Tradição, ficando apenas o que foi deixado por eles como "depósito" (de fé), como o denominou São Paulo (1 Tm 6,20; 2 Tm 1,12-14), que compõe o Magistério da Igreja, aquilo que ela ensina. Melhor o diz o Catecismo da Igreja Católica, recém promulgado por João Paulo II: "'Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por seu Filho' (Hb 1,1-2). Cristo, Filho de Deus feito homem, é a Palavra Única, Perfeita e Insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não haverá outra palavra além dessa. (...) A Economia Cristã, portanto, como Aliança Nova e Definitiva, jamais passará, e já não se há de esperar nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo"   (n.º 64-65).

 

Inspiração

Tal como a Revelação, também a Inspiração Bíblica já acabou. O que ilumina a Igreja em prosseguimento à Obra de Cristo (Jo 20,21) é uma especial Assistência do Espírito Santo, e não se confunde com a Inspiração Bíblica, como a própria Igreja define e explica: "A verdade divinamente revelada, que os livros da Sagrada Escritura contêm e apresentam, (...). ...escritos sob a Inspiração do Espírito Santo (cf. Jo 20,31; 1 Tm 3,16; 2 Pe 1,19-21; 3,15-16), eles têm Deus por autor e nesta qualidade foram confiados à Igreja. Para escrever os Livros Sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele próprio queria" ("Dei Verbum" n.º 11; Catecismo. da Igreja Católica n.º 105/106). "Por isso, a pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos. (...). Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a Assistência do Espírito Santo..." (Constituição 'Dei Verbum', Conc. Vat. II, n.º 8).

O que não se deve perder de mira é que tanto a Revelação como a Inspiração foram dons ou carismas especiais de Deus para a confecção da Sagrada Escritura, e isto se deu quando dos originais, não se estendendo às traduções, aos comentários ou mesmo à exegese. Por isso, a missão da Igreja de interprete única, por causa daquele já mencionado "depósito" (da fé) que lhe é pertinente: "O 'depósito' (1 Tm 6,20; 2 Tm 1,12-14) da fé ("depositum fidei"), contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos à totalidade da Igreja. 'Apoiando-se nele, o Povo Santo todo, unido a seus Pastores, persevera continuamente na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na Fração do Pão e nas Orações, de sorte que na conservação, no exercício e na profissão da fé transmitida, se crie uma singular unidade de espírito entre os bispos e os fiéis.' (cfr. Catecismo 84) 'O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo' ("Dei Verbum", 10), isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma" (idem 85). Pode-se desde já perceber a importância da Tradição, que é a transmissão das verdades reveladas pelos Apóstolos a seus sucessores, no que se estrutura o Magistério da Igreja.

 

Tradição, Magistério e Escritura

Cristo não é um fundador de nova religião, nem o cristianismo é uma "heresia" do judaísmo. Os Apóstolos e os discípulos continuaram freqüentando o Templo e seguindo os rituais ali celebrados, até mesmo após a Sua Morte, Ressurreição e Ascensão (Lc 24,53; At 2,46; 3,1) bem como após o Pentecostes (At 2,46; 3,1...). Compartilhavam da "visão" de Jesus de que o cristianismo é o "cumprimento" do judaísmo, o seu ponto de chegada: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só "i" ou um só "til", até que tudo seja cumprido" (Mt 5,17-18).

Entretanto, os primeiros cristãos não conheciam o Novo Testamento tal como se conhece hoje. Quando muito haviam alguns manuscritos destinados apenas a registrar as pregações locais. Os cristãos de Roma, por exemplo, conheciam a pregação de Pedro e, possivelmente, conheciam também uma ou outra das cartas de Paulo (2 Pe 3,15-16). Vê-se facilmente que os escritos atuais dos Evangelhos são verdadeiramente o registro catequético de então, a primeira expressão da Tradição Apostólica, aqueles que foram escolhidos e aprovados entre tantos outros (Lc 1,1-2 diz "muitos"):

"A Tradição de que falamos aqui é a que vem dos Apóstolos. Ela transmite o que estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo Espírito Santo. De fato, a primeira geração de cristãos ainda não tinha um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento testemunha o processo da Tradição Viva" (Catecismo da Igreja Católica, 83). "Por isso, a pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos. (...) Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a Assistência do Espírito Santo..." (Constituição 'Dei Verbum', Conc. Vat. II, n.º 8).

Informa Papias que o primeiro Evangelho foi escrito por Mateus em aramaico, que o destinou aos judeus. Vieram outros, inclusive a tradução dele para o koiné, o grego popular de então, que não eram ainda tão difundidos, nem faziam parte de um cânon definido pela Igreja. Somente algumas comunidades tinham uma espécie de compilação mais ou menos aleatória, ao que tudo indica, e não ainda de forma sistemática como hoje: "Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deveriam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados" ('Dei Verbum, 8,3). Esta lista completa é denominada 'Cânon' das Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, se contarmos Jeremias e Lamentações juntos) escritos e 27 para o Novo:

Da mesma forma que então, porque inexistente, para os católicos ainda hoje, "só a Bíblia" não é, nem pode ser, o único fundamento para a fé, eis que não se partiu dela para o que se crê. O que nela se compôs foi o então ensinado pelos Apóstolos. Por isso, fundamental ainda lhes é o conjunto formado por: Tradição + Magistério + Escritura: "Fica portanto claro que segundo o sapientíssimo plano divino a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal maneira entrelaçados e unidos, que um não tem consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas" (Constituição Dogmática 'Dei Verbum', 10)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os novos rostos da missão


Os novos rostos da missão

 

         Após o colapso dos colonialismos políticos, cresce sempre mais em toda parte o desejo de democracia, de participação, de plenitude e de paz. Nesse contexto, as culturas e as religiões ressurgem como fontes de identidade. Porém a religião é relegada à esfera privada, ao posso que a prática econômica e política reclama autonomia absoluta em relação aos valores éticos as guerras e tragédias mundiais, o indiferentismo religioso e o individualismo, fazem duvidar da eficácia da missão. Torna-se, então necessário refletir sobre o significado e o processo da missão.

A missão como mistério: A missão da Igreja emana da missão da trindade que é fonte de amor, de bondade e misericórdia, que chama a todos para partilhar gratuitamente de sua própria vida. É nesse contexto trinitário e cósmico que se funda a missão da Igreja. Esta é símbolo e seva da missão e como tal, chamada e enviada a descobrir, fortalecer e promover a missão divina e não a si mesma. Assim a tarefa da missão não é fazer mas, contemplar e discernir a presença e a ação de Jesus e do Espírito. Sendo fonte da comunicação, a trindade já sta em dialogo com as pessoas, nossa missão não é colocar-ns como intermediários, mas como facilitadores desse dialogo.

A missão como símbolo: Jesus e o Espírito não abandonam o mundo; pelo contrario, continuam presentes e atuantes no meio das pessoas. Conseqüentemente, nossa missão consiste em, como comunidade de crentes e seguidores de Jesus, visibilizar simbolicamente (explicitar) sua ação em todo lugar.

Missão global: Centra-se não apenas nas pessoas e nas comunidades, mas nas estruturas econômicas, culturais e sócio-politicas que lhes estão subjacentes. Estas est5uturas tem um a dimensão global, de tal  do que fatos ocorridos em determinado lugar podem ter conseqüências em toda parte do mundo. Nessa perspectiva, embora a missão seja necessária em toda parte do mundo, ela se torna urgente nos paises de primeiro mundo, onde se encontram os centros de decisão da política econômica mundial.

         Jesus Cristo como modelo de missão: Sendo Jesus nosso modelo e quem envia em missão, nosso caminho missionário deve ser como o seu: da profecia e do amor-serviço, num mundo marcado por conflitos pessoais, sociais e estruturais. A missão como profecia chama-nos a apresentarmos modos de vida alternativos. Implica em conflito com os poderes do mundo que excluem, oprimem e matam. Apóia-se unicamente no poder do amor não violento, da auto-doação, do dialogo e do respeito pela liberdade.

         A missão como redes de comunidade: O objetivo de toda ação missionária é a construção da comunidade humana, unida em amor  e serviço mútuo. Isto não significa a supressão das diferenças culturais, étnicas ou religiosas, mas sua integração. A Igreja-comunidade será símbolo e serva de tal fraternidade, tornando-se uma comunidade limiar. Essas comunidades abrirão fronteiras de modo a imergirem na vasta comunidade humana como fermento. Tem como limite o mundo, porém sem deixar de ser local. Essas comunidades são chamadas ao serviço global através de um trabalho em redes.

 

 

Fundamentos teológicos da missão


 

         A teologia da missão, a partir da CV II, acentua as “missões divinas” não apenas como o ponto de partida para a cisão; é toda a missão (origem e fim, motivação e método, identidade e sustentação) que está inserida na mistério trinitário e abastece-se no seu dinamismo missionário. A missão não significa, então, expansionismo ou extensão missionária da Igreja e, tampouco, um “mandato missionário” arbitrário e sem fundamento, porque ela se colaca primeiramente a serviço do amor trinitário em suas insondáveis manifestações, que são bem mais amplas que a estrutura da Igreja visível.

         A Evanglli Nuntiandi (1975) denunciou o descompasso entre a evangelização e o mundo contemporâneo e convocou a Igreja a inculturar-se no mundo de hoje, qualquer que seja o seu contexto, até atingir o núcleo mais profundo das culturas.

A missão abrange, portanto, toda família humana chamada a viver em comunhão plena com a trindade e entre si. A missão é obra de salvação integral das pessoas e envolve a comunidade. A comunidade trinitária é o paradigma da missão.

 

 

Métodos de evangelização


 

Não existe individuo ou povo sem cultura. Esta perpassa e marca todo pensamento e atividade humana. A própria fé não escapa dessa lei. O relacionamento entre o ser humano e o transcendente é condicionado por crenças, valores, representações atitudes, mitos e símbolos legados por uma determinada cultura.

         Assim surgem vários métodos no decorrer da história para tentar demonstrar a fé cristã. Tias métodos não significam uma evolução lógica no processo de evangelização, pode-se perceber um ou mais métodos dentro de uma mesma área missionária.

Aculturação: Conjunto dos fenômenos que aprecem como resultado de um contato prolongado e direto entre grupos humanos culturalmente diferentes. Nesse contato, alguns modelos culturais de um ou dois grupos acabam se modificando. O essencial desse método consiste na aceitação de que é possível dissociar o núcleo essencial e único da fé cristã, da roupagem cultural com a qual os séculos de ocidentalização tinham-no encoberto, e assim poder discernir nas outras culturas o núcleo substancial da mensagem cristã.

         Encarnação: Sugere que os teólogos deixem de tomar como ponto de partida u  corpo teológico já existente (ocidental) e trabalhem para fazer “emergir” sua obra diretamente do evangelho e das tradições religiosas e das aspirações fundamentais dos diferentes povos. Surgiram, desse modo, a “teologia negra” e a “teologia da libertação”.

         Contextualização: Rejeita uma inculturação que se apóia apenas sobre a tradição; ao contrario, ele apela para um quadro de referencia mais amplo. Querem se distanciar da concepção excessivamente extática e fechada que alguns métodos atribuem à cultua. Querem salientar que a tradição constitui apenas um componente de um contexto mais vasto que engloba outros fatores como a industrialização e a economia, a modernidade, a urbanização, as novas tecnologias, o pluralismo cultural e certos aspectos da secularização.Esses elementos devem ser levados em consideração, da mesma forma que os elementos tradicionais, já que juntos, eles compõem o cenário que condiciona a evangelização e interfere na reformulação da identidade cultural dos evangelizados.

         Libertação:  Nascida no meio intelectual latino-americano, a idéia se espalhou e alcançou outros continentes. Como conseqüência, nas Igrejas do terceiro mundo aparecem novos conceitos teológicos, inspirados e centrados na idéia de libertação. A primeira de todas s libertações é a libertação cultural que condiciona as outras libertações:econômica, política, social, religiosa... começar pela libertação cultural significa atacar o mal pela raiz, ir ao essencial.

         Explicitação: Trata-se de reconhecer no grande mosaico das culturas “as sementes do verbo” lançadas pelo Espírito. Daí que, a atividade missionária, não consiste em anunciar algo totalmente desconhecido e sim explicitar a imagem de Cristo que o precedeu e esta presente na historia dos povos em todos os tempos e culturas e sempre se manifesta nas aspirações da pessoa humana. É indispensável estar inculturado para poder explicitar.

 

A evangelização nas diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil.

 

         Em sua trajetória as DGAE foram enriquecidas pelas contribuições de importantes documentos do CV II, de vários Sínodos e Encíclicas, sobretudo da Evangelli Nutiandi e da Redemptoris Missio, das Conclusões de Medellin, Puebla e Santo Domingo, alem de muitos documentos do episcopado brasileiro que tiveram grande repercussão na Igreja e na sociedade brasileira.

         As DGAE salientam a necessidade de integrar todos os seus elementos, de forma que ela implique não só o anúncio explícito do Evangelho, mas também a vida e ação eclesial; que contenha não apenas gestos sacramentais da comunidade cristã, mas também a promoção da justiça e libertação; que se configure não só como caminho da comunidade cristã “para” o mundo, mas também como acontecimento “no” mundo, no qual Deus atua; que se expresse como serviço e solidariedade, anúncio e testemunho, diálogo e cooperação ecumênica, comunhão com Deus e os irmãos.

         Evangelizar é cuidar, sustentar, defender e promover a vida em suas múltiplas expressões. É tudo que educa, humaniza, enobrece, aperfeiçoa e ajuda a crescer. É suscitar esperança e semear a paz no meio da violência e dos conflitos, é buscar a fraternidade e o bem comum; é criar condições de vida digna com oportunidades iguais, é descobrir as necessidades e se solidarizar, sobretudo com os pobres e sofredores.É promover a comunhão entre as pessoas e destas com as demais criaturas, pois todas vêm do mesmo Deus-comunhão.

 

 

Leitura comparada do Syllabus com a Gaudium et Spes.

 

         A constituição GS foi o marco referencial do reatamento das relações da Igreja com o mundo; um passo na reconciliação com a modernidade, com a qual a Igreja havia rompido definitivamente através do Syllabus. Desse modo, enquanto o Syllabus foi o ponto culminante da ruptura do dialogo Igreja-mundo , a GS fundamenta e reata o dialogo. Ao contrario da Syllabus que quer se impor ao mundo moderno como mestra da verdade, a Igreja da GS se oferece aos Homens sem o desejo de dominação; oferece seus bens próprios como resposta às aspirações do mundo moderno. A Igreja da GS aceita a condição fundamental para o dialogo,pode-se perceber tal fato em alguns pontos:

Sem clericalismo que absorva o “próprio mundo” a Igreja quer reencontrar, com os Homens, os valores autênticos do mundo; - Oferece Cristo enquanto solução dos problemas da cidade terrestre, ensinando, e por outro lado, aceitando também ser ensinada; - É Uma Igreja atenta à ação de Deus na História ... .

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Espírito Santo nas cartas Paulinas


O Espírito Santo unifica a Igreja

na comunhão e no ministério.

 

O Espírito Santo anima e sustenta a vitalidade da Igreja em sua dupla dimensão fundamental de comunhão e missão. Ele suscita, orienta e assiste os grandes acontecimentos eclesiais como o Concílio Ecumênico, os Sínodos Episcopais, as Conferências dos Bispos e de outros membros do Povo de Deus, as Assembléias Diocesanas e outras... Ele sustenta também toda a grande obra missionária no mundo. É o mesmo Espírito que faz brotar sempre novas iniciativas no seio do Povo de Deus. Entre os vários movimentos de renovação espiritual e pastoral do tempo pós-conciliar, surgiu a RCC que tem trazido novo dinamismo e entusiasmo para a vida de muitos cristãos e comunidades.

O Mistério da Igreja (as duas mãos do Pai) surge na História pela missão do Filho de Deus e do Espírito Santo. Enviado pelo Pai, o Verbo Divino assume a natureza humana para instaurar o Reino de Deus na terra e instituir a Igreja a seu serviço, como "germe e princípio" desse Reino ( cf. LG, 5b). Enviado pelo Pai e pelo Filho, o Espírito Santo vivifica  a Igreja e a faz crescer como Corpo Místico de Cristo (LG, 8)

Estando para consumar a obra que o Pai lhe confiara, Jesus promete o envio do Espírito Santo que continua e aprofunda a própria missão de Cristo (Jo 14,17.26). Ele não falará por si mesmo, mas ensinará e recordará aos discípulos tudo o que Jesus lhes disse (Jo 14,26). Ele glorificará Jesus porque receberá o que é de Jesus e o comunicará (Jo 16,14).

Em Pentecostes, pela força do Espírito Santo, os apóstolos se tornam testemunhas da Ressurreição ( At 1,8; 5,32) e a Igreja-comunhão inicia a sua missão, espalhando-se pelo mundo com dons e carismas diferentes. "Jesus continua sua missão evangelizadora pela ação do Espírito Santo, o agente principal da evangelização, através de sua Igreja" O Espírito Santo, protagonista de toda missão eclesial (RMi, 21) leva a Igreja a "evangelizar com renovado ardor missionário".

O Espírito Santo é  o intercessor que nos introduz na vida da Trindade, para a realização do projeto de Deus, na adoção filial, na glorificação dos filhos de Deus e da própria criação (Rm 8,19-27). Faz de cada cristão uma testemunha (At 1,8 e 5,32), gera dinamismo interior nos apóstolos, tornando-os os primeiros evangelizadores na expansão missionária da Igreja, realiza a unidade entre os que crêem para que sejam "um só coração e uma só alma" (At 4,32), e para permanecerem unidos "na doutrina dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" (At 2,42). Habitando em nós (Rm 8,9), faz morrer as obras do pecado (Rm 8,12). Ele comunica a verdadeira paz, que é comunhão na vida feliz de Deus. É Aquele que "vem em auxílio de nossa fraqueza porque nem sabemos o que convém pedir" (Rm 8,26).

O cristão, pela graça batismal, é introduzido na intimidade da vida trinitária, partilhando da sua riqueza na comunidade eclesial. A plena comunhão da Trindade manifesta-se na Comunidade-Igreja e oferece vida nova (2Pd 1,4; Ef 4,24; Cl 3,10) de relacionamento de filhos com o Pai (Gl 4,6).

 Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo faz de sua vida um testemunho de Jesus Bom Pastor (Jo 10,10). Não poderá, portanto, retirar-se dos problemas e ambiguidades da convivência humana, mas buscará construir fraternidade. "Não são os que dizem Senhor, Senhor que entrarão no Reino de Deus, mas os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7,21).

O Espírito ensina, santifica e conduz o Povo de Deus através da pregação e acolhida da Palavra, da celebração dos sacramentos e da orientação dos pastores. Distribui também graças ou dons especiais "a cada um como lhe apraz" (1Cor 12,11), sempre "para a utilidade comum". Por essas graças, Ele "os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja (cf. 1Cor 12,2; LG 12b).

O Espírito Santo distribui seus dons aos fiéis, de tal forma que ninguém possui todos eles, como ninguém está totalmente privado deles (1Cor 12,4ss). Esses dons são sempre para o serviço da comunidade (1Cor 14). Não é a experiência dos carismas que exprime a perfeição da salvação, mas a caridade que deve perpassar toda a vida do cristão (Mc 12, 28-31; 1Cor 13). Procurá-la é o primeiro e melhor caminho para a edificação do Corpo  de  Cristo que é a Igreja (1Cor 12,31-13,13; LG, 42).

Hoje ele continua renovando a Igreja através de múltiplas e novas expressões de fé e coerência cristã. Podemos enumerar como frutos do Espírito os novos sujeitos da evangelização; a expansão e vitalidade das comunidades; movimentos de renovação espiritual e pastoral; a própria RCC; o engajamento de leigos na transformação da sociedade; a leitura da Bíblia à luz das situações vividas na comunidade; a liturgia mais participada com a riqueza de seus ritos e simbologia; a busca de evangelização inculturada; a fidelidade de muitos na vida cotidiana; as lutas do povo para a implantação dos direitos humanos; a prática da justiça e da promoção social.

O Concílio Vaticano II ensina que a Igreja Particular é uma porção do Povo de Deus, confiada a um bispo para que a pastoreie com a cooperação do presbitério e dos diáconos. Nela verdadeiramente reside e opera a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo.

Conforme o próprio Concílio Vaticano II, a comunidade eclesial é edificada pelo Espírito Santo, mediante o anúncio da Palavra (Evangelho), a celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, a vida de comunhão do Povo de Deus com seus carismas e ministérios, entre os quais sobressai o ministério episcopal-presbiteral-diaconal, que tem a responsabilidade de garantir os laços que unem a comunidade de hoje com a Igreja apostólica e com o projeto missionário, evangelizador, que lhe é confiado até o fim dos tempos.

A liberdade associativa dos fiéis é reconhecida e garantida pelo Direito Canônico e deve ser exercida na comunhão eclesial. O Papa João Paulo II, na sua Exortação Apostólica Christifideles Laici (n. 30), aponta critérios fundamentais para o discernimento de toda e qualquer associação dos fiéis leigos na Igreja, que podem ser aplicados a todos os grupos eclesiais:

— o primado dado à vocação de cada cristão à santidade, favorecendo e encorajando "uma unidade íntima entre a vida prática dos membros e a própria fé" (AA, 19);

— a responsabilidade em professar a fé católica, no seu conteúdo integral, acolhendo e professando a verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre a pessoa humana;

— o testemunho de uma comunhão sólida com o papa e com o bispo, e na "estima recíproca de todas as formas de apostolado da Igreja" (AA, 23);

— a conformidade e a participação na finalidade apostólica da Igreja, que é a evangelização e santificação dos homens... de modo a permear de espírito evangélico as várias comunidades e os vários ambientes (AA, 20);

— o empenho de uma presença na sociedade humana a serviço da dignidade integral da pessoa humana, mediante a participação e solidariedade, para construir condições mais justas e fraternas no seio da sociedade.

A RCC assuma também as opções, diretrizes e orientações da Igreja Particular onde se faz presente, evitando qualquer paralelismo e integrando-se na pastoral orgânica Os membros da RCC participem dos Encontros, Cursos, Estudos Bíblicos e outras atividades pastorais e de formação. Serviços e Organismos existentes na Diocese, respeitando-os, valorizando-os, reconhecendo-os e colaborando com elas na busca de uma autêntica articulação pastoral

A Palavra de Deus é a própria presença do Deus que fala: "Escrutai as Escrituras... elas dão testemunho de mim" (Jo 5,39). Cristo, Evangelho vivo do Pai, não só é o centro da Bíblia, mas também seu intérprete (Lc 24,13-35). A "Igreja venera as divinas Escrituras como o próprio Corpo do Senhor" (DV, 21). E não apenas transmite a Palavra de Deus, mas também a interpreta

A Bíblia manifesta o Plano salvífico de Deus de modo unitário. Por isso, não se podem utilizar textos ou palavras, sem referência ao contexto e ao conjunto da Bíblia (DV 142).

Para não prejudicar uma reta leitura da Bíblia, é preciso estar atentos para não cair, entre outros, nos seguintes perigos:

1º O fundamentalismo, que é fixar-se apenas no que as palavras dizem "materialmente" sem respeitar o contexto nem a contribuição das ciências bíblicas;

2º O intimismo, que é interpretar a Bíblia de modo subjetivo, e até mágico, fazendo o texto dizer o que não era intenção dos autores sagrados. Sobre isso, sigam-se as orientações do Magistério, especialmente o recente documento da Pontifícia Comissão Bíblica sobre a interpretação da Bíblia na Igreja.

Na Liturgia, especialmente na Eucaristia, celebra-se a realidade fundamental da Páscoa: morte e ressurreição de Jesus Cristo, morte e ressurreição do batizado com Cristo. Na ação litúrgica, devem encontrar espaço todas as realidades da vida cotidiana do cristão, pois é com todos os aspectos da sua pessoa que ele tem de passar deste mundo ao Pai. Ao participar na celebração, o cristão terá presente suas aspirações, alegrias, sofrimentos, projetos, bem como os de todos os seus irmãos. E colocará todas estas intenções na oração que sua comunidade, com toda a Igreja, dirige ao Pai, com Cristo Salvador, na unidade do Espírito Santo.

A fé não pode ser reduzida a uma busca de satisfação de exigências íntimas e de resposta às necessidades imediatas. Nem se pode propor a fé cristã sem a dimensão da cruz, inerente ao seguimento de Jesus Cristo (Lc 14, 25-35), caminho para a vida plena na ressurreição. É fundamental para a realização da vida cristã e da ação pastoral o sentido comunitário da fé. A formação de pessoas e de comunidades vivas e maduras na fé é resposta aos desafios da Nova Evangelização e da ação missionária. A missão nasce da fé em Jesus Cristo e fortifica-se quando partilhada (cf. RMi, 4 e 2)

A espiritualidade cristã integra o social e o espiritual, o humano e o religioso. Não está, porém, isenta das ambiguidades e mesmo distorções que podem caracterizar as reações do psiquismo humano, seja individual, seja grupal. Por isso, evite-se alimentar um clima de exaltação da emoção e do sentimento, que enfatiza apenas a dimensão subjetiva da experiência da fé.

Para expandir o projeto de Deus, o cristão deve comprometer-se com a criação de uma sociedade justa e solidária, eliminando o pecado como gerador de divisão com Deus e os irmãos. A dimensão social da fé, à luz da Doutrina Social da Igreja, requer a luta para debelar as estruturas de pecado: pessoal, comunitário, social e estrutural, e assim estabelecer o Reino de Cristo e de Deus (cf. LG, 5). Recomenda-se, pois, que membros dos grupos de oração sejam animados a assumir projetos de promoção humana e social, especialmente dos pobres e marginalizados.

"O Espírito Santo unifica a Igreja na comunhão e no ministério. Dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos" (LG, 4). O Espírito opera "pelas múltiplas graças especiais, chamadas de carismas, através das quais torna os fiéis aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja" (Catecismo da Igreja Católica, 798). Os carismas devem ser recebidos com gratidão e consolação. E não devem ser temerariamente pedidos nem se ter a presunção de possuí-los (cf. LG, 12).

Dom da cura: O Senhor dá a algumas pessoas um carisma especial de cura, para manifestar a força da graça do Ressuscitado. No entanto, as orações mais intensas não conseguem obter a cura de todas as doenças. São Paulo aprende do Senhor que "basta minha graça, pois é na fraqueza que minha força manifesta todo seu poder" (2Cor 12,9), e  que os  sofrimentos  que  temos que superar podem ter como sentido "completar na minha carne o que falta às tribulações de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24).

Ao implorar a cura, nos encontros da RCC ou em outras celebrações, não se adote qualquer atitude que possa resvalar para um espírito milagreiro e mágico, estranho à prática da Igreja Católica (Eclo 38,11-12).

Nas celebrações com doentes, não se usem gestos que dão a falsa impressão de um gesto sacramental coletivo ou que uma espécie de "fluido espiritual" viesse a operar curas.

Orar e falar em línguas: O destinatário da oração em línguas é o próprio Deus, por ser uma atitude da pessoa absorvida em conversa particular com Deus. E o destinatário do falar em línguas é a comunidade. O apóstolo Paulo ensina: "Numa assembléia prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência para instruir também aos outros, a dizer dez mil palavras em línguas" (1Cor 14,19). Como é difícil discernir, na prática, entre inspiração do Espírito Santo e os apelos do animador do grupo reunido, não se incentive a chamada oração em línguas e nunca se fale em línguas sem que haja intérprete.

Poder do mal e exorcismo: Cristo venceu o demônio e todo o espírito do mal. Nem tudo se pode atribuir ao demônio, esquecendo-se o jogo das causas segundas e outros fatores psicológicos e até patológicos. Quanto ao "poder do mal", não se exagere a sua importância. E não se presuma ter o poder de "expulsar" demônios. O exorcismo só pode ser exercido de acordo com o que estabelece o Código de Direito Canônico (Cân. 1172 § 1. Ninguém pode legitimamente fazer exorcismos em possessos, a não ser que tenha obtido licença especial e expressa do Ordinário local.§ 2. Essa licença seja concedida pelo Ordinário local somente a presbítero que se distinga pela piedade, ciência, prudência e integridade de vida.).

Por isso, seja afastada a prática, onde houver, do exorcismo exercido por conta própria.

Procure-se, ainda, formar adequadamente as lideranças e os membros da RCC para superar uma preocupação exagerada com o demônio, que cria ou reforça uma mentalidade fetichista, infelizmente presente em muitos ambientes.

 

 

 

 

1 – Em que este texto ajuda a minha pessoa?

2 – Em que este texto me ajuda na relação com minha família?

3 – Em que este texto me ajuda na vida de comunidade?

4 – Em que este texto me ajuda a transformar a sociedade?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As fontes do conceito Paulino do Espírito.

O conceito paulino de Espírito tem três fontes:

1 – A revelação no cânon veterotestamentário;

2 – No judaísmo intertestamentário;

3 – No pensamento cristão primitivo.

Além disso, a experiência paulina e a das comunidades cristãs que ele fundou sem duvida desempenham papel importante em seu modo de pensar. O Espirito de Deus é chamado “santo”, mas essa designação se tornou mais comum período intertestamentário. As raízes intertestamentárias estão evidentes no fato de, para Paulo, o Espírito ser singular e único. Falar do Espírito é falar da presença e do poder de Deus (Is 31, 3; 34, 16; 40,13). Do mesmo modo que Deus é também há um só Espírito de Deus (1 Cor 12,4-6.11.13; Ef 4,4-6).

            O termo espírito ( hebraico rûah em grego pneuma) é usado de modo crescente nos escritos judaicos mais tardios, para anjos ou demônios. A partir da época primitiva o Espirito é associado à profecia 9Nm 11,29; 1sm 10,6; 19,20-24; Mq 3,8; Ez 11,5; Jl 3,1-2; 1 Ts 5,19-20; 1 Cor 12,7-11). E, nos profetas, em especial, o Espirito tem caráter moral, sendo associado a justiça, ao julgamento e ao modo de vida em aliança (Is 4,4; 28,5-6; 59,21; 63,10; Ez 36,26-27; 39,27-29; Jl 3,1-1). O AT oferece uma esperança que este Espirito, como poder de profecia, vida e obediência a aliança, seja característica da futura era messiânica de bênçãos (Is 32,15; 44,3; Ez 36,25-27; 39,28-29, Jl 3,1-2) e essa esperança persistiu ate no período do segundo Templo. Essa promessa profética fundamenta a visão paulina do Espirito como parte normal da vida cristã,

            A associação do Espírito com sabedoria divina (1Cor 2,10-11) é um pensamento encontrado algumas vezes no AT (Ex 31,3; 35,31; Nm 11,16-17; Jó 32,8; Is 11,2 42, 1-4) e desenvolvido no judaísmo mais tardio ( Sb 7,22-8,1). Duas outras ideias que Paulo herda de sua formação, embora não sejam exclusivas do pensamento hebraico, são a associação do espirito com poder (Rs 2,9-15; Jz 6,34-35; 14,19; 15,14-15) e com a vida, como a força que dá vida, que se origina com Deus (Gn 1.2; 6,3; Sl 104,29-30;Jó 32,8; Is 42,5; Ez 37,4-14).

            Entretanto o conceito paulino de Espirito não é simplesmente uma continuação do ponto de vista veterotestamentário e judaico. Primeiro, o Espirito tem grande importância nos escritos paulinos muito maior que seu lugar no AT. A importância crescente do Espirito em Paulo com base na experiência que as comunidades cristas primitivas tinham do Espirito em seu meio 9inclusive a experiência de Paulo), na percepção da imanência de Deus durante o culto, na realização de milagres e na inspiração profética, na experiência de coragem e sabedoria para anunciar o evangelho, mesmo em circunstancias difíceis, e nos sentimentos de alegria. Para os cristãos primitivos, essas experiências eram prova de que o Espirito estava presente e atuante. E eles entendiam estas experiências como realização de esperanças proféticas de que, na época do Messias, o Espirito se derramasse sobre “Israel” (Ez 36,25-27; Jl 3,1-5; Paulo cita esta passagem em Rm 10,13). Paulo demostra percepção desta esperança escatológica veterotestamentária ao se referir ao “Espirito, objeto da promessa” (Gl 3,14; Ef1,13) para os cristãos primitivos, a vinda do Espirito também era sinal de que o Senhor ressuscitado, Jesus, era verdadeiramente o Messias (At 2,14-24.36.38-39; Jo 16,7-11).

            Em contraste com grande parte do pensamento helenístico, Paulo não considera o Espirito uma força ou um ser a à disposição do fiel. Ao contrário dos “demônios” e dos espíritos que auxiliam os mágicos, o Espírito Santo não é controlado por fórmulas mágicas ou ações. No entanto, ele esta presente para ajudar o fiel a fazer a vontade de Deus. E, enquanto na magia antiga acreditava-se que a ajuda sobrenatural só estava disponível para os poucos que tinham conhecimentos esotéricos (independente de seus motivos), o Espírito é dado livremente, com a única condição da fé em Cristo como Senhor (1 Cor 12,3).

 

1 – Em que este texto ajuda a minha pessoa?

2 – Em que este texto me ajuda na relação com minha família?

3 – Em que este texto me ajuda na vida de comunidade?

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O Espírito de Deus.

             Paulo dá como certo que o Espirito Santo é Deus. A saber, o Espirito Santo não é apenas um de um exercito de intermediários, mas, de acordo com o AT e a literatura judaica intertestamentária, supõe-se que o Espirito seja singular, único em poder e em relação a Deus (1 Cor 2,11; Rm 8,9.11; 2 Cor 3,17, Ef 4,4).

            Essa singularidade do Espírito é usado como argumento teológico para unidade da Igreja: “todos nós fomos batizados em um só Espírito, para formarmos um só corpo...todos nós bebemos de um único Espírito” (1Cor 12,13).

            Paulo nunca fala de espíritos (plural) para os fieis (1 Cor 14,12 é mais bem entendido como citação paulina de um dito coríntio: “somos zelotas para espíritos”, sem endossar o pinto de vista que isto subentende). O Espírito representa Deus presente entre seu povo – em Paulo quase sempre em ligação com discurso inspirado (em especial para anunciar o evangelho, mas também profecia, encorajamento, exortação, ensinamento) e com milagres (1Cor 12,4-11; 1 Ts 1,5; Gl 3,1-5).

            Paulo nunca aborda diretamente a questão da personalidade do Espírito Santo. Às vezes, o Espírito e Deus se sobrepõem e tem funções aparentemente idênticas (como na distribuição de dons espirituais a diferentes “membros” do corpo de Cristo, 1 Cor 12, 11.18.26). às vezes, o Espírito esta separado de Deus e Cristo, como na formula triadica de 1 Coríntios 12,4-6 e na benção de 2 Coríntios 13,13 ou quando é dito que Deus envia o Espírito ou marca os fieis por meio do Espírito (Gl 4,6; 2Cor 1,21-22; 5,5; Rm 5,5). O Espirito é descrito com características pessoais. Ele “guia” os fieis (Gl 5,18; Rm 8,14, 8,4), “revela” o mistério do evangelho e suas implicações (1Cor 2,6-16; Ef 3,5) e ajuda os fieis na oração (Gl 4,6; Rm 8,15.26-27; 1Cor 14,14-16). O Espirito tem “desejos” (embora a “carne” também tenha, sem que a “carne” seja necessariamente a força pessoal: Gl 5,16-17) e, em Efésios pode ser “contristado” (4,30). Paulo não tem a intenção de que nenhuma dessas observações sela comentário direto a respeito da personalidade do Espírito, mas elas suplementam seu pinto principal, em mais pragmático que especulativo. Paulo não trabalha com definições de “pessoas” divinas como as que surgiram na teologia cristã mais tardia. Contudo, parece que as sementes desse pensamento estão presentes aqui. Afirme ou não a personalidade do Espírito, Paulo está ansioso para que suas Igrejas saibam que tipo de personalidade o Espirito tem: ele tem caráter de Deus e, mais precisamente, de Jesus Cristo.

 

 

 

 

 

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O Espírito e a Sabedoria.

            O Espírito é o único meio pelo qual a sabedoria de Deus se comunica aos seres humanos, pois só o Espírito conhece a mente de Deus (1Cor 2, 10-16). Paulo nega que qualquer tipo de “sabedoria” originaria de baixo, do lado da humanidade, compreenda Deus e suas obras. Em 1 Coríntios 1,18-2,16, Paulo ataca as tentativas dos cristãos coríntios de “corrigir” o evangelho, revisando-o a luz de correntes intelectuais contemporâneas (quer judaicas, quer gregas) – denegrindo especificamente o papel da morte de Jesus na cruz. Nesta passagem, Paulo faz uma ligação muito importante entre o espírito, a cruz e a sabedoria. Os fundamentos evangélicos não podem ser alterados, pois não só os sistemas intelectuais humanos são “loucura” aos olhos de Deus (1 Cor1,18-25); o problema é ainda mais radical. A obra de Deus permanece misteriosa, incompreensível para os não-redimidos, que a rejeitam (1 Cor 2, 6.8.14).

            O Salvador crucificado é precisamente o conteúdo da misteriosa sabedoria de Deus, uma sabedoria que não quer ser entendida separada do Espírito (1Cor 1,23-24; 2, 2.6-12). Assim, o Espírito permanece como a única ligação para conhecer Deus e aceitar o evangelho. Os que procuram adulterar o papel da cruz (ou os elementos fundamentais do evangelho) só demostram serem, na verdade, pessoas sem o Espírito, “carnais” (1 Cor 2,14; 3,1). Essa ultima observação é dirigida aos de Corinto que se consideravam “espirituais” e procuravam  revisar a mensagem apostólica. Quando vista em contexto histórico e literário, esta passagem tem relevância continua para o Igreja, que em todas as épocas enfrenta exigências das forças intelectuais e religiosas dominantes para que modifique algum aspecto da essência evangélica (1Cor 2,6-16 não é um anúncio de conhecimento místico para uma elite cristã, mas é a defesa do evangelho apostólico como verdadeiramente “espiritual” e do Espírito como o que o comunica e esclarece.

 

 

 

 

 

 

 

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O Espírito como poder divino.

            Paulo herda do AT e do judaísmo intertestamentário o conceito do Espírito como poder de Deus. Ele atribui seu sucesso evangelístico à presença efetiva do Espírito e sugere mais de uma vez que milagres acompanhavam sua pregação, embora não os enumere (1Ts 1,4-6; 1Cor 2,4-5; Rm 15,18-19. Gl 3,2). Ele espera que nas assembleias cristãs o Espírito inspire não só a palavra falada, mas também as habilidades e os acontecimentos “sobrenaturais” (1Cor 12,7-11.14; Gl 3,5). Naturalmente, essa é apenas uma faceta do entendimento que Paulo tem do Espírito e não deve ser entendida isoladamente. Paulo jamais invocava a obra do Espirito apenas para impressionar ou entreter. Muitas das passagens paulinas falam do poder do Espírito relacionada diretamente ao propósito de evangelismo ou de viver a nova vida em Cristo.

            A recepção do Espirito pelos fieis é às vezes, descrita em termos como “encher” ou “derramar (sobre)”, o que levou diversos biblistas a afirmar que Paulo e os cristãos mais primitivos imaginavam o Espirito como um fluido que enche fisicamente, embora nos escritos paulinos “saciar” seja só uma imagem entre as outras, e ocorra apenas três vezes (1Cor 12,13; Ef 5,18; Tt 3,4-5). Essa linguagem é evocada em parte ecoando propositadamente o uso as septuaginta e é mais bem entendida como metáfora (Jl 3,1-2 “derramarei meu espirito”, repetido em At 2, 33; e Mq 3,8: “Eu...graças ao Espirito do Senhor...estou cheio de força”).

            Em Efésios, a única ligação explícita entre Espírito e poder foi incorporada: é para o “homem interior” e esta associada ao desejo de que Cristo habite os corações dos leitores pela fé (Ef 3, 16-17). Em outra passagem de Efésios, o autor fala da força de Deus (= Espírito?) como instrumento de ressureição de Cristo (Ef 1, 19-20). Do mesmo modo, em 2 Timóteo 1, 7, 0 Espírito dado a Timóteo deve ser a base de uma coragem divinamente inspirada a respeito do evangelho e de sua associação com Paulo preso (“não te envergonhes, portanto, de dar testemunho de nosso Senhor e não te envergonhes de mim, preso por causa dele”, 2 Tm 1,8) e também a fonte do poder divino para sofrer junto ( com Paulo ou com Cristo?) “pelo evangelho” (2 Tm 1,8). Essas funções lembram o papel do Espírito na proclamação do Evangelho.

 

 

 

 

 

 

 

1 – Em que este texto ajuda a minha pessoa?

2 – Em que este texto me ajuda na relação com minha família?

3 – Em que este texto me ajuda na vida de comunidade?

4 – Em que este texto me ajuda a transformar a sociedade?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Espírito de Cristo

            O Espírito tem o caráter de Cristo. Um aspecto notável do ensinamento paulino a respeito do Espírito que o distingue da fé israelita e judaica é a intima associação do Espírito com o Senhor Jesus ressuscitado, o “caráter de Jesus” do Espírito. Por isso é chamado o “Espírito de Cristo” ou o “Espírito do Filho de Deus” (Rm 8,9; Gl 4,6). O Espírito transforma os fieis a partir do coração para que tenham o caráter de seu Senhor Jesus Cristo (2 Cor 3,3.18; Ef 3, 16-17). E estar na comunhão de Filho de Deus, Jesus Cristo (1 Cor 1,9), é o mesmo que estar em comunhão com o Espírito Santo (2 Cor 13,13; Fl 2,1).

Por ser de Cristo, o Espírito é associado não só ao poder e a benção, mas também à cruz de Cristo (1Cor 2, 1-16), à humildade e ao serviço com os outros, em harmonia como caráter do mestre (1 Cor 12-13). Os coríntios têm de aprender que ser um homem espiritual significa não gloria, mas fraqueza e sofrimento (2 Cor 4,7-18; 3, 7-8; 11,16-12,10). A vida terrena de Jesus é modelo para a maneira como o Espírito atua nos fieis: “Ele (Cristo), sem duvida, foi crucificado em sua fraqueza, mas esta vivo pelo poder de Deus. E nós também somos fracos nele, mas estaremos vivos com ele pelo poder Deus para convosco” 92 Cor 13,4). O poder de Deus equivale ao Espírito de Cristo. Este caráter de Jesus do Espírito explica por que o sinal supremo da presença do Espírito, o elemento principal do “fruto do Espirito” (Gl 5,22), é o amor. O maior ato de amor Deus foi mostrado à criação na morte de Cristo por sua redenção; e esse amor “foi derramado” nos corações dos fieis pela presença do Espírito (Rm 5, 5-8).

            Dede a ressureição e Ascenção, Jesus agora se relaciona com sua Igreja e como mundo por intermédio do Espírito. Cristo só pode ser experimentado (neste tempo, antes de sua volta) por intermédio do Espírito. O Espirito marca os cristãos como membros do corpo de Cristo (1Cor 6,15-20); ele anuncia que os fieis não pertencem a si mesmos, mas ao Senhor que os comprou. Como Senhor da Igreja, Cristo a conduz por meio do Espirito na profecia, nos dons de ensinamento e liderança, ou por outros meios. O elo entre Jesus e o Espírito é tão intimo que para Paulo era impossível ter um sem o outro: “Se alguém não tem o Espirito de Cristo, não lhe pertence” (Rm 8,9; 1 Cor 12, 12-13). Dai que, ser cristão é ser verdadeiramente um “homem espiritual” (1Cor 2,10-16), habitado pelo Espírito.

 

 

 

 

 

 

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Distinções entre o Espírito e Cristo.

            Paulo distingue claramente os dois: somente Jesus é descrito como o Filho do Pai (Rm 1,3; Gl 4,4); somente ele teve uma natureza humana (Rm 1,3; 8,3; Gl 4,4; Fl 2,7); somente Jesus Cristo morreu “por nossos pecados” (1Cor 15,3; Rm 5,8; 2Cor 5,15), ressuscitou e esta sentado à direita de Deus (Cl 3,1; Fl 2,9). Isso nunca é dito do Espírito. Em nenhuma de sua cartas Paulo explica em detalhes como o Espírito e Cristo se relacionam, mas algumas dicas sobre seu modo de pensar estão presentes;

1 – O Espírito só vem em resultado da Fé em Cristo e, de outra maneira, não é posse da humanidade em geral (Gl 3,1-2).

2 – O Espírito é conhecido pelo fato de promover a confissão de Jesus como Senhor na Igreja( 1 Cor 12,3) e de dar testemunho do caráter e da verdade a respeito de Jesus (1Ts 1,6.8; 4,7-8). O Espírito é conhecido por que manifesta o caráter de Cristo em si mesmo e naqueles os quais ele habita.

3 – O Espírito traz os fieis uma nova relação com Deus como filhos, realidade que foi alcançada para eles por Cristo: “Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abbá – Pai!” (Gl 4,4-6; Rm 8,14-16)

4 – A vinda do Espírito é, para a Igreja, obra divina historicamente subsequente à obra de Cristo (Gl 4,4-6) e considerada dependente do que Ele realizou.

5 – O Espírito une todos os fieis a Cristo: eles são “um só espirito” com ele (1Cor 6,17) e foram batizados no (ou pelo) Espírito no corpo de Cristo, onde servem no poder do Espírito e sob sua orientação (1Cor 12, 4-13).

6 – Em 1 Cor 12 vemos que o Espírito fortalece, organiza e orienta o culto cristão e a comunidade cristã, e essa orientação tem autoridade igual a Deus (1 Cor 12, 11.18.28) ou de Cristo já que o corpo que os fieis servem é o de Cristo

A obra do Espírito e a vinda do Espírito para os fieis dependem do Filho e, em ultima instancia, do Pai. Contudo, o Espírito não é considerado um emissário menor, como um dos anjos, ele é, em sentido real, a presença de Cristo com os fieis.

            O Espírito tem um lugar muito importante na teologia paulina, porque possibilita a união do Jesus Histórico, que ressuscitou dos mortos, com a Senhor celeste, ao mesmo tempo presente entre seu povo. A corporalidade de um Jesus ressuscitado é potencialmente difícil de maneiras: 1) parece dar a Jesus uma natureza corruptível (porque ele compartilhou a existência material) e com a mesma gravidade, 2) faz Jesus uma figura distante, exaltada no céu, mas separada dos sentimentos e das necessidades de seu povo na terra. Paulo evita essas ciladas e preserva a natureza exaltada de Jesus em um novo corpo e ao mesmo tempo sua presença imanente com os fieis no Espírito (“Corpo espiritual”, 1Cor 15,44, não significa “um corpo feito de espírito” ou uma existência incorpórea; indica, antes, um corpo apropriado para a existência da vida de ressurreição – simultaneamente corpórea e “espiritual”).

 

 

 

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O Espírito e a missão.

            Como o espirito de Cristo, o Espírito Santo tem intima ligação com a mensagem evangélica. O Espírito fortalece e estimula a missão cristã. Isso esta brilhantemente descrito nos Atos dos Apóstolos, onde a vinda do Espírito está associado ao inicia da proclamação pós-pascal do evangelho (At 2), com sua infusão de poder (At 4,8.31; 6,10; 8,29; 10,44) e com a orientação de Pedro, Paulo e Barnabé em pontos chave (At 10, 19-20; 16,6-10). O próprio Paulo escreve a Igreja de Roma que ele foi capacitado para conduzir os gentios a Deus pelo que ele disse e fez “pelo poder dos sinais e dos prodígios, pelo poder do Espírito” (Rm 15,18-19). Ele se refere tarefa apostólica como “ministério do Espirito” ( 2Cor 3,8), grande parte do qual era evangelismo. O Espírito acompanhou sua pregação missionária inicial 1) confirmando a verdade da mensagem no coração dos ouvintes, 2) fortalecendo Paulo para efetuar “sinais e prodígios” (Rm 15,18-19; 2 Cor 12,12), 3) satisfazendo os fieis de tal maneira que a presença dos Espírito era inconfundível. Em três de suas cartas, toda para comunidades diferentes, ele lembra aos leitores a viva experiência inicial que tiveram do Espírito no contexto de ouvir o evangelho e a conversão (1 Ts 1,4-6; Gl 3,1-3; 1Cor 2,4-5). Paulo pressupõe que esses encontros iniciais com o Espírito servem para confirmar a realidade da conversão dos leitores e a validade do evangelho como verdadeiramente de Deus. Por sua vez, o Espírito dá aos leitores coragem e sabedoria para testemunhar a respeito de Jesus (1 Ts 2,2; 1. 5-6)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O Espírito e a nova vida do Cristão.

            Mais que qualquer autor do NT, Paulo liga o conceito do Espírito dado para habitar nos fieis com levar uma vida crista. O Espírito não é só poder de Deus que convence os fieis da verdade do evangelho, não só promovendo sua pregação, mas o Espírito é o poder da nova criação para os que vivem a fé em Cristo Jesus. os cristãos que antes estavam afastados de Deus no apenas entram no registro celeste dos redimidos ; o Espírito habita neles e os fortalece para levarem uma vida agradável a Deus (Rm 8,1-4; 12, 1; 1 Ts 4,1; 2Cor 5,9; Ef 5,10). Essa vida é descrita como “conduzida pelo Espírito” (Rm 8, 14) ou como andar “sob o domínio [impulso] do Espírito” (Rm 8,4; Gl 5,16.25).

            O contrário de andar sobre o domínio Espírito é andar “sob o domínio da carne” e, em Paulo, “carne” é muitas vezes posta em contraste com “Espírito”. A carne representa a pessoa caída; o egoísmo, a arrogância, a obstinado ignorância da vontade de Deus ou o desafio total desta vontade. O Espírito opõe-se completamente aos princípios da carne e do pecado pois “a carne tende para a morte, mas o Espírito tende para a vida e a paz” (Rm 8,6). O Espírito dentro dos fieis elimina o poder do pecado de modo que se possa dizer que o cristão cumpre a lei (Rm 8,1-4.12-15).

Estar no Espirito se expressa pelo fruto do Espirito: amor, alegria, paz etc. (Gl 5,22-23) a imagem do fruto harmoniza-se com o caráter benevolente das novas possibilidades dadas por Deus, como frutos da terra que crescem por seu poder sustentador e criativo. E, em Gálatas 5,22-23, esse fruto é posto em contraste explicito com as obras da carne. Se se procura uma prova da ação do Espírito e da maturidade do fiel com base na Escritura, certamente ela se encontra no fruto do Espírito, que manifesta o caráter de Cristo sendo formado na pessoa .em 1 Coríntios 13 Paulo critica a ideia de que qualquer manifestação espiritual é de valor á parte do símbolo mais importante do Espírito de Cristo, o amor.

            Uma pessoa não recebe simplesmente o Espírito como individuo. Proclamar Cristo como Senhor acarreta ser “batizado em um só Espírito, para formamos um só corpo” (1Cor 12,13) significa um chamado a uma existência unida, para fazer parte de uma nova rede social dirigida pelo Espirito. Portanto as mudanças que o Espírito provoca e os dons espirituais que ele fornece ao individuo não são só para o aperfeiçoamento próprio; os fieis devem usa-los para o beneficio de todos os cristãos (1 Cor 12, 7; 14,5.26). o Espírito é a força unificadora e criativa que dá origem à comunidade cristã, expressa no termo Koinonia (comunhão), que aponta para uma participação mutua no Espírito e para uma solidariedade (comunidade) criada pelo Espírito (2Cor 13,13). Nessa nova comunidade, o Espírito confere dons diferentes a pessoas diferentes que devem se reunir e trabalhar juntas, como  os vários membros de um corpo natural, formando assim o corpo místico de Cristo na Terra para servir ao Senhor (1 Cor 12, 4-31).

 

 

 

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O Espírito e a escatologia.

            Paulo considera o Espírito dado aos fieis um sinal escatológico, o que significa que a restauração e a salvação de seu povo por Deus já começou. Para Paulo o Espírito representa a invasão do fim dos tempos no presente.

            O que os fieis receberam quando o reino messiânico chegar plenamente, o julgamento tiver passado e todos os inimigos de Deus estiverem derrotados (Rm 8, 18-25; 2 Cor 1,22; 5,5; Ef 1, 13-14; 4, 30).

Assim, no presente, o Espírito é simultaneamente parte da vida e do poder do tempo futuro, e um sinal que aponta além do presente, e diz aos fieis que a plenitude da época messiânica ainda não chegou. “ Pois a criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus...também nós. Que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção, a libertação para o nosso corpo” (Rm 8,19.23). em todas as suas cartas, Paulo mantem esta tensão em sua visão do Espírito: não é a plenitude do Reino de Deus, contudo é uma antecipação da “glória” futura, apontando continuamente para a redenção escatológica do corpo.

            O Espírito é ele mesmo uma invasão dos poderes do tempo que há de vir e uma garantia da realidade desse tempo junto com o papel do fiel nele.

            Essa ligação do poder e da presença do Espírito como tempo futuro está também manifestada na alegria e na esperança que o Espírito inspira nos fieis (Gl 5,22; Rm 15,13). Essa esperança é a certeza de que os fieis não ficarão desapontados, de que o penhor do Espírito será na verdade confirmado pela participação na glória de Deus e na renovação de sua inteira existência ao lado da renovação de toda criação (Rm 5,2.5; 8,23-25). Por isso, uma “esperança” que tenha referencia só a esta existência presente é um gracejo cruel que termina em uma existência sem sentido (1Cor 15,19).

            O Espírito é também o poder do tempo futuro manifestado para os fieis em sua luta com as forças deste tempo que estão em inimizade com Deus. Paulo diz ao mesmo tempo: “é pelo Espírito, em virtude da fé que esperamos firmemente se realize o que a justificação nos faz esperar”, contudo, Paulo também exorta os fieis: “andai sob o impulso do Espírito e não façais mais o que a carne deseja” (Gl 5,5.16). Com efeito, os cristãos no Espírito estão libertos dos poderes mortais deste tempo (Rm 8,2.6). Por isso, somos trazidos de volta à ética e a natureza de Cristo do Espírito, o que mostra como, para Paulo, todo as essas facetas estão ligadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

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O Espírito e o culto.

Paulo informa aos cristãos coríntios que, como um todo e individualmente, eles são templo de Deus: “Acaso não sabeis que sois tempo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16; 6,19). Essas palavras estabelecem que o culto não é facilitado por um lugar, um edifício ou objetos santos, mas pela presença do Espírito de Deus. “Pois os circuncisos somos nós que prestamos o nosso culto – pelo Espírito de Deus, que fazemos consistir a nossa glória em Jesus Cristo” (Fl3,3). O lugar do culto é o coração humano, purificado, renovado e acompanhado do Espírito (Jo 4,23-24), ou a comunidade cristã como santuário do Espírito (1Cor 3,16).

            O fato de ser o Espírito que distribui os dons, significa serem eles benefícios dados pela graça generosa de Deus que não podem ser usados como símbolo de posição social nem de realizações. Foram concedidos como o Espírito deseja, não como os seres humanos desejam.

            Paulo exorta os cristãos a tomar cuidado com a maneira que como usam essas capacidades dadas pelo Espírito, em ultima instancia, a edificação (construção) do corpo é obra do próprio Espírito.

            A classe mais notável de ações que o Espírito fortalece no culto é a do discurso inspirado de vários tipos. A profecia é o mais obvio (1 Cor 12,10; 14,1-5.39); envolvia instrução, exortação moral e correção da congregação (1Cor 14,3). É um dos dons espirituais mais frequentemente mencionados, estreitamente ligados à presença do Espírito, e Paulo encorajou sua prática. 1 Tessalonicenses 5,19-20 deixa parecer que denegrir ou proibir seria equivalente a “extinguir” o Espírito. Outros dons de discurso inspirado incluem uma “palavra de conhecimento” ou sabedoria (1Cor 12,8; uma delas ou ambas equivalem ao ensinamento, que não é mencionado nesta lista, mas esta incluída em 1 Cor 12, 28-29); o ensinamento também é considerado inspirado pelo Espírito (1Cor 12, 28-29; 14,19.26); como oração – quer “no Espírito” quer não (1 Cor 14, 2.14-19) – e a glossolalia com a interpretação que a acompanha (1Cor 14,1-5.13-19.39). até entoar hinos deve ser entendido no contexto geral como algo movido pelo Espírito, que conduz a Igreja em seu culto, inspirando música e louvor (1Cor 14,15.26). Efésios 5,18-19 também faz ligação entre estar repleto do Espírito Santo, na edificação e o culto (salmos, hinos e cânticos do Espírito).

            Fora de 1 Coríntios há, poucas referencias ao papel do Espírito no culto. Fora de 1 Coríntios, o aspecto mais frequente associado ao Espírito é a oração. O Espírito que marca os cristãos como filhos de Deus inspira a confiante oração “Abbá” dos redimidos (Rm 8,15-16; Gl 4,6). E ele ajuda os fieis em suas orações, conduzindo-os para rezarem apropriadamente (Rm 8,26). Ao mesmo tempo, o próprio Espírito reza em beneficio daqueles nos quais ele habita (Rm 8,27). Também em Efésios, o “acesso” a Deus na oração é concedido pelo Espírito (Ef 2,18) e os fieis são exortados a adotar como prática constante essa oração que o Espirito suscita (Ef 6,18). E o sinal da Igreja é que, como verdadeiro Israel, a comunidade presta culto pelo Espirito (Fl 3,3).

            O Espírito fortalece diferentes fiéis com dons que beneficiam outros e ajudam no culto; que ele organiza a distribuição de dons de acordo com as necessidades dos fieis e inspira-os a usa-los corretamente (1Cor 14, 37-40). Isso não significa que tudo que é feito com a ajuda do Espírito no culto deva ser com espontaneidade (1Cor 14,15), com premeditação resoluta e criativa, ou com fidelidade a tradição apostólica (como no ensinamento) é exatamente tão inspirado e espiritual quando algo feito sob o impulso repentino (1Cor 15,1-8; 1 Tm 3,16).

            O Espírito estimula os fieis que , na oração, tenham coragem de falar com Deus com que agora reconciliados como filhos amados. Ele inicia o impulso embaixo e traz de cima a resposta amorosa de Deus. De maneira ideal, o culto é uma sinfonia de doxologia conduzida pelo Espirito, para louvar a Deus, proclamando o que ele fez e faz, e qual deve ser a resposta humana.

 

 

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O Espírito de Deus e a espiritualidade.

            Se deixarmos o próprio Paulo determinar o sentido da palavra espiritualidade no uso cristão, então não podemos falar de espiritualidade de Paulo sem reconhecer que a espiritualidade paulina baseia-se na comunidade trinitária divina – Deus Pai, o Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo. Para Paulo, o Espírito Santo estabelece e dirige a glória e a base do espírito humano (Rm 8,1-17; 1 Cor 2, 12-16; 12, 1-11; 2 Cor 1, 21-22; 5,5; Gl 3, 1-6; 4,1-7).

            A proclamação paulina da salvação e sua instrução a respeito da missão de Deus no mundo baseia-se no entendimento de que o Espírito Santo, prometido no AT como aspecto decisivo do tempo escatológico de salvação, opera fortemente no mundo. Isto esta evidente de maneira mais decisiva no fato de o Espírito ressuscitar Jesus, o messias de Deus, da morte para a vida e agora ser o mediador presença do Cristo ressuscitado e exaltado para a comunidade dos fieis (Gl 4, 1-6; Ef 1,13).

O apostolo também associa o Espírito Santo ao ato inicial da fé do fiel 9Gl 3,1-6; 4,1-7; 1 Cor 12,3; Rm 8,12-17) e também como a confirmação e p estabelecimento contínuos dos fieis como filhos e filhas de Deus em uma comunidade do Espírito (2 Cor 13,13; 1 Cor 12,14) que com oração e os lábios eleva a oração “Abbá, Pai” 9Rm 8,15; Gl 4,6).

A espiritualidade de Paulo define-se como um grande e sincero “sim a Deus”, a resposta do filho de Deus ao chamado de Deus no Espirito Santo. Expressando-o em ato e atitude, o fiel vive em obediência a Jesus Cristo e a imitação dele, o verdadeiro Filho de Deus, e anda no padrão disciplinado e amadurecido da obediência do amor de Deus.

Essa resposta humana é suscitada e se baseia no irresistível “sim” de Deus ao fiel – um “sim” que se manifesta de maneira suprema no Filho de Deus e por meio dele (2 Cor 1, 18-22). Essa obediência da fé (Rm 1,5; 16,26) que age pelo amor (Gl 5,6) é possibilitada pelo Espírito de Deus (Rm 8,1-17), que faz Cristo presente para o fiel e torna a vontade divina eficaz e fecunda na fé viva do fiel (Gl 5, 22-23).

 

 

 

 

 

 

 

 

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O fruto e os dons do Espírito.

            Estes dois aspectos são significativos da descrição paulina da pratica do Espírito. Com os dois aspectos são obra Espirito único de Deus. O fruto do Espirito deve ser evidente na vida comum do fiel e no exercício das responsabilidades de rezar, ouvir a Palavra e participar da vida da comunidade. O exercício dos dons do Espírito esta sujeito ao controle do fruto justificado do Espírito. E o fruto de Espírito é produzido para florescer e crescer na comunidade onde são exercícios os dons do Espírito santificante. A relação entre Fruto e Dom é para santificar e edificar a Igreja.

            Em Gálatas 5, 22-23 é o lugar do ensinamento a respeito do fruto do Espírito. Embora a lista do fruto do Espirito não apareça ser desenvolvida, representa apenas uma parte do fruto justificado na vida humana, como Paulo a entende, os primeiros três frutos – amor, alegria, paz – desempenham papel importante no ensinamento paulino.

            Quatro pontos são importantes para entender os dons na espiritualidade paulina:

1) Os dons do Espírito são ricamente variados e concedidos generosamente à comunidade que esta sendo edificada no mundo. Em Rm 12, 4-8 , Paulo esclarece a natureza variada dos dons, em especial, os dons semelhantes a funções da vida comum – serviço, generosidade e misericórdia – aparecem ao lado de dons mais semelhantes ás responsabilidades privilegiadas de oração, Palavra e comunidade, a saber, a profecia, ensinamento, exortação e liderança. Os primeiros parecem ser expressão concreta do fruto do Espírito somente quando a Igreja reconhece o valor transcendente de cada um, e de todos os dons do Espírito que operam juntos, só então o corpo de Cristo é edificado.

2) Os dons são concedidos para ser exercidos como responsabilidade privilegiada. Isso está de acordo com a estrutura da vida cristã como obediência de fé e é congruente com a espiritualidade como  o “Sim a Deus” do fiel.

3) O exercício dos dons é o solo fértil no qual floresce o fruto do Espírito. Proclamação, ensinamento fiel, exortação, liderança – todos exercícios dos dons do Espírito – levam a uma generosa oferenda dos frutos para a vida de comunidade. 4) Os fieis são capacitados para avaliar a autenticidade de sua pratica do Espírito pela medida na qual os frutos do Espírito são evidentes em suas vidas. A exortação no poder do Espírito proporciona á comunidade de fieis a sabedoria pela qual ela deve julgar a eficácia de sua pratica do Espírito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O papel da mente na oração.

            Romanos 10, 9-14 liga salvação à fé, à confissão e à oração. A referência à oração, com emprego de “invocar o nome do Senhor” é de extrema importância. Enfatiza a responsabilidade do individuo pata responder ao evangelho, revela o entendimento que Paulo tem da fé e esclarece o papel que ele atribui á mente na oração. Em Romanos 10,14, o apóstolo de maneira certeira, 1) o conhecimento de Deus, 2) a fé baseada neste conhecimento, 3) a oração que procede desta fé. É evidente que Paulo não considerava a fé da qual se origina a oração autentica uma espécie de salto no escuro. Para ele, a oração vem de uma fé inteligente ou racionalmente formada e se baseia na certeza de que Deus não é “desconhecido” (At 17,22-28), mas antes revelou-se na criação, na história, em Cristo, na Escritura e no Evangelho. As tendências modernas de separar a fé da razão não encontram nenhum apoio aqui.

            A respeito do uso do intelecto para rezar ocorre me 1 Coríntios 14,14-17: “se eu ora em línguas, eu estou inspirado, mas a minha inteligência nada produz. Que fazer, então? Eu rezarei inspirado pelo Espírito, mas rezarei também de modo inteligível... Pois, se somente a inspiração atua quando pronunciais uma benção, como aquele que faz parte dos simples ouvintes poderá dizer ‘amém’ à tua ação de graças, já que não saber o que esta dizendo? Sem duvida a tua ação de graças é notável, mas o outro não é edificado”. O apóstolo agradeceu a Deus por falar em línguas” mais do que todos vós”(1 Cor 14,18), e em 2 Coríntios 12,1 ele proclama “visões e revelações” (talvez associadas a oração) durante as quais ele ouviu “coisas inexplicáveis”. Mas ele parece ter considerado um estado mental racional menos sujeito ao abuso ou a ser entendido mal durante a oração, principalmente em reuniões públicas.

            Paulo considerava a vida de oração neste mundo uma luta interminável contra os poderes “deste mundo de trevas , os espíritos do mal que estão nos céus” (Ef 6,12; 2 Cor 2,11). Ele achava que a perseguição e a oposição a seu ministério eram manifestações dessa hostilidade e pedia orações para combatê-la (Rm 15,30; 2 Cor 1, 8-11). Ele estava convencido de que os fieis precisavam da armadura sobrenatural de Deus para resistir à tentação e “enfrentar as manobras do diabo”. Assim, ele exortava: “Que o Espírito suscite a vossa oração sob todas as suas formas, vossos pedidos, em todas as circunstancias; empregai as vossas vigílias em uma infatigável intercessão por todos os santos” (Ef 6,18). Entretanto Paulo não acreditava que a perseverança dependesse, em ultima instancia, da capacidade humana: Suas orações expressavam a certeza de que Deus “vos confirmará ate o fim, para que sejais irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Cor 1,8). Ele rezava para os filipenses, pois tinha convicção de que Deus “que começou em vós uma obra excelente prosseguirá em sua conclusão até o dia de Jesus Cristo (Fl 1,6). Mas, conhecendo a inclinação humana para “discórdia, ciúme, violências, rivalidades, maledicências, mexericos, insolência, agitações”, dizia aos coríntios: “Receio que, à minha próxima passagem, o meu Deus me humilhe diante de vós e eu tenha de chorar por muitos daqueles que pecaram anteriormente e não se converteram de sua impureza, de seu desregramento e de sua devassidão” (2 Cor 12,20-21). Ele os exortava a fazer “autocritica” e dizia: “Rogamos a Deus que não façais nenhum mal” (2 Cor 13,5.7).

 

 

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A oração e a vontade de Deus.

Para Paulo, a “luta” da oração não era tentativa de forçar Deus a mudar sua vontade. Rezar conforme a vontade de Deus era essencial para Paulo, porque ele entendia toda atividade do mundo em termos de bem e mal. Pela oração, o fiel declara que Deus e seu mundo estão em constante conflito. A oração é “em sua essência, rebeldia – rebeldia contra o mundo e sua queda, a recusa absoluta e perene de aceitar como normal o que é universalmente anormal. [A oração é]... a recusa de toda programação, todo esquema, toda interpretação que seja em desacordo com a norma originalmente estabelecida por Deus” Assim a oração é verdadeiramente uma luta.

            Mas Paulo não imaginava uma luta contra Deus para curvar sua vontade aos desejos pessoais ou às necessidades dos outros. A oração era, antes, parte da luta do fiel para discernir, afirmar e participar as realização da vontade de Deus contra a influencia do poder do mal. O compromisso de viver e também de rezar conforme a vontade de Deus constituía a essência daquilo que Paulo queria dizer quando conclamava os leitores a rezar ‘em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5,20). Os fieis eram exortados não apenas a rezar, mas a erguer para os céus mãos “santas” (1 Tm 2,8). Por causa da alta consideração do apostolo pela soberania de Deus, ele não imaginou que as respostas à oração humana pudessem alguma vez ser contrarias à vontade de Deus. Ele disse aos romanos que pedia “continuamente, nas minhas orações, que eu tenha enfim, por sua vontade, a oportunidade de ir ter convosco” (Rm 1,10), e mais tarde exortou-os a rezar: “Assim eu poderei chegar até vós na alegria, pela vontade de Deus, e tomar algum descanso convosco” (Rm15,32).

            A prioridade da vontade de Deus era ressaltada para o apostolo pela realidade de oração importuna, persistente, mas não respondida em sua vida: “três vezes roguei ao Senhor” diz ele em 2 Coríntios 12,7-10, quis “um espinho [que] foi posto na minha carne, um anjo de Satanás encarregado de me bater” fosse afastado. Por esse tipo de experiência, ele veio a entender que 1) adversidade, sofrimento, insultos e perseguições eram oportunidades para o poder de Deus tornar-se “perfeito” ou completamente manifesto, por meio da fraqueza humana. Além disso 2) sofrer na vontade de Deus produz perseverança, caráter e esperança que não engana (Rm 5,3-5). E, finalmente, 3) o sofrimento e “nossas tribulações de um momento são leves com relação ao peso extraordinário da gloria eterna” (2 Cor 4,17; Rm 8,18) assim, ele exortava à “paciência” enquanto os cristãos esperavam e rogavam pela realização final da “adoção” , a libertação para o nosso corpo (Rm8,23).

 

 

 

 

 

 

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A intercessão do Espírito.

            Em Romanos 8, 26-27, Paulo revela que “o Espírito vem em socorro de vossa fraqueza, pois nós não sabemos rezar como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis, e Aquele que perscruta os corações sabe qual é a intenção do Espirito pelos santos”. O ponto central aqui, a saber, a certeza de que a oração oferecida pelo Espírito está de acordo com a vontade e Deus. Para Paulo, a questão primordial é pedir conforme a vontade de Deus (1 Jo 5, 14-15). A intercessão do Espírito do intimo dos fieis na Terra compara-se à constante intercessão dos fieis da parte do próprio Cristo nos céus (Rm 8,34). A expressão “gemidos inexprimíveis”, em Romanos 8,26, é muitas entendida como  alusão ao dom dos fieis de falar em línguas durante a oração em circunstâncias difíceis.

Rezar “no Espírito” significa “orar naquela consciência de Deus que o Espírito traz, ser capaz de aproximar-se dele com certeza confiante como um filho se aproxima de pai”.

            Paulo exortava a Igreja “carregai os fardos uns dos outros” (Gl 6,2), expressão muitas vezes explicada popularmente com apelo ao salmo 55,22 que exortava a intercessão. Mas é provável que devamos dar mais ênfase ao aspecto da mutua  preocupação em Cristo, expressa no ato de carregar o fardos como  as tentações dos outros (Gl 6,1). A famosa invocação paulina em 2 Coríntios 1, 3-4, que descreve Deus como “Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, ele nos consola em todas as nossas tribulações, para nos tornar capazes de consolar todos os que estão na tribulação”, parece apoiar isso.

            A intercessão de Paulo pede maior conhecimento de Deus, esclarecimento espiritual, melhor entendimento do que significa estar “em Cristo’ e a certeza do “poder incomparavelmente grande” de Deus. O objetivo de Paulo é que seus convertidos imitem Cristo e sejam “cumulados” até receberem “toda a plenitude de Deus” (Ef 1,19; Cl 1,19). O missionário-pastor não é um ascético nem indiferente à importância dos assuntos práticos da vida cotidiana. Mas, em termos que recordam as palavras de Jesus, ele exorta os fieis a viverem (e rezarem) de uma forma que dê prioridade aos valores da vida presente e futura: “o exercício corporal é de escassa utilidade, ao passo que a piedade é útil para tudo. Não possui ela a promessa da vida, tanto da vida apresente como da futura?” (1Tm 4,8).

            A intercessão do apostolo em Efésios conclui uma doxologia (Ef 3, 20 -21) que resume bem a certeza que Paulo tem na eficácia de toda oração oferecida no Espírito segundo a vontade de Deus: “àquele que pode, por seu poder que age em nós, fazer além, infinitamente além do que nós podemos pedir e conceber, a ele a glória na Igreja e em Jesus Cristo, por todas as gerações, nos séculos dos séculos. Amém.

 

 

 

 

 

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Paulo e a magia.

            A crença em deuses , demônios, espíritos e várias outras formas e poderes sobrenaturais era característica proeminente da concepção de mundo do século I DC. Pela prática comum da magia, a pessoa encontrava proteção contra este domínio e ate adquiria controle sobre ele. Os que se tornavam cristãos e entraram para as Igrejas cristãs primitivas eram tentados a trazer com eles as crenças e as praticas magicas, como vemos no relato que os Atos fazem de um incidente em Éfeso (At 19,18-19). Essas pessoas precisavam de perspectiva do seu passado e de uma atitude mudada em relação a ele à luz da interpretação paulina do Evangelho.

            No mundo do tempo de Paulo, a magia não era uma forma de entretenimento que consistia no uso habilidoso de truques ilusórios. Era coisa muito mais seria e correspondia de modo muito próximo aquilo que hoje chamamos de bruxaria, feitiçaria ou ocultismo. A magia baseava-se na crença em poderes sobrenaturais que eram reunidos e utilizados pela apropriação da técnica correta. Portanto, definia-se como método para manipular poderes sobrenaturais para realizar certas tarefas com resultados garantidos. Os mágicos não buscavam a vontade divina em uma questão, mas invocavam a divindade para fazer exatamente o que eles determinavam.

            A magia era ilegal no império romano e considerada aberrante do ponto de vista social, fora dos limites da pratica religiosa aceitável. Acusar outro individuo ou grupo de praticar a magia era instrumento poderoso de controle social no mundo antigo. Embora os motivos dos que acusam os outros de magia e feitiçaria precisem ser avaliados com cuidado.

            Os que usavam a magia tinham objetivos pessoais. Não há exemplos remanescentes de pessoas que usaram a magia para realizar a vontade de uma divindade. A magia era, antes, usada precisamente para influenciar a vontade de uma divindade ou um espírito. A magia era usada para proteção contra os maus espíritos.

            No tempo de Paulo muita gente estava convencida de que mudar o curso de suas vidas era diretamente afetado pelo alinhamento dos astros no céu por ocasião de seu nascimento. Os praticantes da magia acreditavam que um destino injusto podia ser alterado influenciando-se  essas divindades com formula mágica apropriada. Além disso, por meio da magia, uma divindade proeminente podia ser invocada para desviar as garras do destino.

            A magia era também usada com propósitos menos honrosos. Espíritos eram invocados para forçar a atração física de outra pessoa, para alcançar as boas graças e influenciar pessoas, para curar vários tipos de doenças e para conseguir a aparição de uma divindade que revelasse um conhecimento especial. Havia também um tipo mal de magia que procurava causar dor e mal em adversários e inimigos.

 

 

 

 

 

 

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Paulo e magia em Atos.

            Lucas relata um incidente no qual Paulo enfrentou um mago (At 13,4-12), esse mágico era judeu, mas estava ligado ao procônsul pagão da ilha de Chipre. Paulo encontrou na ilha no início de sua viagem missionária. Quando o procônsul mostrou interesse pelo Evangelho que Paulo anunciava, Elimas (o mágico) opôs-se com veemência a Paulo. Segundo Lucas, Paulo denunciou Elimas como filho do diabo e o senhor imediatamente cegou o mágico.

            Os Atos relatam outro episódio dramático ocorrido durante o ministério paulino em Éfeso (At 19, 13-20). Lucas narra uma situação envolvendo exorcistas judeus itinerantes que invocavam o nome de Jesus como parte de seu rito mágico para o exorcismo. Certa ocasião, eles falharam tragicamente quando aplicaram esse método a um homem endemoniado. Lucas diz que eles foram fisicamente atacados pelo homem e forçados a fugir da casa seminus e cobertos de chagas. Quando se espalhou a noticia entre os cristãos, os que continuavam a praticar magia amontoaram seus livros caros de formulas mágicas e encantamento e os queimaram.

            Esse relato reforça a fama de Éfeso como uma espécie de centro para práticas mágicas durante o século I. É também importante para entender a formação pré-cristã de muitos convertidos paulinos. Os cristãos primitivos enfrentavam uma forte tentação de combinar as crenças e as práticas de magia com o cristianismo. Esta claro que Lucas considerava a magia um mal e o domínio do diabo. A esse respeito, Lucas também reflete corretamente as convicções de Paulo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Paulo e a magia nas cartas.

            Se Gálatas 5,20 é indicação da atitude geral de Paulo para com a magia, concluímos que ele a julgava inconsistente com a vida do Espírito. Ali ele condena severamente a ‘magia” no mesmo nível da idolatria; ambos são obras da “carne”, que não devem fazer parte da vida do fiel. (cf. Ap 21,8 onde se afirma que os que praticam a magia experimentarão a “segunda” morte”).

            Em 2 Timóteo 3,13, diz: “Quanto aos homens maus e aos impostores (charlatão ou trapaceiro), eles progredirão no mal, enganando os outros e sendo eles mesmos enganados”. Embora seja possível quem em 2Tm 3,13 faça referencia a um mágico, do mesmo tipo que Apolônio de Tiana, já que em 2 Tm os trapaceiros são comparados com mágicos que se opunham a Moises. Mais uma vez a pratica da magia é vista sob a pior luz possível.

            Os praticantes de magia estavam obsessivamente interessados em poderes sobrenaturais por razões práticas. As cartas paulinas, em especial Colossenses e Efésios, dão aos leitores uma nova visão do domínio dos espíritos. Paulo jamais nega a existência real de maus espíritos; ao contrário, ele tem o cuidado de descrevê-los como subordinados ao controle do príncipe do mal, Satanás (Ef 2,2). O que é mas importante, Cristo derrotou todas estas essas forças por sua obra na cruz (Cl 2,15) e é agora exaltado bem acima delas em uma posição de soberania (Ef 1,20-22). Contudo, os poderes ainda exercem influência e são hostis à Igreja. A parusia de Cristo porá um fim na tirania deles sobre o mundo (1 Cor15,24;Ef 1,10; Cl 1,20). Por causa de sua perigosa hostilidade à igreja, esses poderes não devem ser invocados nem manipulados pelos cristãos, que devem resistir a eles pelo poder de Deus (Ef 6,10-20).

            Em Éfeso, Paulo declara a supremacia de Cristo sobre todos poderes espirituais, na verdade sobre “qualquer outro nome capaz de ser nomeado” (Ef 1,19-23; 4,8-10). Para os que viviam em constante medo das terríveis façanhas dos maus espíritos, isso proporcionava muito consolo. O destino não esta nas mãos de poderes caprichosos, mas é determinado pelo Pai amoroso que “nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (Ef 1,4). A vontade e o propósito desse Pai celestial benevolente se realizam na história (Ef 1,5.10.11; 2,10); ele não é uma divindade para ser manipulada conforme as extravagancias carnais da pessoa. Aproximamo-nos de Deus com humildade e gratidão e rezemos de acordo com sua vontade (Ef 3,14-19; 1,15-19). Em contraste com as tentativas egoístas de usar o poder divino da magia, Efésios enfatiza a recepção do poder divino pelo fiel para manifestar amor aos outros de maneira abnegada (Ef 3,16-17; 5,2).

            A carta também da uma nova perspectiva dos poderes ao realçar seu conluio com o diabo e expor seu objetivo de atacar a Igreja (Ef 2,2; 4,7; 6,12). Efésios garante aos fieis a disponibilidade do poder de Deus para resistir a essas forças. Segundo Paulo, não obtemos o poder de Deus por meio de magia e formulas, mas em virtude de uma estreita união com o Cristo ressuscitado (Ef 2,5-6; 6,10).

 

 

 

 

 

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Milagres na missão paulina.

            Paulo reluta em chamar atenção para seus milagres da mesma maneira que os adversários (1Cor 1,22; 2Cor 12,12), “sinais e prodígios” eram os milagres que ele realizava pelo poder do Espírito e estavam integralmente associados a sua pregação para fazer parte do novo Êxodo para a liberdade possível no tempo de Cristo. Assim, o Evangelho é, em parte, formado pelos milagres  que eram realizados (Rm 15,18-19; 1 Ts 1,5).

            A função dos milagres na missão de Paulo é vista, por exemplo, em 1 Cor 2, 1-5, em que Paulo explica que, embora tenha vindo aos coríntios fraco, receoso e todo tremulo, sem palavras persuasivas nem de sabedoria para proclamar somente Jesus Cristo, e Jesus Cristo Crucificado, sua mensagem é uma “demonstração” de Espírito e poder, afim de que a fé dos coríntios se baseie não na sabedoria humana, mas no poder de Deus (1Cor 2,4). Ao relacionar sua fraqueza, seu receio e palavra com a demonstração do evangelho, Paulo provavelmente se refere não só ao encontro dos coríntios com o poder de Deus transformas suas vidas em conversão, inclusive a recepção do Espírito acompanhado pelos dons espirituais, mas também aos milagres envolvidos em sua missão como demonstração ou prova do seu evangelho (2 Cor 12,9-10; 1 Ts 1,9).

            Além disso, em 1 Tessalonicenses 1,5, talvez para se defender contra a acusação de trazer uma mensagem sem demonstrar sua eficácia, Paulo diz que seu evangelho entre eles não ficou só no discurso, mas também no poder e no Espírito Santo e na plena convicção, o que mostra que, para ele, sua missão incluía não só proclamação mas também milagres e a convicção intima produzida pelo Espírito Santo.

            Paulo descreve uma das manifestações da presença do Espírito no fiel (1 Cor 12,7) como “poder de operar milagres” ou simplesmente milagres. O dom dos milagres diferencia-se da cura (1 Cor 12,9), embora pudesse se referir a exorcismos. Paulo não achava que a habilidade de realizar milagres era concedida a todos (1 Cor 12,9). A mudança na forma como os dons estão relacionados em 1 coríntios 12, 28 (1 Cor 12, 8-10) significa que o dom dos milagres está menos estritamente associado a fieis em particular que a designação por Deus de apóstolos, profetas e homens encarregados do ensino. No entanto, os milagres são importantes o suficiente para ser relacionados imediatamente após esses ministérios primordiais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Milagres de Paulo em Atos.

            As narrativas de milagres associadas a Paulo são aspecto importante da descrição de Paulo nos Atos. Em Atos 13,4-12, o procônsul acredita quando vê Paulo fazer o mágico Elimas ficar temporariamente cego por se opor a ele.

 Em Atos 14,4-18, por terem curado um inválido, Paulo e Barnabé são saudados como deuses que desceram em forma humana, e os dois aproveitaram para anunciar a Boa Nova.

Em Atos 16,16-18, o exorcismo do espírito de adivinhação de uma jovem criada resulta na conversão do carcereiro e de sua casa. Atos 19, 11-12, resumo do ministério paulino, menciona que seus lenços eram levados aos doentes para que fossem curados ou libertos de maus espíritos. Isso contribui para que a Palavra do Senhor cresça e aumente seu poder (At 19,20).

Na ressureição de Êutico em Atos 20, 7-12, a descrição de Paulo é a de u homem de Deus como Elias (1 Rs 17, 17-24) e Eliseu (2 Rs 4, 32-37). Em resultado de Paulo curar o pai de Públio de febre e disenteria em Atos 28,7-10, é relatado que todos os habitantes de Malta trouxeram seus doentes para serem curados.

Paulo também é descrito como objeto de milagres: recupera a vista 9At 9,8.18; 22, 11-13), é libertado da prisão (At 16, 25-34) e não sofre nenhum mal, apesar de uma víbora se prender em sua mão (At 28, 3-6).

Essas narrativas, que abrangem temas teológicos dos Atos, não descrevem apenas Paulo como milagreiro, como nas cartas, mostra que ele proclama um evangelho que inclui o milagroso e uma mensagem a respeito do poder de Deus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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AS visões paulinas.

            Apesar de Paulo ter tido experiências visionárias,, ele raramente as menciona. É difícil descrever o conteúdo das visões paulinas ou determinar o papel que desempenham em sua religiosidade pessoal. Embora seu chamado ao ministério viesse em forma visionária (Gl 1, 11-12.16), ele abertamente rejeitava as visões como critério de autoridade apostólica.

            Na narrativa dos Atos, a experiência paulina na estrada de Damasco é descrita três vezes (At 9, 1-9; 22,6-11; 26, 13-19) – em duas delas, o próprio Paulo descreve o acontecimento; outras passagens de Atos descrevem Paulo como homem encorajado, dirigido e guiado por experiências extáticas semelhantes a visões (At 9,12; 16,9-10; 18, 9-11; 22,17-21; 23, 11; 27,23-24). É importante entender esses relatos em sua ligação com o plano teológico de Lucas, que era diferente do paulino. A atitude paulina para com as visões é diferente da de Lucas. Lucas enfatizava as visões como parte de sua apologética da missão as gentios: esta é obra de Deus e, assim, as visões confirmam o ministério paulino no chamado e no desempenho. Paulo defende a missão para com os gentios e o papel que desempenha nela porque a Palavra foi proclamada e a Igreja estabelecida (2 Cor 3,2-3; 12,12; Rm 15,18-20). As experiências extáticas têm valor somente na medida em que revelam essa obra (1Cor 14, 26.30-33). Por essa razão, assumem papel secundário no entendimento paulino de ministério.

            Paulo esta disposto a mencionar visões quando sofre ataques, embora sempre com reticencias. Em Gálatas 1, 12.16; 2,2, ele menciona revelações em resposta à acusação de que não recebera credenciais apropriadas em Jerusalém (e diz que sua missão “foi revelada” pelo Senhor). Em 2Corintios 12,1-4, ele mudou a ênfase, criando uma paródia irônica das reinvindicações dos “superapóstolos” com representantes que se opunham ao seu trabalho; Paulo tem respeito pelos lideres embora condene os que alegavam representá-los (2 Cor 11,5.13-15; 12,11). Nesse contexto Paulo afirma que suas “revelações eram extraordinárias” (2 Cor 12,7). A principal delas é a viagem ao céu em 2 Coríntios 12,1-4.

            Paulo não se orgulha destas visões e insiste que elas não constituem um critério para a autoridade apostólica. Paulo repele qualquer auto exaltação por causa destas visões, ele chama atenção para o erro no qual seus adversários caíram: ele os iguala ponto por ponto, mas esses são os pontos errados. Para assegurar essa posição, ele apresenta sua “defesa” com grande relutância (observa-se o uso da terceira pessoa no singular [2 Cor 12, 2-5] o recurso repetido a apologias em 2 Cor 11, 30-33; 12, 1.5.6 e a ênfase equivalente na humilhação, no sofrimento e na fraqueza [ 2 Cor 11,32-33; 12, 7-9.10] simbolizada no crucificado [2 Cor 13,1-4]).no fim, são essas limitações, e não as visões, que representam as credenciais apropriadas para o ministério.

 

 

 

 

 

 

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Anjos em Paulo.

            A palavra anjo deriva do grego angelos, pelo latim angelu, e é frequentemente usada para traduzir essa palavra grega, que significa “mensageiro”. A palavra hebraica mal’ak, ou mensageiro podia ser usada como referencia a um emissário humano ou espiritual. Cada um dos catorze usos de angelos (quase sempre no plural) nas cartas paulinas parece presumir ou referir-se a uma comparação com um ser ou seres sobrenaturais bons ou maus.

            Em diversos casos, os anjos são citados como observadores ou testemunhas de Cristo ou dos fieis. A idéia de anjos que acompanham Deus e o Cristo exaltado aparece em 1 Timóteo 5,21, onde Timóteo é exortado “na presença de Deus e de Cristo Jesus, bem como dos anjos eleitos”, a observar as normas da disciplina da Igreja.

            Em 1 Cor 11, 10, Paulo instrui que “a mulher deve trazer sobre a cabeça uma marca de autoridade, por causa dos anjos”. Para Paulo, a questão é a ordem correta na adoração, em que as mulheres e também os homens oram e profetizam (1 Cor 11, 4-5). A sugestão que os anjos, como filhos os “filhos de Deus” de Gêneses 6,2, podem ser sexualmente tentados pelas cabeças descobertas das mulheres (o cabelo feminino sendo atração sexual) ou que as mulheres estariam sujeitas a investida de anjos demoníacos malignos não tem apoio exegético convincente e presume que a “autoridade” sobre a cabeça da mulher seja uma cobertura de cabeça. A cabeça coberta da mulher não só indicava dedicação ao marido como também respeitava a obrigação judaica do homem divorciar-se da mulher que aparecesse na rua com a cabeça descoberta (ketubot 7,6). A observância desse costume tinha importância especial em uma Igreja domestica que se reunia junto da sinagoga (At 18,7), onde “mensageiros” poderiam relatar um comportamento ou traje improprio (1Cor 11, 10). Entretanto, em 1 Coríntios 11, 16, Paulo indica que a Igreja não tem esse costume universal e a mulher tem o direito de escolha; mas ela esta obrigada a respeitar a sensibilidade alheia. 91 Cor 7, 37; 8,9; 9,4.5.12).

O interesse de Paulo na ordem litúrgica sugere que os anjos preocupam-se com a manutenção dessa ordem. Indícios de qumran atestam a crença judaica na presença de anjos “na congregação”, razão pela qual o portador de deficiência física devia ser excluído da assembleia. Entendimento semelhante pode ter sido introduzido em Corinto, com a “autoridade” sobre a cabeça da mulher a fim de satisfazer os requisitos angelicais para a ordem correta.

Em 1 Cor 13,1, Paulo refere-se a falar “em línguas, a dos homens e a dos anjos”. Talvez isso aluda ao discurso profético, ou a falar em línguas, e sugira, mais uma vez, uma relação entre adoração inspirada pelo Espírito e a dos anjos.

            Em 2 Cor 11,14, Paulo adverte que até Satanás se disfarça de anjo de luz. Paulo toma a tradição judaica de Satanás se disfarçando (Genesis) e aplica a seus adversários em Corinto que se tinham disfarçado de apóstolos. Na verdade Paulo afirma que els são servos de Satanás (2 Cor 11,15) é um emprego metafórico da idéia de anjo.

            Embora Paulo tivesse em alta conta os anjos, chegando a comparar sua calorosa acolhida pelos gálatas à “um anjo de Deus” (Gl 4,14) ele também empregou os anjos como contrastes para a insuperável glória do evangelho de Cristo. Se Paulo “ou um anjo do céu anunciasse um evangelho diferente” (Gl 1,8) do que lhes foi anunciado anteriormente, esse evangelho deveria ser considerado anátema (errado).

 

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Línguas – Glossolalia – Xenolalia.

            Em 1 Cor 12 10 a frase “hetero gene glosson” foi traduzida como “o dom de falar línguas” (TEB), “a diversidade de línguas” (CNBB), “o dom de falar línguas” (BJ), “a variedade de línguas” (Ave Maria – Vulgata), “falar línguas estranhas” (Vozes), “a variedade de línguas” (Bíblia Africana); “ falar línguas diferentes” (Bíblia do Peregrino); “falar em línguas estranhas” (Bíblia na linguagem de hoje); “ “mukwavo vanamuhane kuhanjika malini eka naeka” (Mukanda Wakalunga – Luvale). A diversidade de traduções representa a dificuldade de lidar com este tema. A variedade “idioma” (não encontrada em traduções brasileiras) sugere que o evento de Pentecostes de Atos 2, 5-11, onde a multidão ouviu os 120 falarem em diversos idiomas humanos (xenolalia) diferentes deles, dá a base para essa interpretação.

            O fato de Paulo não mencionar falar em línguas em nenhuma carta além de 1 Coríntios deu origem a duas explicações: 1) esse fenômeno era tão difundido entre as igrejas que Paulo não viu necessidade de mencioná-lo, exceto onde era mal usado (em Corinto), ou 2) Paulo decidiu não mencionar para os romanos esse carisma “problemático” (Rm 12, 6-8) e aos efésios (Ef 4,11), quando tratou de outros fenômenos carismáticos, porque não queria encorajar o uso nem a propagação desse dom.

            Os que defendem a presença desse carisma apelam não só a presença de línguas em Corinto, mas também a passagem como atos 2, 1-4 (Jerusalém), Atos 10, 44-48 (Cesaréia) e Atos 19, 1-6 (Éfeso). Os que defendem que Paulo não se interessava em ver este carisma difundido citam a preferencia paulina por fenômenos proféticos inteligíveis ( 1 Cor 14, 1-5.18-19) ao lado do seu silencio respeitoso do assunto onde, de outro modo, ele seria apropriado (Rm 12 e Ef  4).

            Paulo reconheceu por experiência própria que a capacidade de falar em línguas era uma coisa boa. Afirmou que falava em línguas (1 Cor 14,18) e desejava que todos os destinatários tivessem essa experiência (1 Cor 14,5), ele entendia que quem falava em línguas edificava a si mesmo (1 Cor 14, 4). Afinal se dirigia a Deus (1 Cor 14, 2), embora anunciasse coisas misteriosas. Quando interpretada apropriadamente, permitia a comunidade de fé abençoar, agradecer ou louvar a Deus de uma forma verdadeiramente inspirada pelo Espírito (1Cor 14, 15-17). Apesar de seu valor, o dom de línguas também tinha limitações evidentes, tinha valor apenas temporário. Ao contrario do amor, a capacidade de falar línguas irá acabar 91 Cor 13, 8). Exercido sem amor, abalaria os nervos ( como metal que ressoa ou um címbalo retumbante, 1 Cor 13,1), seria uma expressão orgulhosa, arrogante, rude, egoísta e irritada de insensibilidade para com a comunidade (1 Cor 13, 4-7). Exercida na comunidade mas sem interpretação apropriada, toda manifestação de falar em línguas, quer por um individuo, quer de acordo com toda comunidade leva a confusão (1 Cor 14, 17.23).

           

 

 

 

 

 

 

 

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Diretrizes para exercer o dom das línguas.

            Para Paulo o dom de línguas ser exercido em seu potencial mais pleno, afirma que certas diretrizes básicas devem ser consideradas. A manifestação da graça concedida pelo Espírito Santo deve refletir o caráter daquele que o concede. Se Deus é um Deus de paz, então o uso desse dom deve refletir essa qualidade. Não para insensibilidade ás necessidades dos outros.na verdade, exatamente o oposto deve ser verdade. Deve contribuir para a unidade e a compreensão e ser exercido de maneira sensível ás necessidades dos outros. Como Paulo imaginou isso?

            O fato de Paulo escolher a metáfora do corpo de Cristo para descrever a comunidade cristã ajudo-o essa metáfora era consistente com seu reconhecimento de que os fieis são chamados a comunhão, conceito fundamental para o que significa viver como discípulos de Jesus Cristo (1 Cor 1,9). Não devia haver divisão no corpo (1 Cor 10, 23-24), mas sim edificação (1 Cor 14,12), paz (1 Cor14,33), decência e ordem (1 Cor 14,40). Paulo não defendia o abandono de falar em línguas sem nenhum motivo (1 Cor 14,39). Isso o faria sentir-se culpado de algo que ele não perdoava, a saber, extinguir o Espírito (1 Ts 5,19), que soberanamente decidiu conceber seu carisma a certos indivíduos no corpo de Cristo (1 Cor 12,11).

            A teologia paulina deixa claro que, embora a capacidade de um individuo falar em línguas traga edificação pessoal (1 Cor 14,4), esse individuo deve participar com Espírito para o maior bem da congregação, preferindo limitar sua ação de certa maneira.

            O fato de 1) ser possível impor limitações ao numero de pessoas que falam em línguas durante toda assembleia especifica da comunidade crista (geralmente não mais que duas ou três), de 2) casa um ter sua vez de forma ordeira e 3) de poderem preferir ficar em silencio, falando tranquilamente com Deus (1Cor 14, 27-28), tudo parece indicar que os que falam em línguas tem o controle total de suas faculdades. Tomam decisões conscientes quanto ao seu comportamento e agem de maneira que, em ultima instancia, contribui para o bem geral da comunidade.

            As diretrizes paulinas, que ele afirma não serrem menos que um “mandamento do Senhor” (1 Cor 14,37), põem a responsabilidade primordial de “falar em línguas” diretamente nos ombros de quem fala. Assim como a Igreja não deve proibir que se fale em línguas (1Cor 14, 40), também aquele que manifesta esse dom só deve agir de uma forma que beneficie a Igreja toda e também o não-crente que ali estiver presente (1 Cor 14, 1.5.12.26.40).

            Se não há um interprete presente, mas a pessoa acredita ter sido inspirada para falar em línguas, ela tem duas alternativas que beneficiam a Igreja:

1) assumir a responsabilidade de orar a Deus para obter o dom de interpretação (1 Cor 14,13). Pedir o carisma que torna a expressão em línguas inteligível para a comunidade não significa necessariamente que o dom será concedido. O Espírito que distribui tais carismas é, afinal soberano quanto a concessão deles (1 Cor 12,11). Mas se a necessidade é genuína e o Espírito decido intervir, é claro que não há nenhum mal em pedir. Quem faz isso não é culpado de presunção. A comunidade pode, no final das contas, ser edificada (1Cor 14,5).

            2) Fazer silenciosamente a Deus (1 Cor 14,28) uma oração que traga a edificação ao que fala e se dirige a Deus, mas não contribui para a desordem e a confusão na comunidade. O fato de Paulo mencionar essa opção leva alguns a acreditar que falar em línguas tem um papel legitimo como “linguagem de oração” particular.

 

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Paulo, Pedro e as línguas.

            Na verdade, talvez Paulo expressasse seu dom de falar em línguas com muita frequência precisamente dessa maneira silenciosa. Ele celebrou o fato de falar muitas vezes em línguas ( 1Cor 14,18), mas em sua preferencia pessoal não era fazê-lo no contexto de uma comunidade (1Cor 14,19). Isso sugere claramente que, quando Paulo falava em línguas, era de maneira silenciosa, quer em um ambiente comunitário, quer em particular, como parte de sua vida devota pessoal.

            O único exercício de línguas que Paulo condena com clareza como ilegítimo é exatamente o que os cristãos coríntios parecem ter adotado – falar em línguas por falar em línguas, sem interpretação e sem respeito pela vida e pela participação da comunidade.

            É importante notar que em nenhum parte Paulo afirma que falar em línguas é outra coisa além de um carisma, um dom do Espírito Santo; Paulo não afirma que falar em línguas seja sinal do batismo no Espirito. (1 Cor 12,13).

            A insistência de muitos pentecostais de que a capacidade de falar em línguas atua como sinal disponível para todos os cristãos não se baseia em Paulo; em vez disso, apoia-se fortemente nos escritos de Lucas, de modo mais notável em Atos 2,1-39; 10,44-48; 19,1-6). Entende-se que Pedro considerava falar em línguas sinal ou prova da imanência do Espírito de Deus que acabou de ser derramado, como a resposta do profeta Joel (At 2,16-21 = Jl2,28-32). Paulo entendia que o dom das línguas também indicava a presença de Deus na graça, permitindo ao locutor rezar de forma inspirada pelo Espírito. Entretanto, quando era mal-usado em público, agia de uma forma contraria a seu proposito divino. Transformava-se em sinal de julgamento contra o não-crente, que o interpretava unicamente como sinal de loucura (1Cor 14,23). O interesse de Paulo era que esse carisma fosse usado de maneira positiva e edificante e não como sinal negativo. Em resultado, ao considerar a conduta apropriada dos cristãos reunidos para o culto publico, Paulo recomendava a fala inteligível que envolvia o conhecimento (1Cor 14,19) e, em especial, o dom da profecia (1Cor 14,1.3-5).

            A analise paulina de falar em línguas se esclarece quando entendemos sua preocupação de que, quando se manifestar na comunidade cristã, qualquer carisma tenha a finalidade de edificar essa comunidade. Todas as ênfases improprias na experiência individual, em êxtases ou manifestações que sejam ininteligíveis para a comunidade toda devem ser evitadas como apropriações indevidas da graça divina na vida da comunidade cristã e inconsistentes com o caráter de Deus que soberanamente a concede a diversos membros da Igreja.

 

 

 

 

 

 

 

 

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O ministério nas Igrejas paulinas.

            Para o apóstolo Paulo, o ministério incluía tudo o que Cristo exaltado fez e faz por intermédio de seu povo para edificar sua Igreja, isso incluía o exercício apropriado dos dons par ao ministério, que Cristo concedeu a todo seu povo, e também o ministério dos que, como Paulo, foram divinamente designados para estabelecer e educar as Igrejas. Também incluía as designados por ação humana para exercer papeis de liderança nas Igrejas.

            As Igrejas que Paulo fundou eram comunidades “carismáticas”, formadas por indivíduos que tinha recebido, todos elas, dons de ministério a ser exercido para o bem comum (1Cor 12 7.11). Algumas pessoas eram designadas diretamente por Deus para exercer um papel de liderança na Igreja, e sua função era pôr os outros membros em condições de exercer seus ministérios. Há também indícios de ministérios mais “oficiais”, os dos epíscopos (supervisores), anciãos e diáconos e também o dos delegados apostólicos, designados por ação humana.

            Nas cartas paulinas há muitas indicações de que mulheres trabalhavam ao lado dos homens pela causa do evangelho. Primeiro há o exemplo extraordinário de Priscila. Ela e o marido, Áquila, eram colaboradores de Paulo e arriscaram a própria cabeça para salvar-lhe a vida. A Igreja se reunia na casa deles, e todas as Igrejas dos gentios lhes eram gratas (Rm 16,3-4; 1 Cor 16,19; 2 Tm 4,19). Havia também Evódia e Síntique, colaboradoras de Paulo no anuncio do Evangelho, que trabalhavam na comunidade de Filipos (Fl 4,2-3), a diaconisa Febe, que servia a Igreja de Cencréia (Rm 16,1-2) e Trifena e Trifosa, trabalhadoras do Senhor ás quais Paulo enviou saudações (Rm 16,7).

            Nas cartas pastorais foram dadas a Timóteo e a Tito instruções a respeito das qualificações dos que iam ser designados epíscopos, diáconos e anciãos (1 Tm 3,1-7.8-13; Tt 1,5-9). Esses ministros era designado por Paulo e seus delegados (Tt 1,5; At 14,23). As funções do epíscopo incluíam ensinar e governar a casa de Deus (1 Tm 3,2.5). parece que a tarefa dos anciãos era presidir a Igreja (1Tm5, 17), e que alguns deles se dedicava a pregar, ensinar e refutar os que contradiziam a sã doutrina (1Tm 5,17; Tt 1,9). Não é dada nenhuma informação quanto a tarefa dos diáconos.

            Paulo via seu ministério primordialmente como apóstolo de Cristo, a quem fora atribuída a responsabilidade de conduzir os gentios a obediência da fé. Era um ministério realizado por palavras e ações e no poder do Espírito Santo. Seu ministério era motivado pela percepção do amor de Cristo por todos (2 Cor 5,14) e pela consciência da obrigação que ele tinha de realizar o encargo a ele confiado (1 Cor 9, 16-17).

            O elemento essencial do ministério paulino era a anúncio do evangelho (1Cor 1,17). Esse, ele reconheceu, era o meio pelo qual Deus decidiu se fazer conhecido das pessoas (1Cor 1,21); esse era o poder de Deus para a salvação (Rm1,16; 1 Cor 1, 18). Ele tinha obrigação de anunciar esse Evangelho e enfrentaria terríveis consequências se não o fizesse (1 Cor 9, 16-17). A única opção que ele tinha era anunciá-lo, gratuitamente ou não, e ele conscientemente decidiu fazê-lo gratuitamente (1Cor 9,18; 2Ts 3,8).

 

 

 

 

 

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Doença e cura nos escritos paulinos.

            O apóstolo Paulo considera fraqueza, a doença e outras tribulações parte da ordem natural caída ( 2 Cor 4,17), parte do seu sofrimento como servo de Cristo (2 Cor 11, 23-12,10), motivadoras no anuncio do Evangelho (Gl 4,13-14) também mensageiras de Satanás (2 Cor 12,7). Além disso a doença e descrita como julgamento de Deus ou castigo pelo pecado (1 Cor 11, 27-32), embora Paulo nunca aplique essa interpretação a sua doença ou a seu sofrimento. A menção de Lucas, o médico amigo (Cl 4,14), demostra uma atitude favorável para com a profissão medica (Sr 38,1-15).

            Paulo não considerava a doença uma coisa que o Senhor sempre cura, embora a fraqueza remanescente torne mais evidente o poder de Cristo em sua vida, a ponto de Paulo se orgulhar de sua fraqueza (2Cor 12,9-10). Os gálatas era tentados e rejeitar Paulo porque sua doença contrastava com os milagres que ele operava (Gl 3,5). Em bora a doença de Paulo possa não ter sido grave o bastante para ser mencionada na lista de provações em 2 Coríntios 11, 24-27., ela fez com que Paulo pregasse aos gálatas, e eles o recebessem como a Cristo (Gl 4,14). Assim, até a doença é oportunidade para anunciar o Evangelho.

            Paulo não adota uma atitude triunfalista em relação a doença e à cura, embora esteja convencida de que nada nos separa do amor de Deus (Rm 8,35-39), e uma das expressões da presença do Espírito Santo é o dom da cura.

            As únicas vezes que Paulo se refere diretamente à cura da doença é quando menciona os dons ou “carismas de cura” em suas listas de dons do Espírito (1Cor 12, 9.28.30).

            Em 1 Cor 12, 30 Paulo talvez queria ressaltar que o poder de curar não é inerente à pessoa e esta recebe o carisma para ocasiões de cura especificas e diferentes. Como não ouvimos Paulo falar de portadores de cura em tempo integral, e como o dom da cura  em tempo integral, e como o dom da cura é mencionado somente no contexto de dons para a comunidade local de fieis, é provável que Paulo não pense em portadores do dom de cura itinerantes.

            Paulo faz poucas referencias ao fato de ter o dom da cura (Gl 3,5). Entretanto entendemos que a frase tradicional que ele usa para descrever seu trabalho “sinais e prodígios” (Rm 15, 18-20; 2 Cor 12,12; 2 Ts 2,9). Paulo enfatiza que Deus é o autor de suas curas. D perspectiva paulina, esses sinais e prodígios, juntamente com sua mensagem, são Cristo, que opera por meio dele, e eles identificam-no como apóstolo, ale, de ajudarem a conquistar a obediência dos gentios.

 

 

 

 

 

 

 

 

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A cruz e a vida cristã em Paulo.

            Como a cruz afeta a vida cristã?  Talvez seja aqui que as plenas implicações de uma teologia da cruz fiquem claras. A cruz forma a vida cristã, fato que Paulo desenvolve em uma série conveniente de passagens de sua vida, nas quais ele relata a maneira que ele foi moldado pela cruz e harmonizou-se com o padrão do Cristo crucificado. Em uma serie importante de passagens, Paulo indica a maneira pela qual é possível esperar que a cruz afete a vida dos fieis.

            Em 2 Coríntios 4, 7-15 Paulo indica a forma como a cruz de Cristo infunde-se na sua existência. Ser alguém que crê é trazer as marcas de tribulações, conflitos e rejeições. A ideia principal é expressa na sentença : “sem cessar trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus” (2Cor 4,10). Para Paulo, Cristo e sua cruz são a causa e o paradigma do sofrimento do fiel. Há uma forte sensação de que o fiel participa da vida – e daí dos sofrimentos – de Cristo, idéia que talvez Romanos 8,17 expresse mais plenamente (Cl1, 24).

            Em Gálatas 6,14 “Eu, por mim, nunca vou querer outro titulo de glória que a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; por ela o mundo esta crucificado para mim, como eu para o mundo”. Essa passagem significativa trata da critica dos que, por razoes mundanas, desejam forçar os cristãos a adotar estilos de vida estranhos ao evangelho. O mundo é considerando um poder que invade a vida dos fieis onde não tem nenhuma autoridade para fazê-lo. A passagem subentende uma relação orgânica entre a crucifixão de Cristo , a de Paulo e a do mundo. Por causa da cruz, Paulo morreu para o mundo e o mundo morreu para ele. “Os que pertencem ao Cristo crucificaram a carne”. (Gl 5,24). O poder que o mundo outrora exercia sobre ele foi rompido. Paulo agora participa de uma nova criação que existe graças a crucifixão, na qual a autoridade e o domínio do mundo foram destruídos – não, mais que isso: o mundo foi crucificado.

            Em Filipenses 3,8-12 se baseia na idéia de participar da ressurreição e dos sofrimentos de Cristo por causa da relação dos fieis com ele. Paulo expressa o desejo ardente “de conhece-lo [Cristo] e ao poder de sua ressurreição e à comunhão com seus sofrimentos, de tornar-se semelhante a ele em sua morte (Fl 3,10). Conhecer Cristo é conhecer seus sofrimentos.

            Para Paulo a fé começou com a cruz e para ela que se volta continuamente como ponto de referencia fundamental, para ser nutrida pelo Cristo crucificado. Pela participação em Cristo, o fiel compartilha seus sofrimentos e sua morte um dia – mas ainda não” – participará de sua gloriosa ressurreição.  E essa esperança vai nos manter e precisa nos manter na busca da fé. Os fieis tem vislumbres dos domínios celestes, até ouvem as vozes distantes dos anjos – mas permanecem aqui, dedicados a Cristo crucificado, em meio a um mundo sofredor. Os domínios celestes permanecem no futuro, embora sua musica distante seja ouvida agora. A cruz representa a imagem da vida cristã no mundo, exatamente como  representa a esperança além deste mundo, que os fieis partilham com Paulo.

 

 

 

 

 

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Culto e adoração em Paulo.

            Para entender o culto nas Igrejas paulinas encontra-se nas afirmações a respeito da graça divina para satisfazer a necessidade humana e cósmica e o papel fundamental atribuído a Jesus Cristo, o Senhor outrora crucificado  e agora ressuscitado, exaltado e glorificado, como chefe e soberano de toda criação (Fl 2, 6-11; Tm 3,16). Essa duas afirmações estão no centro da prática paulina de culto, vista em seus louvores, orações, e confissões de fé e abordada no tipo de atividade celebrativa à qual ele esperava que suas comunidades de dedicassem.

            O ensinamento paulino está espalhado por toda aa sua correspondência e, embora haja algumas sugestões de que ele incorporou partes de um padrão de culto estabelecido não há nada definido.

             A oração e a ação de graças estão sempre unidas. Os cristãos são aconselhados a não extinguir o Espírito, em especial a não desfazer as palavras dos profetas, mas são advertidos de que devem discernir os espíritos. Acima de tudo nada de inconveniente deve entrar na comunidade, o q sugere um controle de praticas desenfreadas de culto (1Ts 5,16-22).

            Formas triadicas de oração, louvo e confissão também podiam aparecer lado a lado (2Cor 1,20-21; 1 Cor 12,4-11; Ef 4,4-6), como as pessoas da divindade eram associadas a vários ministérios e ocupações. Em Efésios 1, 3-14, há um formato trinitário quando é dito que o Pai escolheu os fieis, o Filho de seu amor para redimir e o Espírito para autenticar a salvação na experiência humana 9Ef 4,30; 2 Cor1,20-22; 5,5).

            Paulo tomou e enriqueceu diversas tradições que tinham haver com uma ceia realizada em obediência à intenção do Senhor “ na noite em que foi entregue” à morte (1 Cor 11,23). Era uma refeição comum baseada nos costumes judaico de confraternização à mesa, incluía as orações judaicas pela comida e pela bebida (agora com caráter cristão) quando o pão e a taça eram consumidos, seguindo o modelo da sala superior, a presença do Senhor era recordada “em memoria de mim”; e o rito simples apontava além de si mesmo para uma esperança futura no Reino de Deus que havia de vir. O que Paulo fez em resposta direta, evidentemente a problemas sócias em Corinto, foi enriquecer e aplicar essas idéias básicas com uma consequência prática, a separação entre refeição fraterna (uma refeição compartilhada) e um serviço eucarístico mais solene. A razão para essa separação estava nos abusos correntes em Corinto, onde o excesso de comida e bebida levava ao deleite e, como chegavam tarde, os fieis pobres não participavam da refeição social (1Cor 11, 17-22). Assim Paulo cura este mal ao instituir “um só pão” que exprime “um só corpo” (1Cor 10,16-17) e em mostrar o caminho pelo qual a dimensão de comunhão no Corpo e Sangue do Senhor dava fim as divisões e a preocupação egoísta na comunidade.

            No culto, os fieis ativamente buscar o bem de toda comunidade e desse modo glorificar a Deus (1 Cor 10,31) e usufruir sua presença, ao mesmo tempo em que recordam que Deus está realmente no meio da comunidade em julgamento santo e graça renovada (1Cor 14,25; 5,3-5; 11,29-32; 16,22).

 

 

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