Tradição + Magistério + Escritura.
O que é a Bíblia?
Digamos
à guisa de definição, que a Bíblia é um conjunto de 73 livros com vários
títulos ou denominações: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Evangelhos, várias
epístolas etc., os quais podem ser localizados pelo índice geral dela.
Divide-se em duas partes bem destacáveis: o Antigo Testamento e o Novo
Testamento.
Testamento
é o nome que se dá à Aliança "contraída" com Abraão e
"cumprida" em Jesus Cristo. Enquanto projeção de Abraão designou-se por Antigo Testamento
aos acontecimentos a ela correlatos;
quando afins à Nova Aliança em Jesus Cristo, tomou o nome de Novo
Testamento. É que um testamento "traz" disposições que devem ser
"cumpridas" após a morte de um dos testadores, no caso, Abraão no
Antigo e Jesus no Novo, "trazendo", para a Homem "cumprir",
"disposições de última vontade", e "uma herança".
A
Bíblia vem geralmente dividida em capítulos e versículos. Os capítulos são
especificados por números maiores colocados num começo de narrativa parcial e
os versículos por algarismos menores colocados antes das frases que compõem o
capítulo. Costuma-se dar títulos aos vários capítulos, ou a trechos deles,
também conhecidos por "perícopes", que foram ai incorporados
pretendendo facilitar a compreensão e a localização por assuntos, mas não fazem
parte integrante e indestacável do contexto.
POR QUÊ A BÍBLIA É IMPORTANTE?
Só
há uma razão pela qual se pode dizer que a Bíblia é importante, tal como São
Paulo diz: "E não somos como Moisés, que punha um véu sobre o rosto, para
que os filhos de Israel não vissem o final da glória que se desvanecia; e assim
o entendimento deles ficou obscurecido. Pois até o dia de hoje, à leitura do
velho testamento, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo
é ele abolido; sim, até o dia de hoje, quando Moisés é lido, um véu está posto
sobre o coração deles. Contudo, convertendo-se ao Senhor, é-lhe tirado o
véu" (2 Co 3,13-16).
A Bíblia é
importante por causa de: Jesus Cristo
Sem
Jesus Cristo, a Bíblia não passa de um dos livros ultrapassados que por ai
existem nos museus ou em uso nos mitos e superstições ou fossilizados. Pode-se
pretender que ela seja a Palavra de Deus. E é, mas a Palavra de Deus plenamente
revelada por Jesus Cristo. Ele é a Revelação por excelência, a única Revelação
do Pai;
Jesus é a Palavra do
Pai
Diz-se
que Jesus é a PALAVRA porque manifesta ou revela o Pai, tal como Ele mesmo o
diz: "Jesus lhe disse: "Filipe, há tanto tempo estou convosco e não
me conheces? Quem me tem visto, tem visto o Pai. Como podes dizer: mostra-nos o
Pai?" (Jo 14,9). Também Paulo e João
o dizem: "Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda
criatura..." (Col 1,15) “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava
com Deus, e a Palavra era Deus"
(...) "Ninguém jamais viu a Deus. o Filho Unigênito, que está no
seio do Pai, é quem o deu a conhecer."
(Jo 1,1.18).
É
essa a função da PALAVRA: tornar conhecido o que ela significa. Caso um
professor permaneça em silêncio perante um grupo de alunos, eles nada saberão
de seu saber íntimo, pois, sem a palavra nada se sabe. Quando ele começar a
falar, a fazer o uso "da palavra", passará a ser entendido e os
alunos apreenderão o que ensina, por aquilo que ele "revelar" com a
sua palavra. Ora, Jesus "revelou" o Pai; logo, JESUS é a PALAVRA DO
PAI.
Revelação
Já ficou claro pelo
acima exposto que Cristo é a Revelação única e definitiva, e que somente aquilo
que transmitiu aos Apóstolos, que nos vem pela Tradição e o Magistério da
Igreja, pode-se dizer "revelado". É que, com a morte do último
Apóstolo, terminou a transmissão oral da Revelação, o que se conhece por
Tradição, ficando apenas o que foi deixado por eles como "depósito"
(de fé), como o denominou São Paulo (1 Tm 6,20; 2 Tm 1,12-14), que compõe o
Magistério da Igreja, aquilo que ela ensina. Melhor o diz o Catecismo da Igreja
Católica, recém promulgado por João Paulo II: "'Muitas vezes e de muitos
modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que
são os últimos, falou-nos por seu Filho' (Hb 1,1-2). Cristo, Filho de Deus
feito homem, é a Palavra Única, Perfeita e Insuperável do Pai. Nele o Pai disse
tudo, e não haverá outra palavra além dessa. (...) A Economia Cristã, portanto,
como Aliança Nova e Definitiva, jamais passará, e já não se há de esperar
nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor
Jesus Cristo" (n.º 64-65).
Inspiração
Tal
como a Revelação, também a Inspiração Bíblica já acabou. O que ilumina a Igreja
em prosseguimento à Obra de Cristo (Jo 20,21) é uma especial Assistência do
Espírito Santo, e não se confunde com a Inspiração Bíblica, como a própria
Igreja define e explica: "A verdade divinamente revelada, que os livros da
Sagrada Escritura contêm e apresentam, (...). ...escritos sob a Inspiração do
Espírito Santo (cf. Jo 20,31; 1 Tm 3,16; 2 Pe 1,19-21; 3,15-16), eles têm Deus
por autor e nesta qualidade foram confiados à Igreja. Para escrever os Livros
Sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e
capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, escrevessem, como
verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele próprio queria"
("Dei Verbum" n.º 11; Catecismo. da Igreja Católica n.º 105/106).
"Por isso, a pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos
livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a
consumação dos tempos. (...). Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na
Igreja sob a Assistência do Espírito Santo..." (Constituição 'Dei Verbum',
Conc. Vat. II, n.º 8).
O
que não se deve perder de mira é que tanto a Revelação como a Inspiração foram
dons ou carismas especiais de Deus para a confecção da Sagrada Escritura, e
isto se deu quando dos originais, não se estendendo às traduções, aos
comentários ou mesmo à exegese. Por isso, a missão da Igreja de interprete
única, por causa daquele já mencionado "depósito" (da fé) que lhe é
pertinente: "O 'depósito' (1 Tm 6,20; 2 Tm 1,12-14) da fé ("depositum
fidei"), contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, foi confiado
pelos Apóstolos à totalidade da Igreja. 'Apoiando-se nele, o Povo Santo todo,
unido a seus Pastores, persevera continuamente na doutrina dos Apóstolos e na
comunhão, na Fração do Pão e nas Orações, de sorte que na conservação, no
exercício e na profissão da fé transmitida, se crie uma singular unidade de
espírito entre os bispos e os fiéis.' (cfr. Catecismo 84) 'O encargo de
interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi
confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em
nome de Jesus Cristo' ("Dei Verbum", 10), isto é, aos bispos em
comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma" (idem 85). Pode-se
desde já perceber a importância da Tradição, que é a transmissão das verdades
reveladas pelos Apóstolos a seus sucessores, no que se estrutura o Magistério
da Igreja.
Tradição, Magistério e Escritura
Cristo
não é um fundador de nova religião, nem o cristianismo é uma
"heresia" do judaísmo. Os Apóstolos e os discípulos continuaram
freqüentando o Templo e seguindo os rituais ali celebrados, até mesmo após a
Sua Morte, Ressurreição e Ascensão (Lc 24,53; At 2,46; 3,1) bem como após o
Pentecostes (At 2,46; 3,1...). Compartilhavam da "visão" de Jesus de
que o cristianismo é o "cumprimento" do judaísmo, o seu ponto de
chegada: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim
destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra
passem, de modo nenhum passará da lei um só "i" ou um só
"til", até que tudo seja cumprido" (Mt 5,17-18).
Entretanto,
os primeiros cristãos não conheciam o Novo Testamento tal como se conhece hoje.
Quando muito haviam alguns manuscritos destinados apenas a registrar as
pregações locais. Os cristãos de Roma, por exemplo, conheciam a pregação de
Pedro e, possivelmente, conheciam também uma ou outra das cartas de Paulo (2 Pe
3,15-16). Vê-se facilmente que os escritos atuais dos Evangelhos são
verdadeiramente o registro catequético de então, a primeira expressão da
Tradição Apostólica, aqueles que foram escolhidos e aprovados entre tantos
outros (Lc 1,1-2 diz "muitos"):
"A
Tradição de que falamos aqui é a que vem dos Apóstolos. Ela transmite o que
estes receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam pelo Espírito
Santo. De fato, a primeira geração de cristãos ainda não tinha um Novo
Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento testemunha o processo da
Tradição Viva" (Catecismo da Igreja Católica, 83). "Por isso, a
pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos livros inspirados,
devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos. (...)
Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a Assistência do
Espírito Santo..." (Constituição 'Dei Verbum', Conc. Vat. II, n.º 8).
Informa
Papias que o primeiro Evangelho foi escrito por Mateus em aramaico, que o
destinou aos judeus. Vieram outros, inclusive a tradução dele para o koiné, o
grego popular de então, que não eram ainda tão difundidos, nem faziam parte de
um cânon definido pela Igreja. Somente algumas comunidades tinham uma espécie
de compilação mais ou menos aleatória, ao que tudo indica, e não ainda de forma
sistemática como hoje: "Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a
discernir quais os escritos que deveriam ser enumerados na lista dos Livros
Sagrados" ('Dei Verbum, 8,3). Esta lista completa é denominada 'Cânon' das
Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46 (45, se contarmos Jeremias e
Lamentações juntos) escritos e 27 para o Novo:
Da
mesma forma que então, porque inexistente, para os católicos ainda hoje,
"só a Bíblia" não é, nem pode ser, o único fundamento para a fé, eis
que não se partiu dela para o que se crê. O que nela se compôs foi o então
ensinado pelos Apóstolos. Por isso, fundamental ainda lhes é o conjunto formado
por: Tradição + Magistério + Escritura: "Fica portanto claro que segundo o
sapientíssimo plano divino a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o
Magistério da Igreja estão de tal maneira entrelaçados e unidos, que um não tem
consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do
mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas"
(Constituição Dogmática 'Dei Verbum', 10)
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