Os novos rostos da missão
Após o colapso dos colonialismos
políticos, cresce sempre mais em toda parte o desejo de democracia, de participação,
de plenitude e de paz. Nesse contexto, as culturas e as religiões ressurgem
como fontes de identidade. Porém a religião é relegada à esfera privada, ao
posso que a prática econômica e política reclama autonomia absoluta em relação
aos valores éticos as guerras e tragédias mundiais, o indiferentismo religioso
e o individualismo, fazem duvidar da eficácia da missão. Torna-se, então
necessário refletir sobre o significado e o processo da missão.
A missão como mistério: A missão da Igreja emana da missão da trindade que é
fonte de amor, de bondade e misericórdia, que chama a todos para partilhar
gratuitamente de sua própria vida. É nesse contexto trinitário e cósmico que se
funda a missão da Igreja. Esta é símbolo e seva da missão e como tal, chamada e
enviada a descobrir, fortalecer e promover a missão divina e não a si mesma.
Assim a tarefa da missão não é fazer mas, contemplar e discernir a presença e a
ação de Jesus e do Espírito. Sendo fonte da comunicação, a trindade já sta em
dialogo com as pessoas, nossa missão não é colocar-ns como intermediários, mas
como facilitadores desse dialogo.
A missão como símbolo: Jesus e o Espírito não abandonam o mundo; pelo
contrario, continuam presentes e atuantes no meio das pessoas.
Conseqüentemente, nossa missão consiste em, como comunidade de crentes e
seguidores de Jesus, visibilizar simbolicamente (explicitar) sua ação em todo
lugar.
Missão global: Centra-se
não apenas nas pessoas e nas comunidades, mas nas estruturas econômicas,
culturais e sócio-politicas que lhes estão subjacentes. Estas est5uturas tem um
a dimensão global, de tal do que fatos
ocorridos em determinado lugar podem ter conseqüências em toda parte do mundo.
Nessa perspectiva, embora a missão seja necessária em toda parte do mundo, ela
se torna urgente nos paises de primeiro mundo, onde se encontram os centros de
decisão da política econômica mundial.
Jesus Cristo como modelo de missão: Sendo Jesus nosso modelo e quem envia em missão, nosso
caminho missionário deve ser como o seu: da profecia e do amor-serviço, num
mundo marcado por conflitos pessoais, sociais e estruturais. A missão como
profecia chama-nos a apresentarmos modos de vida alternativos. Implica em
conflito com os poderes do mundo que excluem, oprimem e matam. Apóia-se
unicamente no poder do amor não violento, da auto-doação, do dialogo e do
respeito pela liberdade.
A missão como redes de comunidade:
O objetivo de toda ação missionária é a construção da comunidade humana, unida
em amor e serviço mútuo. Isto não
significa a supressão das diferenças culturais, étnicas ou religiosas, mas sua
integração. A Igreja-comunidade será símbolo e serva de tal fraternidade,
tornando-se uma comunidade limiar. Essas comunidades abrirão fronteiras de modo
a imergirem na vasta comunidade humana como fermento. Tem como limite o mundo,
porém sem deixar de ser local. Essas comunidades são chamadas ao serviço global
através de um trabalho em redes.
Fundamentos teológicos da missão
A
teologia da missão, a partir da CV II, acentua as “missões divinas” não apenas
como o ponto de partida para a cisão; é toda a missão (origem e fim, motivação
e método, identidade e sustentação) que está inserida na mistério trinitário e
abastece-se no seu dinamismo missionário. A missão não significa, então,
expansionismo ou extensão missionária da Igreja e, tampouco, um “mandato
missionário” arbitrário e sem fundamento, porque ela se colaca primeiramente a
serviço do amor trinitário em suas insondáveis manifestações, que são bem mais
amplas que a estrutura da Igreja visível.
A Evanglli Nuntiandi (1975) denunciou o
descompasso entre a evangelização e o mundo contemporâneo e convocou a Igreja a
inculturar-se no mundo de hoje, qualquer que seja o seu contexto, até atingir o
núcleo mais profundo das culturas.
A
missão abrange, portanto, toda família humana chamada a viver em comunhão plena
com a trindade e entre si. A missão é obra de salvação integral das pessoas e
envolve a comunidade. A comunidade trinitária é o paradigma da missão.
Métodos de evangelização
Não
existe individuo ou povo sem cultura. Esta perpassa e marca todo pensamento e
atividade humana. A própria fé não escapa dessa lei. O relacionamento entre o
ser humano e o transcendente é condicionado por crenças, valores,
representações atitudes, mitos e símbolos legados por uma determinada cultura.
Assim surgem vários métodos no decorrer da história para
tentar demonstrar a fé cristã. Tias métodos não significam uma evolução lógica
no processo de evangelização, pode-se perceber um ou mais métodos dentro de uma
mesma área missionária.
Aculturação: Conjunto dos fenômenos que aprecem como resultado de
um contato prolongado e direto entre grupos humanos culturalmente diferentes.
Nesse contato, alguns modelos culturais de um ou dois grupos acabam se
modificando. O essencial desse método consiste na aceitação de que é possível
dissociar o núcleo essencial e único da fé cristã, da roupagem cultural com a
qual os séculos de ocidentalização tinham-no encoberto, e assim poder discernir
nas outras culturas o núcleo substancial da mensagem cristã.
Encarnação: Sugere que os teólogos deixem de tomar
como ponto de partida u corpo teológico
já existente (ocidental) e trabalhem para fazer “emergir” sua obra diretamente
do evangelho e das tradições religiosas e das aspirações fundamentais dos
diferentes povos. Surgiram, desse modo, a “teologia negra” e a “teologia da
libertação”.
Contextualização: Rejeita uma inculturação que se
apóia apenas sobre a tradição; ao contrario, ele apela para um quadro de
referencia mais amplo. Querem se distanciar da concepção excessivamente
extática e fechada que alguns métodos atribuem à cultua. Querem salientar que a
tradição constitui apenas um componente de um contexto mais vasto que engloba
outros fatores como a industrialização e a economia, a modernidade, a
urbanização, as novas tecnologias, o pluralismo cultural e certos aspectos da
secularização.Esses elementos devem ser levados em consideração, da mesma forma
que os elementos tradicionais, já que juntos, eles compõem o cenário que
condiciona a evangelização e interfere na reformulação da identidade cultural
dos evangelizados.
Libertação:
Nascida no meio intelectual latino-americano, a idéia se espalhou e
alcançou outros continentes. Como conseqüência, nas Igrejas do terceiro mundo
aparecem novos conceitos teológicos, inspirados e centrados na idéia de
libertação. A primeira de todas s libertações é a libertação cultural que
condiciona as outras libertações:econômica, política, social, religiosa...
começar pela libertação cultural significa atacar o mal pela raiz, ir ao
essencial.
Explicitação: Trata-se de reconhecer no grande
mosaico das culturas “as sementes do verbo” lançadas pelo Espírito. Daí que, a
atividade missionária, não consiste em anunciar algo totalmente desconhecido e
sim explicitar a imagem de Cristo que o precedeu e esta presente na historia
dos povos em todos os tempos e culturas e sempre se manifesta nas aspirações da
pessoa humana. É indispensável estar inculturado para poder explicitar.
A evangelização nas diretrizes gerais da ação
evangelizadora da Igreja no Brasil.
Em sua trajetória as DGAE foram enriquecidas pelas
contribuições de importantes documentos do CV II, de vários Sínodos e
Encíclicas, sobretudo da Evangelli Nutiandi e da Redemptoris Missio, das
Conclusões de Medellin, Puebla e Santo Domingo, alem de muitos documentos do
episcopado brasileiro que tiveram grande repercussão na Igreja e na sociedade
brasileira.
As DGAE salientam a necessidade de integrar todos os seus
elementos, de forma que ela implique não só o anúncio explícito do Evangelho,
mas também a vida e ação eclesial; que contenha não apenas gestos sacramentais
da comunidade cristã, mas também a promoção da justiça e libertação; que se
configure não só como caminho da comunidade cristã “para” o mundo, mas também
como acontecimento “no” mundo, no qual Deus atua; que se expresse como serviço
e solidariedade, anúncio e testemunho, diálogo e cooperação ecumênica, comunhão
com Deus e os irmãos.
Evangelizar é cuidar, sustentar, defender e promover a vida
em suas múltiplas expressões. É tudo que educa, humaniza, enobrece, aperfeiçoa
e ajuda a crescer. É suscitar esperança e semear a paz no meio da violência e
dos conflitos, é buscar a fraternidade e o bem comum; é criar condições de vida
digna com oportunidades iguais, é descobrir as necessidades e se solidarizar,
sobretudo com os pobres e sofredores.É promover a comunhão entre as pessoas e
destas com as demais criaturas, pois todas vêm do mesmo Deus-comunhão.
Leitura comparada do Syllabus com a Gaudium et Spes.
A constituição GS foi o marco referencial do reatamento das
relações da Igreja com o mundo; um passo na reconciliação com a modernidade,
com a qual a Igreja havia rompido definitivamente através do Syllabus. Desse
modo, enquanto o Syllabus foi o ponto culminante da ruptura do dialogo
Igreja-mundo , a GS fundamenta e reata o dialogo. Ao contrario da Syllabus que
quer se impor ao mundo moderno como mestra da verdade, a Igreja da GS se
oferece aos Homens sem o desejo de dominação; oferece seus bens próprios como
resposta às aspirações do mundo moderno. A Igreja da GS aceita a condição
fundamental para o dialogo,pode-se perceber tal fato em alguns pontos:
Sem clericalismo que
absorva o “próprio mundo” a Igreja quer reencontrar, com os Homens, os valores
autênticos do mundo; - Oferece Cristo enquanto solução dos problemas da cidade
terrestre, ensinando, e por outro lado, aceitando também ser ensinada; - É Uma
Igreja atenta à ação de Deus na História ... .
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