CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE ANGOLA
E SÃO TOMÉ
MENSAGEM PASTORAL FAMÍLIA
E CULTURA
INTRODUÇÃO
Depois de estudados, meditados e vividos, nos anos transatos, os
temas sobre «Família e Matrimónio» e «Família e Reconciliação», dentro do
respectivo triénio pastoral, sob o lema «Família levanta-te e caminha» (cfr. As duas Mensagens anteriores),
propomos, para este ano, Família
e Cultura, sabendo quanto a cultura é importante para uma
sociedade.
A família, que não é apenas a "célula" fundamental da sociedade,
possui uma fisionomia peculiar, que alcança a sua primeira e fundamental
confirmação, e consolida a sua identidade de «santuário da Igreja doméstica»,
quando os membros da família se encontram na invocação comum do
"Pai-nosso". De facto, esta oração reforça a estabilidade e a solidez
espiritual da família (cfr.Familiaris
Consortio 55).
No plano de Deus Criador e Redentor, a família descobre não só a
«identidade», o que «é», mas também a «missão», que pode e deve «fazer»,
tarefas estas que brotam do seu próprio ser e são a expressão do seu
desenvolvimento dinâmico e existencial (G.S.
48). Doutro modo dizendo, a família está chamada a tornar-se cada vez mais
comunidade de vida e de amor, numa tensão que encontrará a sua plena perfeição,
como toda a realidade criada e redimida por Deus (ibid.).
1. A FAMILIA COMO INSTITUIÇÃO NATURAL E CULTURAL
Desde o início da humanidade, a família é a instituição humana
mais universalizada no tempo e no espaço, sobre a qual assenta o processo de
humanização. A família, assim, é tão antiga quanto a própria cultura; tendo
deste modo uma dupla condição de ser uma instituição ao mesmo tempo natural e
cultural (G.S.
52).
A palavra “cultura” indica, antes de tudo, a relação do homem
com a natureza. Por ela, ele aprende a descobrir, a compreender e a dominar o
mundo em que se encontra (G.S.
53), a desenvolver-se e a relacionar-se com os outros bem como a
construir incessantemente um ambiente tipicamente humano no qual, com livre
abertura aos demais, há um reciproco e consciente auxílio.
É por isso que a família constitui uma instituição natural, na
qual e através da qual o homem aparece como o colaborador mais vizinho de Deus
em toda a criação. Na família, o amor recíproco dos esposos é o prolongamento
do amor de Deus, em que o homem e a mulher se aceitam um ao outro, nas suas
diferenças, no dom recíproco dos seus corações e dos seus corpos, num amor que
cresce incessantemente.
Fundada pelo próprio Criador, a família entra assim no plano de
Deus Criador e Redentor (Familiaris
Consortio 17) e o seu sentido antropológico-cultural é plenificado
situando-se nas coordenadas do entendimento da história humana como sendo
história de salvação. Sem deixar de ser uma instituição humana, a família
insere-se num universo compreensivo no qual a presença de Deus revelado em
Cristo se torna operante também na realidade familiar. Daí, o seu ser cultural,
por ser uma reciprocidade de pessoas, uma relação de abertura que exige
responsabilidade.
A Igreja ensina que a família não é um mero produto da cultura
humana, para defender a sua perenidade e prioridade junto de todas outras
instituições, até mesmo a do Estado que a deve proteger e promover. Ela é a
primária na vida das pessoas, mesmo se submetida às transformações
sócio-culturais.
Primeira célula da comunidade humana, a família vive a partir da
força do amor e, por isso, vivificando tudo no modo mais perfeito com o
espirito de amor, é lugar de apoio de toda a cultura, onde se transmite o
precioso mas delicado património das tradições culturais, que se devem deixar
iluminar pela verdade de Cristo, onde se encontra a salvação eterna da pessoa e
da família.
2. O CONFRONTO COM AS CULTURAS
Hoje há uma concepção antropológica deformada, a defender uma
ideologia que deixa entender o homem como resultado puro da cultura. O homem
não se percebe mais como um dom
oferecido a si mesmo, com um ser que lhe próprio, mas como alguém que se cria a
si mesmo (Cfr.Bento XVI, Caritas
in Veritate, 2009).
Sendo um ser cultural, a pessoa tem especificidades apropriadas
à sua natureza criada por Deus (Gén.1,
26), imutável, querida pelo próprio Criador, que lhe deu assim uma abertura, e
uma vocação transcendental e universal, mas, como Deus criou o homem para
formar uma família, uma comunidade, levou a que Cristo, a Eterna Palavra do Pai
veio a encarnar participando da família e cultura humanas (Cfr.G.S. 32).
Deus se revela ao homem assumindo linguagens, imagens e
expressões ligadas às diversas culturas, gerando valores morais fundamentais,
expressões artísticas magníficas e estilos de vida exemplares. O importante é
que a cultura se abra à Palavra de Deus, para servir verdadeiramente o homem
(cfr. Bento XVI, Verbum
Domini 109), e se cultivar com particular cuidado o diálogo com as
culturas, na confiança de encontrar em cada uma delas “as sementes do Verbo”,
de que falavam os antigos Padres” (Mensagem
final dos Padres Sinodais, no Sínodo sobre Nova Evangelização, 27
de Outubro de 2012)).
Num mundo de rápidas transformações sócio-culturais, onde a
família parece ganhar contornos diversificados, com doutrinas que a querem
destruir, é preciso em Angola ouvir a exortação de Bento XVI:
“ A África vive um choque cultural que ameaça os alicerces
milenários da vida social e, por vezes, torna difícil o encontro com a
modernidade. Nesta crise antropológica com que se debate, o continente africano
poderá encontrar caminhos de esperança instaurando um diálogo entre os membros
dos seus diversos componentes religiosos, sociais, políticos, económicos,
culturais e científicos. Para isso terá necessidade de encontrar e promover uma
concepção da pessoa e da sua relação com a realidade assente numa profunda
renovação espiritual (Cfr. Africae Munus 11).
3. A DEFESA E A PROMOÇÃO DA FAMÍLIA NA IGREJA CATÓLICA
A família, que nasce da íntima comunhão de vida e de amor
fundada no "matrimónio entre um homem e uma mulher", possui uma
dimensão social própria, específica e originária, enquanto lugar primário de
relações interpessoais. Como célula
primeira e vital da sociedade, ela é uma instituição divina que
está colocada como fundamento da vida das pessoas, como protótipo de todo
ordenamento social. Aliás, esta perspectiva é uma das constantes do Magistério
(cfr. A Igreja em Angola
entre a Guerra e Paz, Documentos Episcopais 1974-1998, PP. 102-120
e 415-422)
Este dado faz
da família o centro e o coração da civilização do amor. Primeira e
fundamental estrutura a favor da “ecologia humana” é a família, no seio da qual
o homem recebe as primeiras e determinantes noções acerca da verdade e do bem,
aprende o que significa amar e ser amado e, consequentemente, o que quer dizer,
em concreto, ser “uma pessoa”( Compêndio
da Doutrina Social da Igreja, p. 131).
A experiência mostra como é importante o papel de uma família
coerente com a norma moral do homem, que nela nasce e se forma. Nos nossos dias,
infelizmente, vários programas sustentados por meios muito poderosos parecem
apostados na desagregação das famílias.
Às vezes, até parece que se procura, por todas as formas
possíveis, apresentar como "regulares" e atraentes, conferindo-lhes
externas aparências sedutoras, situações que, de facto, são
"irregulares", como o confirmam hoje tantas tendências e situações
gravíssimas, como é o caso do tráfico de crianças, trabalho infantil, crianças
fora do ambiente familiar, maternidade e paternidade precoces, uso de crianças
para o comércio de material pornográfico, também através dos mais modernos e
sofisticados instrumentos de comunicação social. A Igreja debruça-se com afectuosa solicitude
sobre quantos sofrem de tais situações, bem consciente como está do papel fundamental
que a família é chamada a desempenhar.
A Igreja reconhece que a família, mais do que uma unidade
jurídica, social e económica, constitui uma comunidade de amor e de solidariedade,
insubstituível para o ensino e a transmissão dos valores culturais, éticos,
sociais, espirituais e religiosos, essenciais para o desenvolvimento e o
bem-estar dos próprios membros e da sociedade. Neste sentido, este dever
primário da família, não pode ser descurado nem delegado (Carta dos Direitos da Família,
p. 6)
No exercício das suas funções a família, como outras instituições,
há-de ater-se ao princípio de subsidiariedade. Por força de tal princípio, as
autoridades públicas e políticas não devem subtrair à família aquelas tarefas
que ela pode bem perfazer sozinha ou livremente associada a outras famílias;
por outro lado, as autoridades têm o dever de apoiar a família,
assegurando-lhe todos os auxílios de que ela necessita para desempenhar de modo
adequado todas as suas responsabilidades. A sua íntima relação impõe que
"a sociedade não abandone o seu dever fundamental de respeitar e de
promover a família". Isto requer que a acção política e legislativa
salvaguarde os valores da família, desde a promoção da intimidade e da
convivência familiar até ao respeito pela vida nascente, à efectiva liberdade
de opção na educação dos filhos.
4. A FAMILIA EM ANGOLA
O facto de termos recebido Cristo e o seu Evangelho desde há 500
anos devia-se traduzir em usos, costumes e hábitos iluminados pelo Evangelho.
Neste Ano da Fé, em que toda a Igreja é convidada a aprofundar a própria vocação
cristã, vejamos como nós, angolanos, vivemos a nossa realidade da família.
4.1. ASPECTOS POSITIVOS DA FAMÍLIA AFRICANA
Veneração dos
antepassados.
Nas culturas e nas tradições africanas sabe-se que a organização da sociedade é
feita pelas linhagens, clãs e etnias e os membros descendem de um comum tronco
ancestral, que os mantém unidos e protege as suas vidas. Daí, o dever de os
venerar.
Amor e
abertura à vida. O africano ama a
vida, por ser um dom de Deus. Sobrevive na linhagem que não pode ser
interrompida, participando através da procriação deste nobre acto, que
transcende o simples aspecto biológico carregando-se de um profundo significado
espiritual.
O valor
da família alargada. Como na abertura
à vida, diminui-se a dimensão fisiológica da procriação, que pode consistir no
mero dar a vida à criança, mas sim numa paternidade e maternidade que passam
pela responsabilidade, consciência, amor e dedicação dos pais e dos irmãos
destes e de outros membros da família.
Hospitalidade. Entendida como comunhão, a família africana tem um estilo de
vida comunitária, que permite o trabalho em comum, o perdão mútuo, o amor, o
acolhimento, a solidariedade clánica e a coesão étnica, a solicitude, a
generosidade e o respeito aos anciãos que nunca são acantonados num lugar de
solidão, mas, quais guardiães dos valores ancestrais, devem continuar na
família para os transmitirem às jovens gerações.
4.2. CONFRONTO DAS NOSSAS CULTURAS COM O EVANGELHO
Aberta ao amor e ao respeito pela vida, a família, vem a ser uma
realidade carregada de transcendência e de profundo significado, para o
presente e para o futuro de Angola. Primária e basicamente monogâmica (cfr.Gén. 2, 18-2), por causa
da unidade dual entre a mulher e o homem, mostrando que a família é a imagem da
Divina Trindade, unida no amor e na comunhão (Cfr. Familiaris Consortio 18), nem sempre na nossa
cultura angolana ela foi assim vivida, já que sendo uma realidade humana,
passível de erros e enganos, por causa do “mistério da iniquidade”, a família
angolana apresenta alguns erros, que se radicaram na nossa sociedade e que
passamos a elencar:
Poligamia. Enraizada na nossa sociedade, este modo de perceber e viver a
beleza da família destoa do modo original, querida pelo Evangelho, e até mesmo
da multissecular e genuína tradição angolana. Defender a poligamia não é
favorecer o crescimento sadio da nossa sociedade, sobretudo pois todos somos
testemunhas da desagregação do tecido familiar que ela tem provocado, e seria
regressar a uma fase de desenvolvimento social que já foi superada pelo
Evangelho.
Amigamento. Fruto da sociedade contemporânea que teme a definitividade nas
relações e nos compromissos, ele demonstra a fraqueza de mulheres e homens de
hoje que os leva a experiências temporais e ocasionais. Explicam-se, por isso,
as “uniões de facto” que muitas sociedades hodiernas querem tornar
juridicamente legais. O aumento das uniões de facto é também consequência do enfraquecimento
da fé cristã.
Alambamento. Longe de representar a sua carga e riqueza simbólicas, hoje,
por causa da tendência mercantilística actual, constata-se que certos pais e
parentes da noiva se servem desta prática para enriquecerem, o que não é justo,
nem aceitável e nem respeita a dignidade da mulher.
Questão das
heranças.
Sabe-se que na concepção africana bantu, a importância da família vem pela
parte uterino-matrilinear. Isto tem introduzido nas nossas comunidades uma
situação nada abonatória para o bem da família. Há, filhos e esposas que
ficaram viúvas, que ficam privados privados dos bens deixados pelo pai e
marido, porque a família deste alienou e se apropriou de tudo.
Mentalidade feiticista
e acusações de feitiçaria. Maléfica e
contrária à fé e harmonia familiar, esta mentalidade é também nociva à vida,
por paralisá-la e não permitir o desenvolvimento do nosso povo e da nossa
terra, ocasionando acusações infundadas até de crianças inocentes e de velhos
inofensivo. Reputamos isto como grande obstáculo à fé no ano em somos
convidados pelo Papa, a atravessarmos aquela porta que implica, o metermo-nos
num caminho para toda a vida, levando-nos a professar a Fé na Trindade-Pai,
Filho e Espírito Santo, e a crermos num único Deus que é AMOR (cfr.Bento XVI, Porta Fidei).
Para terminar, deixamos algumas recomendações, esperando que
cada Diocese faça as adaptações e os aprofundamentos adequados ao seu contexto
cultural
-Defender o Primado da Família e a responsabilidade da
procriação. A família em Angola, graças a Deus, tem ainda a peito o valor
dos filhos, que leva o africano bantu, a tomar parte daquela “participação
vital” que é a procriação. Mas deve-se considerar a maternidade e a paternidade
como valores invioláveis a defender.
Uma boa preparação para a família deverá ter em conta os métodos
de regulação da natalidade, rejeitados pela Igreja, os quais privam o amor da
mulher e do homem do verdadeiro sentido da sexualidade, entendida como doação,
na diferença dos seus corpos; por isso, a homossexualidade é condenada por
Deus, pois ela mata a família, na sua compreensão e no seu mistério profundos,
ao passo que a heterossexualidade faz parte da própria natureza da pessoa
humana.
-Boa preparação para o Matrimónio. Deve-se encorajar nas
comunidades paroquiais e nas Missões, particularmente em zonas com práticas do
casamento tradicional, que a Igreja promova uma catequese aos jovens sobre o
Namoro. Também se deve fortalecer os CPM (Cursos
de Preparação Matrimonial) para os noivos, tendo em conta a
realidade cultural de cada região. Estas iniciativas se devem encaminhar para a
celebração do Sacramento do Matrimónio, particularmente, os amigados.
-Combater toda a mentalidade feiticista. Importa compreender a
nocividade das crenças feiticistas, quer para o desenvolvimento das pessoas,
quer para o desenvolvimento do nosso povo.
A nós Bispos de Angola, na nossa visita Ad Sacra Limina, no ano passado, o
Papa disse-nos: “convinha um
esforço conjunto das comunidades eclesiais, provadas por esta calamidade- a da
feitiçaria- procurando determinar o significando profundo de tais práticas,
identificar os riscos pastorais e sociais por elas veiculados e chegar a um
método que conduza à sua definitiva erradicação”.
O que se tem de fazer, então, é convencer-se e ter consciência
de que sem Cristo a vida é incompleta e falida pois Cristo é fundamental para a
autenticidade da nossa vida.
Por isso, os “Novos Movimentos” da Igreja e os sacerdotes que se
dedicam às curas devem trabalhar bem na síntese entre o Evangelho e a cultura,
evitando aquele sincretismo que prejudica a fé. Tenham em devida conta, os
sacerdotes que exercem o ministério da cura nas Dioceses tenham em conta os
aspectos psicológicos e doutrinais bem como o equilíbrio afectivo-emotivo no
seu importante mas delicado múnus, porque se deve saber que as pessoas sofrem
medos diversos tais como o do desemprego e o da violência. A guerra deixou nas
suas vítimas muitas sequelas. Por isso é cada vez mais oportuno apresentar
Cristo como divino “Médico da humanidade”.
-Construir a grande família angolana: Nós angolanos somos uma
grande família de Deus (cfr.Africae
Munus 3 e 7), mas devemos sê-lo em Cristo “Nosso Primogénito”, o
Filho de Deus que partilha a sua filiação connosco, introduzindo-nos na vida da
Trindade, o que não é mera aplicação de determinados conceitos antropológicos,
mas sim expressão da verdade da Igreja e da sua identidade que partilha a vida
do Deus Uno e Trino através de Cristo, que nos revela o seu Evangelho e nos
manda proclamá-lo, para sempre sermos uma Família irmanada no amor.
- Criar e
fortalecer nas Dioceses as Comissões da Pastoral da Cultura, com o
fim de apresentar Jesus Cristo como plenitude da realização de todo homem e
mulher, paradigma de toda a atitude pessoal e social, e bem assim como resposta
definitiva aos problemas que afligem tantos angolanos: o feitiço, a pobreza, a
falta de amor, de emprego, o desaparecimento de sãos costumes e autênticos
valores do nosso povo angolano e sobretudo facilitar o diálogo fé e cultura e
promover uma inculturação do Evangelho, aprofundando e estudando valores das
nossas culturas que chocam com as concepções cristãs da vida.
CONCLUSÃO
Amados cristãos, a cultura, como vimos, não é tudo, não é um
património imutável, intocável e incorrigível, nem é necessária e intrinsecamente
boa. Enquanto produto da criatividade humana, no exercício da sua liberdade,
pode veicular práticas boas ou más, edificantes ou estagnadoras, libertadoras
ou escravizantes, vivificantes ou mortíferas, de convívio ou de hostilidade.
Ela está e deve estar sempre ao serviço da promoção integral da pessoa humana e
não o contrário.
A cultura é um bem social que está sempre em marcha,
acompanhando o dinamismo do crescimento humano. Por isso, deve ser
continuamente avaliada, renovada e desenvolvida, a fim de cumprir cabalmente a
sua missão: humanizar sempre mais o homem, isto é, torná-lo mais imagem e
semelhança de Deus, mais reflexo da beleza e do amor de Deus, mais cultor de si
mesmo para projectar nos outros e na sociedade o que de mais rico, nobre e
divino ele é e possui.
Assim, todas aquelas práticas culturais que não concorrem para
este fim são perniciosas. Portanto, não devem ser cultivadas nem assumidas.
Pura e simplesmente. Entram na categoria de “lixos e venenos” culturais que
matam as pessoas e as famílias desde dentro, esvaziando-as de dignidade, de
ideais, de orientação, de auto-estima e de realização e que, por conseguinte,
devem ser enterrados e banidos da bagagem cultural a veicular e transmitir às
gerações futuras.
É o caso, por exemplo, da crença na feitiçaria que encobre
vários crimes e criminosos (envenenadores), criando um mundo secreto obscuro e
nefasto para o bem-estar das pessoas e respectivas famílias e provocando
degradação e retrocesso nos hábitos e costumes. Impõe-se a coragem, nesta hora,
de dizermos que essa crença é um mal e, como tal, deve ser combatido a todos os
níveis sem preconceitos. Assim fazendo, transformaremos a sociedade angolana
numa grande família unida, irmanada, pacífica, reconciliada, aberta à vida, ao
convívio plural e ao desenvolvimento integral. Transformemos e renovemos as
nossas bases culturais para fazermos resplandecer a beleza da família angolana.
Peçamos a Deus, de modo especial neste ano, o dom da fé, para
que por ela convertamos a nossa cultura num bem para a dignificação das nossas
famílias e da nossa sociedade. Que a Família de Nazaré, Jesus, Maria e José,
nos ajude a vencer esses males e desvios culturais que obscurecem o esplendor
do amor e do compromisso para com Deus e para com os outros.
Maria, Mãe da fé, rogai por nós.
Luanda, 21 de Novembro de 2012
Os Bispos da CEAST