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domingo, 6 de janeiro de 2013


Nota Pastoral
 
Aproblematica da feitiçaria e suas implicações na vida eclesial

A paz de Cristo esteja convosco

Nós, Arcebispos e Bispos de Angola e S. Tomé, estivemos reunidos em Assembleia Geral Ordinária, em Luanda, dos dias 14 a 21 do corrente mês de Novembro de 2012.

Entre as questões ligadas à nossa missão pastoral e às prementes necessidades do rebanho que Jesus Cristo nos confiou, figurou a abordagem da problemática da feitiçaria e das suas implicações na vida eclesial.

Como todos sabem, a feitiçaria é um problema que vem de longe. Mas em nossos dias ganhou proporções tão grandes, que perturba a vida dos cristãos, destrói os laços familiares e afecta as relações entre as pessoas. Não raras vezes, vai ao ponto de até perturbar a ordem pública, devido à prática da justiça privada.

De facto, a feitiçaria perturba a vida dos cristãos, porque está intimamente ligada ao diabo, o qual os tenta a praticar uma religião falsa. Por isso, em vez de levá-los à união com Deus, sua origem e pai de bondade, alicia-os para se deixarem conduzir pelo demónio e a servi-lo como senhor das suas vidas.

Com clareza e sem rodeios, Jesus nos diz quem é o diabo. O diabo diz o Senhor, «é homicida desde o princípio», ele é mentiroso e pai da mentira» (Jo. 8, 44).

O homicida e mentiroso não é apenas inimigo de Deus, mas é igualmente inimigo dos homens. Isto é evidente, tanto para os pequeninos, como para os grandes. E a maior mentira, ligada ao homicídio, e que podemos chamar raiz de todas as mentiras, é aquela que entrou no mundo através do demónio, disfarçado em figura de serpente. O diabo levou os primeiros pais da humanidade a desobedecerem ao Criador, com a promessa de eles também virem a ser como Deus (Cf. Gn 3, 5).

Depois de ter seduzido os nossos primeiros pais, mais tarde, atreveu-se a tentar o próprio Jesus Cristo, nosso Salvador. Fez isso precisamente no tempo em que o Filho de Deus Se preparava para anunciar a todas as mulheres e a todos os homens a verdade e o dom da salvação, a receber mediante a mudança de vida e a obediência à Sua Palavra.

Hoje, não queremos tratar detalhadamente do problema do feitiço. Tocaremos apenas nalguns dos pontos principais, como início do que iremos desenvolver num tempo posterior.

Desde tempos imemoriais, a África, em geral, nomeadamente a nossa querida Mãe-Pátria, Angola, acredita em um só Deus, Criador de todos e de todas as coisas. Entretanto, enquanto a África não conheceu o Evangelho de Cristo, a fé num Deus único frequente vezes andou ofuscada por uma sombra que geralmente passou a chamar-se feitiçaria.

A feitiçaria tem muito a ver com o problema da vida. Em África, como noutros continentes, tornou-se provérbio a frase de que acima de tudo importa a vida. Esta precisa de sustento num sentido muito variado. Sustento quanto ao alimento corporal e espiritual, sustento quanto ao vestir, bem como no que se refere às necessidades fundamentais que lhe são ligadas.

A busca exagerada de tudo isto, arrasta as pessoas para a idolatria do ter por ter, para a adoração daquilo que Jesus chamou Mamona, em vez de Deus, fonte de todo o bem material.

As consequências são evidentes. Uma vez que se troca Deus pelo dinheiro, a imagem de Deus, que é a pessoa humana, fica tratada da mesma maneira, e é trocada pelos bens materiais. E como se isso não bastasse, o feiticeiro não hesitará em sacrificar a vida dos outros, sem mesmo excluir a dos seus familiares. Realmente, quando atinge o ponto extremo, a tentação para os bens materiais torna-se assassina.

A primeira tentação, com a qual o diabo experimentou Jesus, tem a ver com o que acabamos de dizer. «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães». As palavras do diabo nada têm a ver com a relação filial de Cristo com Deus. O que o demónio pretende é desviá-Lo do jejum com que Ele honrou a vontade do Pai como Seu maior alimento, de preferência ao sustento corporal. A resposta que deu ao tentador constitui exemplo para todos, especialmente para nós, Seus discípulos: « Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 5).

Nessa resposta há um aspecto que convém reter. Jesus não diz: Mas também, porém diz simplesmente: «Mas de toda a palavra que sai da boca de Deus». Com isto, Ele ensina que a busca dos bens materiais deve submeter-se à procura da vontade de Deus, Autor de todos os bens. De contrário cai-se no culto dos bens materiais, na idolatria da riqueza.

E a procura e conservação desmedida dos bens materiais conduz à crueldade. Nas línguas do nosso País essa feitiçaria tem um nome próprio.

A feitiçaria está ligada à soberba da vida, à grandeza isolada e cheia de presunção, e não admite outra grandeza além da própria. O diabo tentou Cristo dizendo: « Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo» (Mt 4, 6). Mas Jesus respondeu: «Não tentarás o Senhor teu Deus (Mt 4,7).

Feitiçaria e procura do domínio absoluto sobre os outros caminham de mãos dadas. Isto nos faz lembrar a terceira tentação do demónio contra Cristo: “Mostrando-lhe todos os reinos com a sua glória, (o diabo) disse-lhe”: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares» (Mt 4, 8-9). Jesus reage prontamente: «Vai-te, Satanás, ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás culto» (Mt 4, 9-10).

Finalmente a feitiçaria usa dos adivinhos e de envenenamentos. Perante o problema do mal, nomeadamente o da morte; diante de acontecimentos cujas causas se desconhecem, a feitiçaria recorre aos adivinhos; estes constituem uma fonte inesgotável de crimes de vária espécie; têm como ponto central a mentira e a calúnia, os quais conduzem à destruição moral e física de inocentes, mesmo de crianças e até dos próprios filhos.

Há envenenamentos que se fazem às escondidas e outros há que se realizam publicamente. Os envenenamentos públicos obedecem a uma cerimónia com que se finge descobrir o responsável de um crime passível de morte, constrangendo-o a ingerir o veneno em quantidade mortífera. Tal envenenamento possui diferentes nomes, segundo a diversidade das nossas línguas:

O que dissemos até agora parece claro. Entretanto, poderia alguém insistir, perguntando: Por que aludir às tentações de Cristo, estando nós a tratar do problema da feitiçaria? Até porque, como diz o Apóstolo S. Pedro, «Cristo não cometeu pecado e na Sua boca não se encontrou mentira» (1 Pt 2, 22).

- Fazemo-lo precisamente porque, como cristãos, estudamos o assunto à luz de Cristo. Cristo ilumina os caminhos da nossa viagem para Deus, nosso Pai e Pai de todos os homens. E se Ele permitiu ser tentado, foi para nos dar o exemplo de resistência ao diabo. Tal exemplo vale para todos, cristãos e não cristãos, porque o Filho de Deus veio à terra para a salvação de todos.

O diabo tem medo de Cristo e teme igualmente os que acreditam em Jesus e n’Ele confiam. Não tenhamos medo do diabo. A isso também nos exorta o Apóstolo Tiago, dizendo: «Resisti ao demónio e ele fugirá de vós». Em cada pessoa humana, baptizada ou não, Deus ama e protege a Sua imagem. Por isso, dizemos com S. Paulo: «Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?» (Rm 8, 12 ).

Radicados na fé e na caridade que vem do coração de Deus, proclamamos solenemente: a feitiçaria é incompatível com o nosso baptismo, é contrária à vocação da vida consagrada mediante o sacerdócio ou a profissão dos Votos evangélicos. Toda a pessoa que vai consultar o feiticeiro ou o advinho comete um pecado grave contra o Primeiro Mandamento, e não pode ir à comunhão sem antes se confessar, com arrependimento e propósito firme de emenda.

Somos chamados a viver na liberdade gloriosa e alegre dos filhos de Deus e à participação na vida divina, que Cristo nos trouxe.

Neste Ano da Fé, vamos purificar-nos de tudo quanto a possa abnubilar, muito especialmente da mentalidade feiticista.

Venha em nosso auxílio Maria, Mãe da Igreja, nosso exemplo e educadora na fé.

 

Luanda,21 de Novembro de 2012

Os Bispos de Angola e São Tomé

 

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