Ser testemunha no início do mundo.
Calma, não é uma nova exegese do mandato missionário de Jesus: “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda Judéia e Samaria e até aos confins do mundo” (At 1,8) mas uma crônica das partilhas amigáveis e informais com outros brasileiros que estão radicados aqui no extremo oriente de Angola, em relação ao Brasil, é o início do mundo.
Este mandato missionário (At 1,8) significa ser testemunha da ressureição é o convite para a Igreja ser sinal de esperança luminosa que dá sentido e orientação a todo caminhante. O mundo não é um túnel, mas contemplamos a luz “e esta luz é claro que é Jesus”! Os que percebem a luminosidade por primeiro tem a missão de comunicar alegremente a Boa Notícia, o Evangelium.
Contemplar por primeiro os raios do sol dá a certeza que estamos indo em direção do início do mundo, Mama África se abre sorridente qual criança que percebe a chegada do colo acolhedor da mãe. Ver o nascer do sol primeiro da certeza da esperança “ainda é noite, mas a madrugada de anuncia, “assim esperamos mais pelo o Senhor do que o vigia espera pela aurora” desde a manhã preparo uma oferenda e fico Senhor a espera do seu sinal e fico Senhor a espera do seu sinal...”
“Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”. Aqui no início do mundo se concretiza esta afirmativa de Jesus, haja visto que só agora estão chegando direitos (educação, meios de comunicação, saúde, estradas, lazer...) a muito conquistado por aqueles que olham o sol em segundo lugar.
Na tempera dos desbravadores são forjados os amigos e amigas de Deus.
Foi com alegria que recebemos a boa notícia que uma empresa de brasileiros estava vindo realizar um destes direitos por aqui, a estrada.
Chega um , chega outro... assim ficamos atentos para saber quando estes brasileiros chegariam de vez, olho na estrada ouvidos atentos...até que um belo dia se ouve o burburilho em Cavungo “os brasileiros estão chegando”... o comboio saiu de Chitembo ,no fim de Angola, perto do Atlântico passando por Luanda em direção ao início, Cazombo. O comboio se movimenta de acordo como que transporta, estão juntos para entreajuda e para segurança, na etapa final da Viagem, Luau Cazombo, dormiram na estrada devido as péssimas condições da estrada...pela manhã foi aquele barulho, criança correndo, povo na beirada da estrada olhando a passagem do comboio...nós também estavamos a olhar a cara dos brasileiros que passavam, até que um resolveu parar...e foi aquele abraço tipicamente brasileiro, afetuoso, apertado, quase partindo o outro ao meio... para espanto de alguns: “tem brasileiros neste fim de mundo”...não sabia ele que aqui é o inicio do mundo... como é bom um abraço brazuca.
Entre abraços e conversas fomos aprofundando a amizade, pois um brasileiro atrai outros brasileiros...assim foi brotando um cafezinho, o cuz-cuz, o “suco de cevada” o bode cozido, a panelada, o vapor de garapa”, o blend...,a sala VIP onde temos acesso a internet nos inserindo nesta grande aldeia global... o que era falta tornou-se excesso, na casa das irmãs, na missão, onde foram acolhidos os primeiros trabalhadores... a carne ficava congelada, colada na arca, as latas de gasosa explodiam, a água congelava...era a energia elétrica 24 sobre 24... na cumplicidade da alegria e da festa por estarmos no início do mundo, Cazombo já não é mais o mesmo.
Durante as conversas ouvimos a expressão: “o comboio esta a passar, aproveite, não fique só a olhar”. Expressão é carregada de muito sentido, foi dita por um dos responsáveis pelo gerenciamento do contrato de construção da estrada “Cavungo – Cazombo – Lumbala Kakengue, da empresa Queiroz Galvão, a metáfora se refere ao movimento do maquinário para construção da estrada e de todo suporte logístico como residência para funcionários, oficinas, laboratórios, refeitórios...
A expressão “o comboio esta a passar” foi ganhando contornos surpreendentes e ficando mais clara, pois os que gerenciam a construção da estrada estão também interessados na reconstrução das pessoas.
Percebemos uma mudança de paradigma, pois uma empresa transnacional movida pela ideologia capitalista se revela preocupada com a qualidade de vida das pessoas, o desejo de crescimento cultural e profissional dos filhos da terra... na valorização da pessoa esta a oportunidade de contemplar o mundo com os próprios olhos, assim foi realizado o projeto: “Cinema de graça – a Graça que faz um filme”, sendo projetados filmes pelo “data-show” dentro da igreja, todo sábado, para alegria de muitos que não tem oportunidade nem de ver televisão, percebemos com clareza que uma imagem vale mais que mil palavras, aqui no início do mundo, poucos tem compreensão necessária da língua portuguesa para acompanhar os diálogos do filme, mas vibram com as imagens...isso nos faz perceber a força do testemunho dos que anunciam as maravilhas que Deus fez a todo ser humano; também foi facultado para os funcionários que trabalham na cozinha, que serve a empresa, um aprofundamento das práticas de higiene e bons cuidados na alimentação... ainda abriram as portas da oficina onde aprendermos um pouco de mecânica para ajudar em nossa missão... isso porque estamos no início do mundo... dai percebemos que estes funcionários da Queiroz não estão só fazendo estradas, estão construindo caminhos... Caminhos de integração, de oportunidades, de amadurecimento cultural e econômico, de superação do tradicionalismo que impede a percepção critica da realidade que se vive... afinal, estamos no inicio do mundo.
Quando se ouve o barulho de uma viatura, as pessoas olham para saber quem é, qual direção está seguindo, o que esta transportando, pois aqui, no início do mundo, onde o transporte é escasso, não se perde a oportunidade de uma “boleia”. Estamos pegando boleia neste comboio construtor de caminhos também.
Um brasileiro atrai outros brasileiros, assim foram e estão chegando outros, que na simplicidade da acolhida, na alegria da partilha fortalecem este vinculo de amizade.
Aos poucos fomos sendo desmistificados pelas atitudes destes funcionários que não almejam o lucro a todo custo, mas são humanizados, são homens de boa vontade, manifestam a religiosidade nas atitudes e buscas. Fomos também desmistificando estes novos amigos da forma de viver a religiosidade, da proximidade de ser e viver o ministério ordenado, nos diálogos sobre a religiosidade que supera qualquer apologética “quem diria que iriamos encontrar padres neste fim de mundo para conversar deste jeito” ele ainda não descobriu que aqui é o início... “as coisas estão acontecendo, só por Deus mesmo, tudo esta dando certo, os problemas vão se resolvendo, eu encontro a pessoa certa no lugar certo, cada vez eu tenho mais consciência de que não posso fazer nada de errado, Deus é bom demais comigo”...isto porque estamos no início do mundo.
A Providência Divina, não a sorte, acompanha os que se doam com gratuidade ao serviço do próximo. Perde quem espera segurança para se lançar onde as dificuldades são aparentes. O convite é para ir mais adiante – aos confins do mundo, estamos é no início.
Jesus dá demonstrações de ser extremamente paciente com nossas inseguranças, fez convite a Pedro para ir ao seu encontro andando sobre as águas, Pedro ao sentir-se inseguro afundou, Jesus segurou sua mão...homem de pouca fé, porque duvidaste?...
Nestes tempos de novidade antiga na Igreja com renúncia de Papa e eleição de Papa latino americano, segundo ele mesmo, vindo do fim do mundo, a Argentina, jesuíta de espiritualidade franciscana...e nós aqui, no início do mundo...
Recebemos um comunicado de nosso bispo D. Jesus Tirso Blanco, argentino, do fim do mundo: “Caríssimos padres do extremo oriente: Como sabem, as irmãs Franciscanos de São José irão chegando aos poucos em Cavungo...” “ouçamos todos boa notícia quem vem da vida que vem do amor...” um brasileiro atrai outros...esteve visitando Cavungo a Ir. Berenice (brasileira) da congregação das irmãs franciscanas de São José, viu, ouviu e amou... já estão em Angola, mas só olham para o sol depois de nós, assim querem vir para o início...perde quem não vem... Muitos são chamados...
Ser testemunha no início do mundo implica abertura e acolhida ao imprevisto, cultivo de dupla medida de criatividade e o ingrediente principal, a celebração da amizade. Podemos afirmar como São Francisco: "E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer...”.
Estar no início do mundo implica despojamento, seja dos que aqui estão motivados pela fé ou que estão por motivos profissionais, despojamento este que não significa sofrimento, mas consciência da celebração das perdas de algumas conquistas econômicas e sociais para acolher outros valores que são importantes no amadurecimento da própria identidade tais como; entreajuda; cultivo da saudade; paciência para escuta; importância da presença, mesmo silenciosa; profundo senso de solidariedade e de valorização do tempo e do espaço.
Pe. Renato Dutra Borges, sdn
"Os que percebem a luminosidade por primeiro tem a missão de comunicar alegremente a Boa Notícia, o Evangelium.
ResponderExcluirContemplar por primeiro os raios do sol dá a certeza que estamos indo em direção do início do mundo, Mama África se abre sorridente qual criança que percebe a chegada do colo acolhedor da mãe." Que bela cônica.Amei conseguiu transmitir muito bem o sentimento de estar aí.. mama áfrica! obrigda, abraços!!
Renato, que lindo! Quanta riqueza neste testemunho! Fico muito feliz e uma inveja (branca) por vocês terem esta oportunidade! Se esta tudo caminhando bem é sinal de que nossas orações estão sendo válidas.Continuaremos!
ResponderExcluirUm forte e caloroso abraço como o de Kavungo! (Para o amigo e mestre João Lúcio também.)Deus abençoe a todos.
Rose
"A Providência Divina, não a sorte, acompanha os que se doam com gratuidade ao serviço do próximo. Perde quem espera segurança para se lançar onde as dificuldades são aparentes. O convite é para ir mais adiante – aos confins do mundo, estamos é no início."Voltei a ler...uma riqueza impressionante, por sentir tão forte a Providencia Divina no todo da criação...Deus continue abençoando todos voces, com nossa gratidão pela partilha.(Acho que vou ler muitas vezes ainda rs.rs.rs.)
ResponderExcluirFoi muito bom ler e perceber que a presença de uma grande empresa com objetivos unicamente financeiros, possa contribuir de uma forma positiva e construtiva para o desenvolvimento de uma comunidade como essa em que voces desenvolvem um trabalho missionário.Me fez olhar de uma forma nova para a situação. com certeza a presença de voces fizeram a diferença. gratidão mais uma vez pela partilha. Acho até desnecessário desejar uma feliz páscoa para alguém que já teve oportunidade de presenciar a ressurreição por primeiro, no início do mundo, é uma experiência ímpar!! De qualquer modo para não perder o costume, Feliz Páscoa!! abraços!
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