A missão acontece
“É missão de todos nós, Deus chama quero ouvir a sua voz...”
Zé Vicente
A missão é um acontecimento: nas
palavras do pregador, no testemunho dos fiéis, na simplicidade da convivência e
no amor fraterno. Pensar a missão como algo programado, uma tabela ou esquema
determinado não é difícil para nós, pois vivemos num mundo calculista, de razão
instrumental e pragmático; a compreensão da missão como acontecimento supera
tudo isto. A linguagem da vida partilhada é, com frequência, a única palavra
que dispomos. “Se a Palavra se fez Carne, foi também para que a carne pudesse
se fazer Palavra)” (T. Radcliff)
A preocupação com esquemas e
planejamentos favorecem a dinâmica e a organização de nossas ações, não
precisamente para o acontecer da missão que, como obra de Deus ultrapassa tudo
isto. (Mt 14,14-18)
Considerando que somos pequenos e
frágeis instrumentos do Senhor, na linguagem do profeta somos barro nas mãos do
Oleiro, não compreendemos bem a missão que acontece sem nossos planejamentos.
Não é de se estranhar a preocupação dos missionários e da Igreja com a missão. Como
limitados e frágeis temos de nos reunirmos muito para planejar a missão. Não
queremos que nada dê errado. Eis nossa fraqueza. Queremos mais eficácia na ação
por isso planejamos. Aceitar a missão que acontece segundo os desígnios de Deus
orientado por seu Espírito não é tão fácil para nós. Tanto que é que em nossas
paróquias e Congregações passamos uma boa parte do tempo em reuniões de
planejamentos para missão. Reunimos, reunimos e reunimos. Reunimos até para
certificar se ficou tudo definido na última reunião. Imagina se a missão
dependesse de nossas reuniões para acontecer? Entretanto a missão acontece
também enquanto acontecem as reuniões. Sem a clareza do método e da preparação
Cristo pode evaporar-se , dispersar-se e ser anulado, ficando o missionário
mais importante que a missão. (At 17,16-34)
A missão é de Deus e a vida é
dinâmica, por isso acontece enquanto acontecem tantas coisas em nossa vida. E
nós também temos missão, missão de propagar a missão que e de Deus, e essa
tarefa é nossa, se não a fizermos fará por nós as pedras. Enquanto propagadores
da Boa Nova de Jesus Cristo o Filho de Deus, (Mc 1,1).Em nós a missão acontece,
somos missão enquanto espaço de expressão viva da missão de Deus. Toda a vida
do cristão autêntico é missão, pois, exala o suave perfume da misericórdia de
Deus. Atrai os demais para Deus.
Acolhemos em nós e em toda a nossa
vida a missão que é Deus. É nessa acolhida que a vida se torna missão. O
acolhimento é sinal de aceitação, de compreensão e de cumplicidade. É uma
ruptura e um melhoramento. É um ser mais. Uma doação. É o amor que ganha forma
e expressão. O acolhimento é um misturar-se. É comunidade, partilha fraterna. É
missão acontecendo, é Deus presente. É contemplação. O Espírito de Deus sopra
onde quer, missão cristã [e como vento acontece onde quer, mas deve ser
vivificada por esperanças humanas, por menores que elas sejam. (Mt25)
O acontecer da missão é leveza,
atrai e fascina. Entramos na contemplação e apaixonamos pelo modo simples como
Deus vai ao encontro de cada pessoa em seu universo pluricultural. Não é a
cultura ou as culturas que alimentam a fé e nem a fé quem as alimenta. As duas
se amadurecem e se purificam quando se deixam encontrar. Deus é acolhido no
coração da pessoa e provoca esse acontecimento que simplesmente a envolve,
seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir (Jr20,7). Contemplamos, isto é,
admiramos profundamente essa missão em nós que agora é de todos nós; pela vivência
dos sacramentos e pela profissão de fé.
O mais importante é a missão que
acontece pela ação do espirito de Deus. O missionário e seus esquemas não
tornam a missão mais importante. O missionário é importante enquanto pessoa,
imagem e semelhança de Deus, a atividade missionária que ele exerce é
importante por si mesma. Tão importante que, sem dúvida, merece nossas reuniões
e nossos esquemas, para não desviarmos no caminho proposto pelo evangelho.
É a graça de Deus que tem êxito
em nossa atividade missionária. Pela graça o missionário realiza obras
maravilhosas aos seus olhos e aos olhos da comunidade. Quando o missionário é
bem sucedido em sua missão compete-lhe revisar seus esquemas e agradecer a Deus
a graça concedida para o acontecer da missão. Os esquemas, projetos, programas
de ação missionária servem para balizar nosso agir, é referência para avaliação
posterior. Mas a graça superabunda nossos esquemas.
A missão é de Deus, não
esqueçamos. Ao avaliar um trabalho missionário realizado façamo-lo com o olhar da graça, não dos
cálculos quantitativos. É verdade que viver assim a missão nos põe numa
situação perigosa. A missão acontece na flexibilidade e leveza dos métodos, a
maneira do “bungee jumping” (lançar-se no vazio, amarrado e pendurado por um
elástico), a Missão que envia, só Deus sabe onde, para as realidades humanas e
volta a conduzir a fonte mediante uma força flexível: envio perigoso na
densidade de culturas, necessidades, olhares...e volta apoiado no gancho do
Evangelho para avaliarmos o acontecimento missionário.
"Ao avaliar um trabalho missionário realizado façamo-lo com o olhar da graça, não dos cálculos quantitativos. É verdade que viver assim a missão nos põe numa situação perigosa. A missão acontece na flexibilidade e leveza dos métodos, a maneira do “bungee jumping” (lançar-se no vazio, amarrado e pendurado por um elástico), a Missão que envia, só Deus sabe onde, para as realidades humanas e volta a conduzir a fonte mediante uma força flexível: envio perigoso na densidade de culturas, necessidades, olhares...e volta apoiado no gancho do Evangelho para avaliarmos o acontecimento missionário."È um pulo no escuro sem paraquedas, confiando que Deus proverá a aterrizagem!
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