A
mesa da Palavra e da Eucaristia.
Não
Ignoreis!
A
frase de São Jerônimo — “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” (In
Isaiam, Prologus, PL 24,17); é uma das mais conhecidas do santo e continua
atualíssima na vida da Igreja. Vamos aprofundar sua importância e atualidade em
três pontos: bíblico, teológico e pastoral.
A
Sagrada Escritura é a Palavra de Deus inspirada (2Tm 3,16), que revela o plano
de salvação e encontra sua plenitude em Jesus Cristo, o Verbo encarnado (Jo
1,14). Quando São Jerônimo afirma que quem ignora as Escrituras ignora a
Cristo, ele retoma a convicção dos Apóstolos: Cristo é o centro da Escritura, e
sem conhecê-la não se pode conhecê-Lo verdadeiramente ( Lc 24,27).
Cristocentrismo
bíblico: toda a Escritura aponta para Cristo — o Antigo Testamento como
promessa, o Novo Testamento como cumprimento.
Palavra
viva: ao ler a Bíblia, não encontramos apenas textos, mas entramos em diálogo
com o próprio Cristo vivo, que fala hoje à sua Igreja.
Unidade
da fé: o estudo e a meditação bíblica são indispensáveis para a vida cristã,
porque sem eles a fé se torna superficial, reduzida a devoções ou costumes, mas
sem raiz no encontro pessoal com Cristo.
A
frase de Jerônimo é uma advertência muito pertinente para hoje. Muitos cristãos
ainda vivem um distanciamento da Palavra, limitando sua vida de fé à
participação litúrgica sem aprofundamento bíblico.
Num
mundo marcado por fake news religiosas, espiritualidades superficiais e
interpretações distorcidas, é urgente formar comunidades enraizadas na
Escritura.
O
Papa Bento XVI, na exortação Verbum Domini (2010), retomou essa frase de São
Jerônimo e reforçou: “É impossível compreender a missão da Igreja e da vida
cristã sem referência à Palavra de Deus” (VD 3).
O Papa Francisco, na
Aperuit Illis (2019), instituiu o Domingo da Palavra de Deus, (3º domingo do tempo comum) para recordar que
o contato com a Escritura é parte essencial da identidade cristã.
Ignorar
a Escritura é ignorar a Cristo porque não há separação entre a Palavra escrita
e a Palavra viva. O cristão que não se alimenta da Bíblia corre o risco de
conhecer Jesus de forma parcial ou distorcida. Por isso, hoje, mais do que
nunca, é fundamental redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na
catequese, na liturgia, na vida pessoal e na missão da Igreja.
O
Concílio Vaticano II ensina que, na Missa, “a Igreja sempre venerou as divinas
Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor” (Dei Verbum, 21). Isso
significa que a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística formam um só
banquete: Cristo se oferece na Palavra proclamada e no Pão consagrado.
Portanto,
se ignoramos as Escrituras, corremos o risco de reduzir a Missa a um rito
vazio, sem compreender que é Cristo quem nos fala e nos prepara para a comunhão
com Ele.
Na
celebração eucarística, a presença real de Cristo se manifesta de várias formas
(Sacrosanctum Concilium, 7): na assembleia reunida, no ministro, no pão e vinho
consagrados, e também na Palavra proclamada.
A
frase de Jerônimo recorda que sem acolher a Palavra, não se pode reconhecer
plenamente Cristo presente na Eucaristia: primeiro Ele abre nossos ouvidos,
depois parte o Pão (Lc 24,30-32).
Para
o fiel: aproximar-se da comunhão sem escutar e acolher a Palavra é viver apenas
metade do mistério.
Para a comunidade: a
catequese, a homilia e os grupos bíblicos ajudam a Igreja a unir escuta e
partilha, formando cristãos maduros na fé.
Para
a missão: quem se alimenta da Palavra e da Eucaristia se torna, como os
discípulos de Emaús, testemunha ardorosa que leva a esperança aos irmãos.
Na
Eucaristia, a frase de São Jerônimo ganha força: sem a Escritura, não
reconhecemos Cristo que se doa; sem a Eucaristia, a Escritura fica incompleta
como Palavra encarnada. Ambas se iluminam mutuamente.
Assim, viver a Missa
é deixar que a Palavra prepare o coração para receber o Pão, e que o Pão
consagrado nos impulsione a anunciar a Palavra.
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